BYD U8: o SUV que navega, gira 360º, anda com pneu furado e chega em 2024
Jipão surpreende ao reunir todos os recursos mais avançados e sofisticados disponíveis na BYD, além do fato de ter quatro motores que rendem quase 1.200 cv
Há 15 anos, quando o Effa M100 teve seu teste de Longa Duração interrompido por conta da sua comprovada falta de segurança, a BYD fabricava cópias de carros da Toyota enquanto aperfeiçoava sua tecnologia de carros elétricos e híbridos. Agora a empresa tem parceria com a Toyota para fabricar carros elétricos e, no quarto trimestre de 2023, passou a Tesla na liderança do segmento de elétricos.
Justamente quando os holofotes estavam apontados para si, a BYD lançou sua submarca de alto luxo, a Yangwang. O nome em chinês, que significa “olhar para cima” em um contexto de admiração, pode ser quase um agradecimento, mas representa uma preocupação com o valor agregado dos seus carros.
(Divulgação/BYD)
Foram os Dolphin e o Seagull (que estreia no Brasil no fim de fevereiro como Dolphin Mini) que levaram a BYD ao pódio, mas agora ela precisa de carros com alto valor agregado para pagar as contas.
O primeiro deles é o Yangwang U8, que pudemos conhecer em Shenzhen, na China. Ele ainda será acompanhado do superesportivo elétrico U9, que está na fase final de desenvolvimento e promete 1.300 cv de potência e 700 km de autonomia.
O Yangwang U8 não só reúne tudo o que a BYD é capaz de fazer hoje em termos de tecnologias como provoca reações de espanto e admiração em suas aparições. Esse jipão normaliza, por exemplo, o fato de poder girar em seu próprio eixo ou deslocar lateralmente cada eixo do carro como estratégias do seu assistente de estacionamento automático.
Também tem a capacidade de navegar por até 30 minutos a 3 km/h, usando seus quatro motores para se movimentar quando submerso (a capacidade de imersão, inclusive, passa de 1 m para 1,40 m com um snorkel). Mas isso é para uma condição de emergência, como um alagamento, a ponto de o teto solar abrir-se para ser uma rota de fuga e de o carro precisar visitar uma concessionária imediatamente para conferir a estanqueidade dos seus sistemas elétricos. Seria lindo se pudesse ser usado rotineiramente para navegar pelo rio Tietê, em São Paulo, ou pela Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio de Janeiro, para fugir do trânsito.
Tudo isso, como se as dimensões e o design do BYD U8 (melhor chamá-lo assim, pois provavelmente terá um nome ocidental no futuro) não bastassem para atrair olhares. Ele é um tanto exótico pelo formato pelo formato dos faróis, das lanternas e de elementos da carroceria, mas também chama a atenção a semelhança com o Defender 130. Aliás, seu porte é o mesmo: são 5,32 m de comprimento, sendo 3,05 m no entre-eixos.
Os ressaltos no teto são de caso pensado. Ali estão três radares a laser (LIDAR), que atuam junto com sensores ultrassônicos, 13 câmeras e 3 radares de ondas sob o comando de um processador Orin da Nvidia com capacidade de processamento de 508 teraflops para ter assistência autônoma de nível 2. No BYD U8, todos os sistemas têm seu processamento centralizado nesse processador.
(Divulgação/BYD)
Por dentro, porém, o U8 nada tem a ver com outros carros da BYD. O console central aparenta se dobrar sobre o painel e usa uma tela curva de 12,8” como central de entretenimento e controle. A tela do motorista, de 23,6”, é sensível ao toque, com comandos de luzes e modo de operação dos motores à esquerda, e é complementada por um head-up display de realidade aumentada com projeção colorida e em alta resolução.
Para entreter os passageiros, o carona tem uma tela igual à do motorista, onde pode até ver filmes, e há duas telas de 14” para a segunda fileira. Aliás, este é um carro de apenas cinco lugares, mas pronto para ser limitado a quatro: rebater o encosto central revela uma tela de controle para o ajuste elétrico dos bancos traseiros, iluminação, ar-condicionado (com fluxo que também sai das colunas centrais) e do sistema de som da marca dinamarquesa Dynaudio, com 22 alto-falantes.
O interior terracota pode não agradar a todos, mas a forração de couro Nappa encanta o tato. Só o teto e as colunas são forrados de um tipo de suede (sintético similar à camurça).
Como em alguns Defender e Range Rover, o porta-malas tem comandos elétricos para descer a suspensão e para o rebatimento dos bancos traseiros, além de tomadas. Também tem estribos elétricos e sucção das portas.
O U8 é movido por quatro motores elétricos, um por roda, com 299 cv cada. O pico de entrega é de 1.196 cv e 130,5 kgfm. Mas sua bateria de apenas 49,5 kWh garante autonomia para apenas 180 km (no otimista ciclo chinês). O segredo para a autonomia de 1.000 km está em ter um motor 2.0 turbo só para gerar energia, sem conexão com as rodas, com um tanque de 75 litros à disposição.
BYD U8 será lançado no Brasil?
Para garantir a capacidade off-road que o visual e os recursos técnicos sugerem, há vetorização do torque em cada roda, bloqueios mecânicos nos diferenciais dianteiro e traseiro, além da suspensão hidráulica adaptativa Disus-P, um dos destaques da plataforma E4. Além do gerenciamento da suspensão em tempo real, é capaz de variar a altura em até 15 cm.
Com a centralização da eletrônica em um módulo, a suspensão e os motores podem trabalhar em conjunto para garantir que o carro rode a até 120 km/h mesmo com um pneu furado. O segredo está em o motor do mesmo lado do pneu que está furado aplicar mais força que os demais.
Suspensão inteligente se ajusta às condições do piso e varia a altura para facilitar o uso do porta-malas (Divulgação/Quatro Rodas)
Mesmo com tantas funções extraordinárias, o primeiro contato com o U8 foi bastante restrito. Deu, basicamente, para perceber como a suspensão se esforça para compensar a movimentação da carroceria do carro, que pesa 3.460 kg. Mais que isso: até as bolsas de ar nas laterais dos bancos, que poderiam ajustar a forma como o banco abraça o motorista, inflam para conter a movimentação do corpo.
Não deixaram colocar à prova o funcionamento dos motores em uma aceleração forte, que seria suficiente para levar o U8 aos 100 km/h em 3,6 segundos, de acordo com a BYD. Mas deu para perceber a pronta resposta do acelerador e como não transparece, ao volante, quanto o carro pesa.
Existe interesse da BYD em levar o U8 para o Brasil este ano, nem que seja, inicialmente, apenas para demonstrações. A venda pode levar mais tempo, porque este também é um dos carros mais caros fabricados na China, onde tem preços entre o equivalente a R$ 750.000 e R$ 1 milhão. É um carro que dificilmente chegaria ao Brasil por menos de R$ 1,5 milhão. Realmente, os carros chineses não são mais os mesmos.
Ficha técnica – BYD Yangwang U8
Preço: R$ 1.500.000 (estimado)
Motor: 4 elétricos, um por roda, assíncronos, 299 cv cada, 1.196 cv total, 130,5 kgfm; gerador a gasolina 1.999 cm3
Bateria: fosfato de ferro-lítio, 49 kWh
Carga: potência máx. 110 kW (DC)
Câmbio: autom., 1 marcha, 4×4
Direção: elétrica, 11,5 m
Suspensão: duplo A (diant.), multibraços (tras.)
Freios: disco ventilado nas quatro rodas
Pneus: 275/50 R22
Dimensões: compr., 531,9 cm; larg., 205 cm; alt., 193 cm; entre-eixos, 305 cm; peso, 3.460 kg
Desempenho*: 0 a 100 km/h, 3,6 s; veloc. máx., 200 km/h; auton., 180 km (elétrica) 1.000 km (estendida).
*Dados de fábrica
Fonte: Quatro Rodas