'Animal silvestre não é pet', alerta Ibama após multar influencer que mostrava rotina com capivara no AM
Após a repercussão das penalidades que o influencer sofreu, o órgão se pronunciou por meio de uma nota divulgada na noite desta quarta, onde apontou os motivos das sanções aplicadas.
O Ibama alertou nesta quarta-feira (19) que "animal silvestre não é pet". O posicionamento foi feito após o órgão multar em mais de R$ 17 mil o influencer Agenor Tupinambá, de 23 anos, que mostrava a rotina ao lado da capivara "Filó" nas redes sociais. O fazendeiro, que mora no interior do Amazonas, foi denunciado por suspeita de abuso, maus-tratos e exploração animal.
Além da multa, Agenor também foi notificado a retirar todas as publicações feitas com os animais de seus perfis nas plataformas digitais.
Após a repercussão das penalidades que o influencer sofreu, o órgão se pronunciou por meio de uma nota divulgada na noite desta quarta, onde apontou os motivos das sanções aplicadas.
"Por mais que algumas pessoas queiram cuidar de animais silvestres, quando os encontram na natureza, é necessário entender que eles não são animais domésticos, como cães e gatos. Capivara e bicho-preguiça são animais silvestres. Criar ou manter esses animais em casa é proibido pela legislação brasileira", disse a nota.
Conforme o Ibama, com base no Decreto nº 6.514/2008, que regulamenta a Lei de Crimes Ambientais (Lei nº 9.605/1998), o Ibama autuou Agenor na terça-feira (18), por práticas relacionadas à exploração indevida de animais silvestres para a geração de conteúdo em redes sociais.
O órgão informou que o caso chegou ao seu conhecimento após a morte de um bicho-preguiça que Agenor criava em sua propriedade. No local os agentes encontraram um papagaio e a capivara, que não tinha autorização legal para manter os animais em sua posse.
Agenor recebeu duas notificações que determinam a retirada de conteúdo audiovisual alusivo à criação de animais silvestres em ambiente doméstico e a entrega do papagaio e da capivara ao Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas) do Ibama em Manaus.
"É importante salientar que além de ser crime manter animais silvestres irregularmente, a exposição de espécimes silvestres como pets em redes sociais, estimula a procura por esses animais, aquecendo o tráfico de espécies da fauna brasileira", informou o Ibama.
Outra pontuação feita pelo órgão é que por mais que se acredite estar ajudando um animal silvestre, dando comida e abrigo, é importante entender que essa atitude pode prejudicá-lo, pois reduz a capacidade de sobrevivência na natureza e que animais silvestres também podem transmitir doenças graves para os humanos.
"Ao encontrar algum animal silvestre ferido, deve-se acionar o órgão público competente. A legislação brasileira não admite a hipótese de regularizar junto aos órgãos ambientais um animal adquirido ou mantido sem autorização. Quem possui animal silvestre em situação irregular pode realizar entrega voluntária ao órgão ambiental competente para evitar penalidades previstas na legislação", finalizou a nota.
Agenor lamenta
Por meio de nota publicada no Instagram, Agenor lamentou a notificação que recebeu do Ibama. Ele falou sobre a paixão que sente pelos animais e a surpresa que teve ao receber a multa pelo órgão.
"Eu cresci no meio do mato e lá nasceu a minha paixão pelos animais. Eu só saio de lá para estudar agronomia na capital, curso que escolhi para poder servi-los ainda mais. De todas as surpresas que a fama na internet me trouxe, eu jamais imaginei que seria acusado de abuso, maus-tratos e exploração contra animais. Também fui acusado de matar um animal do qual todos são testemunhas que só dediquei amor e fiz tudo que podia para preservar sua vida", lamentou.
Ao g1, ele afirmou que tem seis dias para entregar as companheiras "Filó" e a papagaio "Rosa".
"Também fui notificado para retirar os vídeos que tanto expressam o meu amor e entregar a Filó num centro de tratamento animal, sob a acusação de retirá-la do seu habitat natural. Se tem alguém que mora no habitat natural de alguém sou eu, não os animais. Eu abro a janela e lá esta o rio, a floresta e os animais. Eu que estou de passagem nesse lugar. E escolhi ser um guardião e não um criminoso", afirmou.
As publicações já foram retiradas por ele de todas as redes sociais. Agenor disse que está recebendo acompanhamento jurídico da deputada estadual Joana Darc. Ele tem 20 dias para apresentar sua defesa.
"Lamento profundamente o que está acontecendo e só eu sei a dor que estou sentindo. Agradeço o apoio da minha família, amigos, seguidores, imprensa e ao suporte jurídico que nunca pensei que precisaria", finalizou a nota.
Fazendeiro Agenor Tupinambá publica dia a dia na fazenda do AM, acompanhado da companheira Filó. — Foto: Reprodução/Redes Sociais
Amizade entre fazendeiro do AM e capivara viraliza na internet
Na fazenda onde mora, Agenor cuida de diversos animais. Entre eles, búfalos, um papagaio, um porco, um mergulhão selvagem, um biguá e um pato mergulhão. A "Filó", amiga fiel do fazendeiro, entrou na vida dele em 2022, de uma maneira inesperada e "triste", segundo ele.
Um primo do fazendeiro mora próximo a uma aldeia, onde indígenas costumam caçar para se alimentarem. Na ocasião, eles haviam capturado uma capivara, mas o que eles não sabiam, era que ela estava grávida.
"Eles cortaram a barriga dela, a 'Filó' nasceu e conseguiu sobreviver. Os índios deram ela para o meu primo e ele me deu", disse Agenor, sobre quando passou a oferecer os cuidados e companhia para a pequena capivara em sua casa.
Agenor Tupinambá e capivara Filó convivem em fazenda no interior do AM. — Foto: Reprodução/Redes Sociais
Desde então, o amor entre os dois só aumentou. Apesar de ter perdido a família de sua própria espécie, "Filó" passou a ter um lar e uma família humana junto de Agenor e seus parentes.
"Ela sempre dormiu comigo. Ela é muito apegada. Com meu cunhado, com meus irmãos. Com todo o carinho que ela recebe da gente, eu acho que ela retribui", contou Agenor.
Vídeo viraliza
O fazendeiro ama o que faz e, desde 2019, faz diversas publicações em redes sociais sobre sua vida e rotina na fazenda. Ele tinha o intuito de levar a cultura dos ribeirinhos para que outras pessoas conheçam.
"Sou pecuarista. Aqui trabalho com búfalos. Produzo leite de búfalo e queijo coalho. E aí, eu comecei a postar como é o dia a dia, como é a vida aqui no interior do Amazonas. Com esse pensamento, o pessoal não faz ideia de como é ser um ribeirinho, como é viver morar em um flutuante em cima do rio, ter toda essa cultura", disse.
Com o passar do tempo, ele foi ganhando cada vez mais seguidores e suas publicações começaram a ganhar cada vez mais alcance. Mas uma publicação de Agenor ainda não havia alcançado tantas pessoas como a que ele fez na manhã do dia 4 de fevereiro.
Em um vídeo, ele mostrava diversos momentos junto da pequena e fiel amiga "Filó". No primeiro, o fazendeiro dá um salto no rio e, logo em seguida, a capivara o segue e dá o mesmo salto atrás do companheiro. Em minutos, ele já era visto por diversas pessoas que admiravam a relação entre a capivara filhote e Agenor.
"Quando eu publiquei, em minutos, já foi entregando para muita gente. Eu publiquei no Instagram e fui tirar leite no curral, como é a minha rotina. Quando voltei, eu vi que já estava em 10 mil visualizações e muitas curtidas. Depois, foi só aumentando e eu postei no TikTok. Também viralizou em questão de segundos", lembrou Agenor, quando a publicação foi feita.
Apesar de já ter um grande alcance em suas publicações, o fazendeiro sempre teve que alcançar o maior número de pessoas possível ao mostrar sua rotina e se surpreendeu com o retorno instantâneo do vídeo de sua vida com a "Filó".
"Eu sempre almejei crescer bastante nas redes sociais. Sempre sonhei com isso e hoje eu acredito que eu não estava preparado para isso. Nem sei como lidar com tudo que está acontecendo agora. Eu mostro também que a gente pode ser muito feliz com o pouco que tem. A gente não precisa de muito para ser feliz, só precisa aproveitar os momentos, as oportunidades, saber observar e sempre respeitar a natureza dos animais", afirmou Agenor na época da publicação.
Fonte: G1