Bolsonaro transferiu R$ 800 mil para conta nos EUA antes de viagem, diz PF
Segundo documento das investigações da Polícia Federal, ex-presidente aguardava "o desfecho" da suposta tentativa de golpe de Estado "que estava em andamento"
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) fez uma transferência de R$ 800 mil para uma conta nos Estados Unidos, antes de viajar ao país no fim de dezembro de 2022, depois de ter sido derrotado por Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no segundo turno das eleições presidenciais, em outubro daquele ano.
As informações, obtidas pelo G1, constam de um documento da investigação da Polícia Federal (PF) sobre a suposta tentativa de golpe de Estado que teria sido perpetrada pelo ex-mandatário e alguns de seus principais aliados, com o intuito de impedir a posse de Lula.
No fim de 2022, Bolsonaro deixou o Brasil e foi para os EUA. Ele não entregou a faixa presidencial ao sucessor, ficando ausente da cerimônia de posse do petista.
Segundo a PF, os investigados “tinham a expectativa de que ainda havia possibilidade de consumação do golpe de Estado”. “Alguns investigados se evadiram do país, retirando praticamente todos seus recursos aplicados em instituições financeiras nacionais, transferindo-os para os EUA, para se resguardarem de eventual persecução penal instaurada para apurar os ilícitos”, diz o documento.
Ainda de acordo com a PF, Bolsonaro transferiu, no dia 27 de dezembro de 2022, a quantia de R$ 800.000,03 para um banco sediado nos EUA no qual o ex-presidente possui uma conta.
“Evidencia-se que o então presidente Jair Bolsonaro, ao final do mandato, transferiu para os Estados Unidos todos os seus bens e recursos financeiros, ilícitos e lícitos, com a finalidade de assegurar sua permanência do exterior, possivelmente, aguardando o desfecho da tentativa de Golpe de Estado que estava em andamento”, diz a PF.
Depois da vultosa transferência para a conta nos EUA, o saldo de Bolsonaro em sua poupança no Brasil ficou negativo em R$ 111 mil. Mais tarde, esse valor foi coberto por recursos retirados pelo ex-presidente de um fundo de investimentos. Os dados foram obtidos por meio da quebra de sigilo bancário feita pela PF. Até o momento, a defesa de Bolsonaro não se manifestou sobre essas informações.
Cerco a Bolsonaro e aliados
Foram cumpridos 33 mandados de busca e apreensão na Operação Tempus Veritatis, da PF, além de quatro mandados de prisão preventiva e 48 medidas cautelares (como proibição de manter contato com os demais investigados; proibição de se ausentar do país, com entrega dos passaportes em até 24 horas; e suspensão do exercício de funções públicas). As medidas judiciais foram expedidas pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF, relator do inquérito das milícias digitais.
Também na semana passada, o STF autorizou a divulgação do vídeo de uma reunião entre Bolsonaro e sua equipe ministerial, no dia 5 de julho de 2022. O então chefe do Executivo aparece irritado e preocupado com seu destino político após o pleito.
Durante a reunião com ministros, Bolsonaro afirma que é necessário “reagir” antes da eleição, cujo primeiro turno ocorreria em três meses. O vídeo foi apreendido na casa do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens da Presidência, que foi preso e fez delação premiada.
Na dura conversa com a equipe ministerial, Bolsonaro também demonstra pessimismo em relação às suas chances de ser reeleito presidente da República. “Nós sabemos que, se a gente reagir depois das eleições, vai ter um caos no Brasil, vai virar uma grande guerrilha, uma fogueira no Brasil. Agora, alguém tem dúvida de que a esquerda, como está indo, vai ganhar as eleições? Não adianta eu ter 80% dos votos. Eles vão ganhar as eleições”, diz o então presidente aos seus subordinados.
Quatro ex-ministros de Bolsonaro que estavam na reunião presidencial de julho de 2022 foram alvos da operação: Braga Netto, Augusto Heleno, Paulo Sérgio Nogueira e Anderson Torres. Também foram alvo Valdemar Costa Neto, presidente do Partido Liberal (PL), que acabou preso por posse ilegal de arma, e Tércio Arnaud Thomaz, ex-assessor de Bolsonaro, apontado como um dos principais nomes do chamado “gabinete do ódio”.
Os quatro alvos de mandados de prisão foram Filipe Martins, ex-assessor especial de Bolsonaro que levou a “minuta do golpe” ao então presidente (que pediu mudanças no documento); Marcelo Câmara, coronel do Exército e ex-assessor especial do ex-presidente; e outros dois militares de forças especiais. Já Bolsonaro foi alvo de medidas restritivas: Moraes o proibiu de entrar em contato com investigados e determinou que o ex-presidente entregasse seu passaporte em até 24 horas.
Foi a segunda operação envolvendo o entorno mais próximo de Bolsonaro em duas semanas. A investigação sobre o uso ilegal de um software israelense para monitorar alvos pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin), durante o governo do ex-presidente, chegou ao seu filho Carlos Bolsonaro (Republicanos), vereador do Rio de Janeiro, e ao deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ), diretor da Abin em seu governo e pré-candidato à Prefeitura do Rio.
A defesa de Bolsonaro encaminhou a Moraes um pedido para que o passaporte do ex-presidente seja devolvido pelas autoridades. Os advogados também pediram que o magistrado reconsidere a decisão de proibir o ex-presidente de deixar o país. Em vez disso, sugere a defesa do líder político, ele teria apenas de pedir autorização judicial para sair do Brasil.
O ex-presidente divulgou um vídeo nas redes sociais no qual convoca seus apoiadores e simpatizantes para uma manifestação na Avenida Paulista, em São Paulo, no dia 25 de fevereiro. A intenção de Bolsonaro é utilizar o ato para se defender das acusações de que teria participado da tentativa de golpe de Estado.
Fonte: Infomoney