Dólar fecha a R$ 5,68, na menor cotação do ano, com estímulos na China; moeda chegou a valer R$ 5,66

Além de força econômica no país asiático, dados positivos no Brasil e expectativas para decisões de juros por aqui e nos EUA também impulsionaram real

Dólar fecha a R$ 5,68, na menor cotação do ano, com estímulos na China; moeda chegou a valer R$ 5,66
Cotação do dólar — Foto: Bloomberg Creative Photos

O dólar encerrou em forte queda de 0,99%, a R$ 5,686, em linha com a desvalorização da moeda vista no exterior. Esta é a menor cotação da divisa no ano. Um conjunto de fatores que contava com dados positivos na China, atividade aquecida no Brasil e expectativa de aumento no diferencial de juros em relação aos EUA, ajudou a pressionar a divisa. O bom humor também invadiu a Bolsa brasileira e o Ibovespa, principal índice de ações nacional, subiu 1,46%, a 130.834 pontos. Os juros futuros fecharam em queda.

A China irá adotar novas medidas para reavivar o consumo da população, aumentando a renda das pessoas, de acordo com a agência oficial de notícias Xinhua, como parte de um plano que se soma às recentes promessas do governo de apoiar a demanda em uma economia ameaçada pelas tarifas de Donald Trump.

As diretrizes, que vieram de um relatório do Conselho de Estado, estabeleceram outras medidas, como a estabilização dos mercados de ações e imobiliário e a oferta de incentivos para aumentar a taxa de natalidade do país.

A notícia beneficiou o real por conta da forte ligação da economia brasileira com a chinesa, já que a China é o maior parceiro comercial do Brasil, explica o diretor de câmbio para o Norte e Nordeste da B&T câmbio, Diego Costa.

— Se nosso maior cliente anuncia que está colocando estímulos para consumo, é benéfico para nós — aponta.

Paula Zogbi, gerente de research da Nomad, afirma que, caso esses novos incentivos se provarem eficientes, podem ser bastante positivos para o Brasil. Matheus Massote, sócio e especialista em câmbio da One Investimentos, indica que os estímulos somados ao fato de que Trump ainda não impôs tarifas diretas aos produtos brasileiros — e diante da expectativa que o Brasil possa ser menos afetado — beneficiam o real.

A divulgação de números mais fortes que o esperado sobre a atividade econômica chinesa também agradaram o mercado. O consumo, o investimento e a produção industrial chineses superaram as estimativas no início do ano, apontando sinais de resiliência para uma economia que ainda demanda estímulos.

A produção industrial no país apresentou crescimento anual de 5,9%, maior que os 5,3% projetados pelo mercado. Além disso, as vendas no varejo subiram 4% nos dois primeiros meses de 2025, uma aceleração sobre a alta de 3,7% registrada em dezembro, em sua melhor leitura desde outubro, informou a agência nacional de estatísticas da China.

Zogbi sinaliza que o otimismo ilustrado pelos dados econômicos chineses se espalhou não só para o Brasil, mas também para os outros mercados emergentes. Além da ligação entre a economia chinesa com estes países, os números positivos no país asiático impulsionaram parte das commodities — uma vez que a China, como segunda maior economia do mundo, é grande consumidora destes produtos.

Os países emergentes, por sua vez, são em boa parte exportadores de matérias-primas. A alta nas cotações ajuda, então, a impulsionar as moedas deste grupo de economias. A cotação do petróleo Brent, referência internacional negociada na Bolsa de Londres, fechou em alta de 0,69%, a US$ 71,07.

Para além dos dados fortes, Fernando Bento, CEO e sócio da FMB Investimentos, explica que o dólar já vem em uma trajetória de correção das fortes altas registradas em novembro e dezembro, após a vitória de Donald Trump na corrida presidencial americana.

Força de dados internos

Os dados mais fortes do IBC-Br, considerado uma prévia do PIB brasileiro, ajudaram a retomar o sentimento de que a economia do país segue aquecida e crescendo mais do que o mercado previa, sinaliza Marcio Riauba, head da mesa de operações da StoneX.

— Com isso cria-se expectativas de juros mais altos, tornando os investimentos em renda fixa mais atrativos, (e) também pode auxiliar no impacto nas contas externas, podendo impulsionar as exportações e melhorar o saldo comercial — afirmou.

Esta projeção de juros mais altos por conta de uma economia ainda aquecida também aumenta a expectativa do aumento do diferencial entre as taxas do Brasil e dos EUA. Nesta quarta-feira o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) decidirá a nova taxa Selic, que deverá crescer 1 ponto percentual para 14,25%, segundo guidance da própria autarquia.

Já nos EUA, a expectativa é de que as taxas permaneçam no mesmo patamar. Essa perspectiva de maior diferença entre os juros do Brasil e EUA costuma trazer capital para a renda fixa brasileira, que fica mais atrativa, como explicou Riauba. E, com isso, o real tende a se valorizar mais.

Ibovespa em escalada

A forte alta do Ibovespa também foi guiada pelo viés externo, com as ações ligadas a commodities impulsionando o índice. As maiores altas do dia, entretanto, ficaram por conta das ações ligadas à economia doméstica, beneficiadas pela queda dos juros futuros — que recuaram em toda curva, exceto na ponta curtíssima. A taxa para janeiro de 2026 foi a 14,745%. O DI para o mesmo mês em 2028 caiu a 14,28%, para janeiro de 2029 cedeu a 14,315% e no mesmo período em 2030 recuou a 14,44%.

As ações da Vamos (VAMO3) foram as maiores ganhadoras do dia, em alta de 6,08%, enquanto a maior queda foi da B3 (B3SA3), de 3,50%.

Rodrigo Marcatti, economista e CEO da Veedha Investimentos, aponta que a entrada de fluxo estrangeiro também tem beneficiado a Bolsa brasileira. Em 2025, o investidor internacional acumula superávit de mais de R$ 10 bilhões no segmento de ações já listadas na B3.

Fonte: Globo.com