Aumento da gasolina faz motoristas abandonarem Uber e 99 em Manaus
Os aplicativos de transporte urbano, visto nos últimos anos como uma saída para o desemprego, têm assistido a 'debandada' entre os seus colaboradores. Além da forte alta dos combustíveis, as políticas de pagamentos de plataformas como 99 e, principalmente, da Uber, também têm sido alvo de reclamações dos motoristas.
Pedro Paulo, de 39 anos, até viu nos aplicativos de viagem a chance para elevar a renda da família, mas uma série de fatores o fizeram abandonar as plataformas. Ao EM TEMPO, ele contou que alugava veículos para fazer viagens, mas há pouco mais de um ano, sentiu uma queda brusca em seu rendimento.
"Primeiro, o valor do aluguel dos carros é muito alto. Eu desembolsava em torno de R$1,7 mil ao mês, depois o valor da gasolina subiu consideravelmente, em paralelo a isso, houve uma queda de demanda, em virtude da pandemia, fora a violência. Então, foi uma sequência de fatos negativos que me levaram a desistir dessa profissão", explicou
Segundo Pedro, a saída para pagar as contas da casa ocorreu quando ele começou a fazer reparos em videogames. "Comecei a ver vários vídeos na internet e aprendi a consertar consolo de games. Desde então, foi surgindo um cliente atrás do outro, até chegar em um ponto que essa minha nova ocupação estava me trazendo bem mais lucro do que fazer viagens por aplicativo, fora que esse meu serviço, eu faço em casa".
Questionado se pensa em voltar a trabalhar como motorista de aplicativo, Pedro enumerou condições para que isso aconteça. "Acho o nunca um exagero, não sabemos o dia de amanhã, mas eu só voltaria se trabalhar como motorista voltasse a ser rentável e seguro, o que, infelizmente, está bem distante da realidade", disse ele.
Corridas canceladas
A desistência de motoristas nas plataformas fez disparar, nos últimos meses, o número de clientes que passaram a reclamar da demora para terem suas viagens aceitas.
Gleice Mara, de 50 anos, tem enfrentado um calvário, todas as manhãs, para conseguir uma corrida de aplicativo que a leve até a escola onde trabalha como monitora. Moradora do bairro Cidade Nova, Zona Norte de Manaus, ela conta que costumava chegar ao trabalho em menos de 10 minutos, tempo que foi multiplicado por três por conta dos sucessivos cancelamentos de motoristas.
"Eu utilizo o aplicativo Uber, antes pedia um carro e com cinco minutos ele estava na minha porta, agora é uma eternidade, sempre cancelam, não sei o que aconteceu. Teve um dia que cheguei 10 minutos atrasada, então agora tenho de acordar bem mais cedo, justamente para evitar atrasos", relatou Gleice.
A monitora relata que não se importaria de pagar um pouquinho mais caro, desde que tivesse mais rapidez na hora de conseguir um motorista. "Sinceramente, eu preferia desembolsar um valor um pouco mais alto do que ter que enfrentar, todos os dias, o mesmo estresse de motoristas cancelarem a minha corrida", disse ela.
'Sou obrigado a escolher corrida'
Ter de optar por uma solicitação de viagem em detrimento da outra foi uma das saídas que sobrou ao motorista de aplicativo Breno Costa, de 31 anos. Segundo o rapaz, o alto valor dos combustíveis somado à nova política de preços da Uber diminuíram as receitas da categoria.
"Para se ter uma ideia, já cheguei a obter até R$150 de lucro para cada R$50 de gasolina, valor que é impensável hoje em dia com a gasolina chegando a R$5,79. Além disso, a Uber, especificamente, alterou o cálculo dos preços dinâmicos, que ocorrem quando há uma alta demanda", afirmou o motorista.
Antes, explica Breno, a plataforma trabalhava com um modelo de multiplicação de ganho, agora, é oferecido apenas um bônus fixo em corridas dinâmicas. "Por exemplo, se antes uma corrida de uma viagem tinha o seu valor multiplicado por dois, por exemplo, hoje é acrescentado uma pequena bonificação, variando entre R$5 e R$10, dificilmente passa disso", afirmou o motorista.
Aplicativos negam oferta menor
A Uber negou, por meio de nota, que o repasse dos ganhos diminuiu para os motoristas. "Os ganhos de quem dirige com o app da Uber têm sido os maiores desde o início do ano. Em Manaus, por exemplo, os parceiros que dirigiram por volta de 40 horas ganharam, em média, de R$ 1.270 a R$ 1.330 na semana".
A Uber informou que uma pesquisa do Datafolha revelou que entre os brasileiros sem veículo próprio, os aplicativos de mobilidade foram considerados o meio de locomoção mais seguro na pandemia. "Nesse contexto, os usuários estão tendo de esperar mais tempo por um carro, e o motivo é que, especialmente nos horários de pico, há mais chamados do que parceiros dispostos a realizar viagens. A demanda alta significa que o app da Uber está tocando sem parar", alegou.
Além disso, a empresa informou que a demanda maior "deixa os motoristas mais confortáveis para cancelar viagens (porque sabem que virão outras na sequência, possivelmente com ganhos maiores)".
A 99 também não informou a diminuição dos números de motoristas cadastrados e afirmou, por meio de nota, que a plataforma passa a apresentar todos os incentivos de corrida para que o motorista parceiro escolha a que mais atende sua jornada. "Os incentivos oferecem bônus financeiros para quem atingir a meta, mas a 'Escolha Inteligente' permite que o motorista parceiro eleja a meta mais adequada para seu perfil".
Taxistas agradecem
Se a chuva de cancelamentos e mudanças nas plataformas têm irritado tanto clientes quanto os motoristas parceiros das plataformas, a história é diferente para os taxistas. O motorista Francisco Rodrigues tem comemorado o aumento de clientes nos últimos meses.
"Eu atuo em shopping da Zona Centro-Sul, e de fato tenho percebido um aumento no número de clientes. Geralmente, os passageiros se cansam de esperar, após uma série de desistência dos motoristas de aplicativo, e recorrem aos taxistas. Na semana passada, uma passageira me contou que mais de 10 motoristas cancelaram a solicitação dela", afirmou o Francisco.
Fonte: Em Tempo