Deserção de Eduardo aumenta temor de fuga de Bolsonaro

Decisão do filho do ex-presidente de permanecer nos EUA pegou cúpula da Câmara de surpresa e foi vista como manobra para aumentar alarde contra Moraes e STF

Deserção de Eduardo aumenta temor de fuga de Bolsonaro
O deputado federal Eduardo Bolsonaro, no plenário da Câmara — Foto: Mário Agra/Câmara dos Deputados/09-07-2024

Como toda decisão inusitada e voluntariosa, o anúncio feito por Eduardo Bolsonaro (PL-SP) de que vai se licenciar do mandato de deputado e permanecer nos Estados Unidos por tempo identerminado gerou uma série de especulações e várias tentativas de análise por parte de políticos e também daqueles envolvidos de alguma maneira com a investigação dos atos golpistas.

No Supremo Tribunal Federal há duas correntes de hipóteses: aqueles que veem o gesto de Eduardo como um sinal de que ele pode ter partido numa espécie de "missão precursora" para preparar o terreno para uma fuga ou um pedido de asilo político do ex-presidente Jair Bolsonaro, e os que creditam a decisão à necessidade de encontrar uma justificativa para a frustração pelo fato de Eduardo não ser indicado para a Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional da Câmara, como pretendia.

O presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos) já havia avisado ao governo, ao PT e ao próprio PL que não cederia à pressão para negar a presidência da comissão ao filho 03 de Bolsonaro. No domingo, avisou que comunicaria nesta terça-feira a decisão e marcaria a posse do deputado na Creden para o dia seguinte. Ele foi pego de surpresa pela reviravolta e, no início da tarde desta terça, recebeu o líder do PL, Sóstenes Cavalcanti, e os deputados da legenda Filipe Barros e Luciano Zucco, indicado pelo próprio Eduardo para assumir a comissão em seu lugar.

A aliados, o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, também se mostrou surpreso. Disse que havia confirmado a indicação de Eduardo e afirmou que, quando ele decidir retomar o mandato, o partido está disposto a substituir o presidente que venha a ser designado pelo filho do capitão.

Para os políticos, o medo de ter o passaporte retido pelo STF ditou o timing da decisão de Eduardo. A pressão da mulher teria pesado também. No primeiro momento, Jair Bolsonaro se opôs a que o filho se licenciasse do mandato, mas, depois, concordou que foi a melhor estratégia. O fato que desencadeou a decisão de não voltar ao Brasil, dizem pessoas próximas, foi a decisão de Alexandre de Moraes de remeter o pedido feito pelo PT para apreciação do procurador-geral da República, Paulo Gonet -- que, aliás, afastou a possibilidade nesta tarde.

Tanto investigadores quanto parlamentares concordam no diagnóstico que de Eduardo vai usar o período nos Estados Unidos para alardear ser vítima, assim como sua família, de uma perseguição por parte de Moraes e do STF. Vai tentar usar os contatos de que dispõe com a direita trumpista para cavar alguma moção de repúdio ou até sanção ao ministro e à corte --que, no entendimento de juristas brasileiros, são factoides inócuos, uma vez que tanto ele quanto o Supremo têm plena independência para suas ações no Brasil.

Por fim, cresce a especulação de que Bolsonaro estaria se preparando para pedir refúgio em alguma embaixada ou mesmo fugir do país. Essa crença é presente inclusive entre integrantes do sistema de Justiça. Apesar do inusitado dessas hipóteses, não custa lembrar que o mesmo Bolsonaro se alojou na embaixada da Hungria por dois dias durante o Carnaval em 2023, e que tem feito menções frenquentes ao fato de que não pretende deixar o país, mesmo sem ser perguntado.

Fonte: Globo.com