Com mais de 100 membros mortos por Covid-19, Festival de Parintins é novamente cancelado

Apresentação entre os bois Caprichoso e Garantido será transmitido em live no próximo dia 26 de junho

Com mais de 100 membros mortos por Covid-19, Festival de Parintins é novamente cancelado
Garantido e Caprichoso/ Arquivo Internet

 O Festival Folclórico de Parintins (a 369 quilômetros de Manaus), tradicionalmente realizada no último fim de semana de junho, será cancelado pelo segundo ano consecutivo por conta da pandemia. Para manter a essência da festa, será feita uma live ‘ Parintins Live 2021’  no próximo dia 26 de junho.

A apresentação ocorrerá no Centro Cultural de Parintins, o Bumbódromo, com os dos bois Caprichoso (azul) e Garantido (vermelho), mas não será aberto ao público devido ao alto risco de contaminação do coronavírus, já que em outros anos a manifestação cultural do Amazonas atraiu cerca de 70 mil turistas para Parintins. 

– Uma maneira encontrada de ajudar os Bumbás foi a realização dessas lives pois movimentam os artistas, claro que não todos, mas ajudam uma parte que darão vida ao espetáculo na proporção do formato live – disse a secretária municipal de Cultura, Karla Viana.  

Será um evento simbólico para manter a chama acesa da cultura popular e ajudar alguns trabalhadores da arte, de acordo com os líderes de cada boi. Os grupos afirmaram que estarão com contingente de 250 brincantes. Redução de grande expressão, já que a cada noite de espetáculo, cada boi costuma a se apresentar com uma média de 2.500 pessoas.  No entanto, estarão presentes o Pajé, Cunhã-Poranga, Rainha do Folclore, Porta-estandarte, Boi, Levantadores de Toada, apresentador e demais itens que compõem o mapa de julgamento. Este ano não terá competição. 

O festival acaba aglomerando as pessoas. Para nós que já sofremos muito aqui [em Parintins], em Manaus e no Amazonas com a Covid, isso seria um desastre no ponto de vista da pandemia.  Estamos fazendo a  live  com todos os cuidados para que não volte a ter um outro surto grande dessa pandemia. Mas estamos esperançosos de que as pessoas se vacinem e que os nossos governantes levem a sério – ressaltou o presidente do Boi Garantido Antônio Andrade.   

Durante a pandemia, o Boi Garantido  perdeu mais de 100 membros , entre artistas, sócios, torcedores ligados a história - como o artista plástico Júnior de Souza, que morreu em março deste ano em decorrência de complicações do coronavírus; o compositor Rafael do Carmo Araújo, conhecido como Marupiara , de 37 anos, e o ex-apresentador por 26 anos, Paulinho Faria, considerado uma lenda do evento parintinense.  

– Foram perdas que a gente lamenta até hoje e que a gente sabe que quando passar a pandemia vamos voltar a brincar com o boi e que essas pessoas não vão estar mais com a gente. São pessoas muito queridas que sempre tiveram no Garantido. – disse o líder vermelho.    

De acordo com o secretário municipal de saúde de Parintins, Clerton Rodrigues todos os brincantes serão testados antes do espetáculo e a área do evento isolada para manter todos os protocolos de segurança contra o vírus.

– Aos brincantes serão testados com 48 horas antes da realização do evento. E todas as medidas de segurança serão tomadas. Além das testagens será verificado a vacinação desse público, ou seja, todas as medidas serão realizadas para que o evento aconteça da melhor forma possível e com toda segurança – concluiu o secretário, que participou de uma reunião na quinta-feira com equipes do Governo do Amazonas. Nas redes sociais, os representantes de cada boi pedem aos torcedores que assistam a festa de casa, na sua cidade, com total segurança.  

Ao todo, Parintins teve 9.933 casos confirmados do coronavírus e 353 óbitos. Dados da Secretaria de Saúde mostram que cerca de 46.793 doses de vacinas foram aplicadas, o que equivale a 40,6% da população de Parintins.

Bumbódromo de Parintins 

Segunda temporada sem lucros 

A festa é reconhecida como Patrimônio Cultural do Brasil pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) e tem apoio do Governo do Amazonas. A capital do Boi-Bumbá sofre com a segunda temporada sem lucros, não só entre a classe artística -  compositores, aderecistas, costureiras, coreógrafos e outros - ainda há os que atuam de forma indireta como vendedores e fornecedores. 

– É o segundo ano que nós não conseguimos fazer o festival e é uma tristeza muito grande para nós, porque o festival de Parintins é a principal renda para a nossa cidade. É a maior indústria que temos aqui –  disse o presidente do Boi Caprichoso Jander Lobato.  

Por conta do atual momento da pandemia e a anulação do festival, a secretária municipal de Cultura, Karla Viana, ressalta os impactos negativos na economia para o munícipio.  

– Toda a cadeia da economia criativa, da cultura e o Trade Turístico deixaram de ganhar e consequentemente de gerar empregos. São cerca de 10 mil empregos diretos e indiretos que deixam de existir no município no período do festival. Isso vai desde os Bumbás, a prefeitura, iniciativa e privada. Ainda temos as oportunidades com as barracas que ficam espalhadas pela cidade que muitas pessoas adquirem para comercializar seus produtos. Então, a não realização do festival deixa um prejuízo grande na economia do município e do estado. 

Matéria: www.oglobo.com.br