Cúpula militar alertou ex-ministro da Defesa sobre submissão a Bolsonaro

Cúpula militar alertou ex-ministro da Defesa sobre submissão a Bolsonaro
Paulo Sérgio, ex-ministro da Defesa eJair Bolsonaro — Foto: Cristiano Mariz/Agência O Globo

O tenente-coronel Mauro Cid não foi único militar alertado pelo Exército de que estava indo longe demais na relação comJair Bolsonaro. Parte dos integrantes da cúpula das Forças Armadas relataram à coluna que também tiveram conversas com o general Paulo Sérgio Nogueira, por vê-lo “muito subserviente” ao então presidente, depois que assumiu o Ministério da Defesa, em 2022.

O general tomou a linha de frente no embate com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), insistindo na participação ativa dos militares na auditoria das urnas. Entre integrantes do Alto Comando já havia a avaliação de que ele estava “exagerando no tom” dos ofícios que passou a enviar quase que semanalmente à corte eleitoral, na época presidida pelo ministro Edson Fachin.

Paulo Sérgio chegou a ser comparado por parte da caserna com Walter Braga Netto, seu antecessor na pasta que concorreu na chapa de Bolsonaro como seu vice, em 2022. Hoje, ambos constam no rol de denunciados pela Procuradoria-Geral da República (PGR) no caso que apura a tentativa de golpe de Estado.

A delação premiada de Mauro Cid tornada pública na semana passada reforçou na cúpula militar o sentimento de que o general Paulo Sérgio “foi cooptado” pelo ex-presidente. O ex-ajudante de ordens relatou que Bolsonaro pressionou o então ministro da Defesa a produzir um relatórioque apontasse suposta fraude nas urnas, após derrota para Lula.

Cid contou que, mesmo sabendo que o resultado do relatório era o de que não havia problemas nas urnas, houve uma "construção" textual feita com o general Paulo Sérgio para dizer que era impossível saber ou não se havia fraude, pois o sistema de votação não seria auditável, o que já foi desmentido pelo TSE.

Antes de se tornar ministro de Bolsonaro, o general era visto na caserna como um militar de perfil moderado e técnico, que privilegiava o diálogo e apaziguava conflitos.

Desde que se tornou um dos investigados na tentativa de golpe, Paulo Sérgio submergiu totalmente e ficou recluso, deixando de frequentar, inclusive, os ambientes militares.

Por: O Globo