Apreensão de cocaína na Amazônia Legal triplica em quatro anos, aponta estudo

Levantamento realizado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública mapeia crescimento do tráfico de drogas e violência na região

Apreensão de cocaína na Amazônia Legal triplica em quatro anos, aponta estudo
Drogas apreendidas pela Polícia Federal no Amazonas são incineradas em operação realizada em setembro de 2023. — Foto: Divulgação/Polícia Federal

A apreensão de drogas disparou nos últimos quatro anos nos nove estados da região Norte que compõem a Amazônia Legal: Acre, Amazonas, Amapá, Mato Grosso, Pará, Roraima, Rondônia, Tocantins e parte do Maranhão. É o que aponta novo levantamento publicado nesta quinta-feira (30) pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP).

Segundo o estudo “Cartografias da Violência na Amazônia”, o aumento das apreensões é um dos indicativos da expansão das organizações criminosas no Brasil, que têm intensificado a atuação violenta na região.

A Amazônia Legal é uma área delimitada em 1953 por lei federal com o objetivo de criar políticas para desenvolvimento socioeconômico. Ela é formada pelo total de 772 municípios.

Veja abaixo a disparada nas apreensões de cocaína pelas forças de segurança na região:

  • Polícia Federal: o órgão apreendeu 32 toneladas de cocaína nos estados da Amazônia Legal em 2022. O valor aponta crescimento de 184,4% quando comparado ao ano de 2019, quando 11,3 toneladas foram apreendidas.
  • Polícia Rodoviária Federal: o crescimento de apreensões foi ainda maior. As 28,6 toneladas de cocaína apreendidas em 2022 representam aumento de 777,4% em relação a 2019 (3,3 toneladas).
  • Polícias estaduais: o volume de cocaína apreendido também saltou 194,1% no período, passando de aproximadamente 7 toneladas, em 2019, para 20,4 toneladas em 2022.
  • Exército e Marinha: o estudo chama atenção para o fato de que as apreensões realizadas pelo Exército e pela Marinha têm volume baixo diante da magnitude dos dados das forças policiais: a soma de cocaína e maconha apreendidas no último ano por ambos os órgãos não chega a 4 toneladas.

Segundo os pesquisadores, não é possível somar volumes apreendidos por cada força, uma vez que as apreensões da PRF costumam ser encaminhadas à Polícia Judiciária Federal, e parte das apreensões eventualmente decorre de operações conjuntas.

“A baixa produtividade das Forças Armadas surpreende tanto por serem elas as responsáveis pela segurança das fronteiras, além de possuírem mais recursos humanos que as polícias e disporem de mais equipamentos adequados para atuar nos locais remotos da Amazônia Legal, em comparação com outras forças de segurança”, diz o texto.

Hipóteses para o aumento

O FBSP aponta que existem aos menos duas hipóteses que explicam o crescimento das apreensões: o aumento da eficiência das polícias e o fato de que a circulação de drogas realmente aumentou.

Para o diretor-presidente do FSB, Renato Sérgio de Lima, a segunda hipótese é corroborada pelo relatório do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC), que aponta crescimento de 35% das plantações de coca em 2021.

“Na hora que a gente conversa com as polícias, o argumento é o aumento da produtividade. Em alguns casos, como a Polícia Federal, de fato é uma verdade. Mas, para a gente, a hipótese mais plausível ao pegar os relatórios do Unodc é que Peru, Colômbia e Bolívia estão tendo um boom de produção de cocaína. Segundo estudos anteriores, a gente já estima que metade da produção de cocaína desses países passa pelo Brasil”, afirma Lima.

Outros destaques do estudo:

  • A taxa de mortes violentas intencionais na Amazônia para cada 100 mil habitantes (33,8) foi 45% superior à média nacional (23,3) em 2022.
  • Quinze municípios apresentaram taxa média de violência letal acima de 80 mortes por 100 mil habitantes no triênio 2020-2022, a maioria nos estados do Pará e Mato Grosso.
  • A taxa de mortes violentas de indígenas na Amazônia é 26% maior do que fora dela.
  • A taxa de feminicídio na Amazônia foi de 1,8 para cada 100 mil mulheres, 30,8% superior à média nacional, que foi de 1,4 por 100 mil.
  • A violência sexual também apresenta taxas mais elevadas na Amazônia do que no restante do país. A taxa de estupros na região foi de 49,4 vítimas para cada 100 mil em 2022, 33,8% superior à média nacional, que foi de 36,9 por 100 mil.
  • O estudo mapeou a existência de ao menos 22 facções criminosas na região, presentes em todos os estados amazônicos.
  • Do total de 772 municípios da Amazônia Legal, o levantamento identificou que ao menos 178 possuem presença de facções.
  • Os registros de crimes vinculados ao desmatamento cresceram 85,3% entre 2018 e 2022. No último ano, foram 619 registros nas polícias civis dos estados da Amazônia Legal.
  • Os registros de incêndios criminosos na Amazônia Legal cresceram 51,3% entre 2018 e 2022.
  • Em 10 anos, a taxa de pessoas no sistema prisional na Amazônia Legal cresceu 67,3%, enquanto a média nacional foi de 43,3% de aumento.
  • Entre 2019 e 2022, o crescimento dos registros de arma de fogo na Amazônia foi da ordem de 91%, ao passo que a média nacional ficou em 47,5%.

Fonte: G1