Advogado de suspeito preso pede à Justiça que Key Alves, do 'BBB 23', preste depoimento sobre morte de Leandro Lo, campeão de jiu-jítsu
Jogadora de vôlei afirmou no último sábado (4), durante o programa, que testemunhou o crime, o que causou repercussão nas redes sociais.
O advogado do policial preso suspeito de matar Leandro Lo, campeão mundial de jiu-jítsu, protocolou na Justiça nesta segunda-feira (6) uma petição para que a jogadora de vôlei Key Alves, que participa do "BBB 23", preste depoimento sobre a morte do atleta em São Paulo, em agosto de 2022.
Leandro morreu após ser baleado na cabeça durante um show no Clube Sírio, na Zona Sul da cidade. O PM Henrique Otávio de Oliveira Velozo se entregou à Corregedoria e está detido no presídio militar Romão Gomes.
Durante uma conversa com Cara de Sapato, lutador de jiu-jítsu e amigo de Leandro, Key Alves afirmou que testemunhou o crime. A declaração foi feita no sábado (4), dentro da casa do BBB.
"Foi na minha frente, eu vi tudo", disse Key.
Após a afirmação, amigos de Leandro passaram a pedir pelo depoimento de Key na Justiça. "Esperamos seu depoimento para que este assassino apodreça na cadeia", escreveu um amigo nas redes sociais.
"Considerando as graves e inéditas afirmações trazidas pela participante KEY ALVES, requer seja a mesma intimada – com urgência – para ser ouvida na condição de testemunha nos presentes autos", diz a petição assinada pelo advogado do PM, Claudio Dalledone Jr.
Em nota, a SSP afirmou que o crime foi investigado e relatado à Justiça em setembro de 2022, e que a possível reabertura do inquérito policial em caso de novo depoimento, como o de Key Alves, só pode ser feita mediante determinação judicial.
O advogado da família de Leandro Lo disse ao g1 que o testemunho dela pode ajudar no processo.
A assessoria de Key Alves afirmou que ela estava com um amigo e não com o grupo do lutador. Além disso, segundo a assessoria, Key viu quando houve disparo, mas não viu o motivo da briga.
"Ela saiu correndo. Não tem envolvimento com Leandro e nem policial. Ela não viu policial atirando. Não viu o porquê da briga, se foi legítima defesa, se o policial sacou a arma, se o Leandro teve culpa. Ela comentou com o Sapato que viu como todo mundo”, disse a assessoria.
Audiência adiada
A primeira audiência de instrução para ouvir testemunhas foi adiada para 24 de março deste ano.
Conforme o advogado da família de Leandro informou ao g1, a defesa do PM alegou que não poderia comparecer na data que havia sido marcada pela Justiça de SP — dia 3 de fevereiro — por ter compromisso jurídico em Curitiba (PR).
Em março, a audiência será realizada no Fórum Criminal da Barra Funda às 13h30. Serão ouvidas testemunhas de defesa e acusação. Já o policial só será interrogado após todas as testemunhas prestarem depoimento.
Denúncia por homicídio triplamente qualificado
A Justiça aceitou a denúncia do Ministério Público contra o PM Velozo e o tornou réu pela morte do campeão mundial de jiu-jítsu Leandro Lo no ano passado.
Segundo o g1 apurou, o Ministério Público ofereceu no dia 30 de agosto a denúncia contra o policial por homicídio triplamente qualificado.
As qualificadoras do homicídio colocadas pelo órgão foram: por motivo torpe; com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum; e à traição, de emboscada.
A denúncia foi aceita pela Justiça, que também decretou no dia 2 de setembro a conversão da prisão temporária de 30 dias do policial para a prisão preventiva.
Em nota, na época, o advogado de defesa do policial afirmou que "a denúncia é uma hipótese acusatória que destoa completamente do que foi produzido no inquérito policial e o que será desvelado na investigação judicial".
"As qualificadoras são descabidas e tudo isso ficará firmemente provado no momento em que o processo for devidamente instaurado. A conclusão do inquérito policial se deu de forma açodada, uma vez que sequer aguardou-se a produção do laudo da reprodução simulada dos fatos que, entre outras coisas, apresentou inúmeras contradições com os depoimentos das testemunhas."
No dia 31 de agosto, a polícia fez a reconstituição da morte de Leandro Lo. Entre as 16 testemunhas que participaram da simulação do crime estavam os amigos do lutador. Como o policial não foi interrogado pela polícia, ele não esteve presente.
Boate e motel
O SP2 teve acesso às imagens das câmeras de segurança que flagraram Velozo na recepção de uma boate em Moema, também na Zona Sul, instantes depois de ter assassinado Lo, a pouco mais de dois quilômetros dali.
Na boate, o PM parece ter consumido uma garrafa de uísque, duas águas de coco, duas latas de energético e duas doses de gin, de acordo com a comanda, totalizando quase R$ 1,6 mil.
Uma hora e 59 minutos depois, a mesma câmera registrou a saída de Veloso, mas desta vez acompanhado por uma mulher que, segundo o delegado, é uma garota de programa.
Depois, eles foram para um motel, em Pinheiros, na Zona Oeste da cidade. Eles chegaram por volta das 5h40 de segunda-feira (8) e só saíram às 16h26.
Dois amigos próximos do lutador não quiseram gravar entrevista, mas confirmaram ao SP2 que Leandro Lo e o policial militar Henrique Veloso já tinham se desentendido outras vezes antes do dia do crime.
Defesa alega legítima defesa
A defesa do policial militar afirmou ao g1 em 15 de agosto que o oficial agiu por "defesa" depois que foi cercado por seis lutadores. Os advogados de Velozo alegam também que ele foi cercado por outros seis lutadores e, por isso, reagiu.
Já a defesa de Leandro ressalta que o lutador teve uma discussão com o policial e, para acalmar a situação, imobilizou o homem. Após se afastar, o agressor sacou uma arma, atirou uma vez na cabeça do lutador e deu dois chutes em Leandro antes de fugir.
Claudio Dalledone, advogado do policial, informou também que foram solicitados exames complementares através do sangue colhido do corpo do lutador Leandro Lo.
"Requer ainda, seja realizado exame complementar de alcoolemia da vítima e no que se refere ao exame toxicólogo já determinado por Vossa Senhoria, requer seja especificada a pesquisa laboratorial para anfetaminas, codeínas, metanfetaminas, ecstasy, EPO (doping sanguíneo), heroína, morfina, cocaína, crack, hGH (hormônios de crescimento), S1 (anabolizantes) e S6 (estimulantes)", diz um trecho da petição.
"Vamos indicar assistentes técnicos que acompanharão as análises periciais e apresentarão quesitos técnicos a serem respondidos pelo Instituto de Criminalística e Instituto Médico Legal. Tudo deve ser apurado e cada um responderá por suas responsabilidades", disse Dalledone.
Dalledone afirmou ainda que uma rede social no aparelho celular entregue pelo PM à investigação estaria sendo acessada e modificada. O advogado pediu para que o aparelho seja restituído à família e que sejam apuradas possíveis práticas abusivas.
Em nota, a Polícia Militar informou que nenhum interno do Presídio Militar Romão Gomes (PMRG), bem como os visitantes e advogados, possui permissão de uso de aparelhos telefônicos, e que o celular do policial foi apreendido no momento do registro e encaminhado ao Instituto de Criminalística (IC).
"O aparelho está protegido por senha de acesso, a qual não foi fornecida pelo investigado, portanto, o mesmo não foi acessado nem utilizado."
Trajetória
Leandro Lo foi campeão mundial de jiu-jítsu por oito vezes. A última conquista, na categoria meio-pesado, foi em 2022; a primeira, em 2012, na categoria peso-leve.
Nas redes sociais, ele narra os dois títulos como “as duas conquistas mais importantes da carreira”.
“O primeiro [título] é a sensação de conseguir ser campeão mundial, esse foi eu ainda consigo ser campeão mundial, as duas melhores sensações da minha vida. Obrigado todos que estão sempre comigo na alegria na tristeza!”, disse ele numa postagem nas redes sociais, quando relembrou o aniversário das conquistas mundiais.
Fonte: G1