Dólar fecha abaixo de R$ 5,70 pela primeira vez em mais de três meses

Moeda americana perde força globalmente após tarifas recíprocas não serem impostas imediatamente; dado de varejo americano mais fraco também alimenta apostas para corte no juro dos EUA

Dólar fecha abaixo de R$ 5,70 pela primeira vez em mais de três meses
Dólar — Foto: Adriana Toffetti/Agência O Globo)

O dólar aprofundou as perdas nesta sexta-feira e fechou abaixo de R$ 5,70 pela primeira vez desde 7 de novembro do ano passado. A moeda americana encerrou o dia valendo R$ 5,695, em queda de 1,26%. Agora, a moeda americana registra desvalorização de 7,8% em 2025.

O câmbio vem apresentando, desde o início do ano, a inversão da valorização expressiva que obteve a partir do fim do ano passado, quando alcançou os R$ 6,30.

No fim da tarde, com a divulgação da pesquisa Datafolha que apontou a avaliação negativa da população sobre o governo Lula alcançando 41%, o dólar aumentou, que passou o dia em desvalorização firme, aumentou a queda, furando o piso de R$ 5,70.

— Hoje, a pesquisa Datafolha fez preço. Elas (as pesquisas eleitorais) vão fazer preço, assim como foi em 2014, com mercado antevendo que um possível governo mais à direita (em 2027), pró-mercado, traz alívio ao câmbio — avalia André Valério, economista-sênior do Banco Inter.

Para Filipe Villegas, especialista da Genial Investimentos, a queda do câmbio reflete o impacto menor do que anteriormente esperado pelas medidas de tarifação de importados por Donald Trump:

“O que vemos acompanhando na realidade são práticas mais amenas. Sim, ele (Trump) está fazendo imposição de novas tarifas, mas com imposição de efeitos menores do que o mercado esperava. Por isso temos valorização de moedas emergentes e desvalorização do dólar” afirma Villegas, que também vê a valorização de moedas emergentes como reflexo da aproximação de uma resolução do conflito entre Ucrânia e Rússia.

Para Gustavo Okuyama, da Porto Asset, os estudos para implantação das tarifas recíprocas podem indicar que elas podem não ser efetivadas:

— O timing mais lento de imposição de tarifas tem sido entendido como uma vontade maior de negociar do que necessária implementar as tarifas em si — ele diz. No memorando, o governo americano prevê a análise de imposição das medidas tarifárias para abril.

Dados divulgados mais cedo, dados sobre as vendas no varejo americano em janeiro, que caíram para o menor nível em quase dois anos, ajudaram na leitura de desaquecimento da economia americana. Por lá, as vendas caíram 0,9% no primeiro mês do ano, o que aumentou as apostas de que a economia do país caminha para uma redução da inflação — o que alimenta as apostas para queda do juro americano.

Globalmente, a moeda americana também apresenta desvalorização. O índice DXY, que mede a moeda frente uma cesta de outras seis divisas de economias fortes, recuava 0,3%.

Moedas pares do real também se valorizavam frente o dólar: o rand, da África do Sul, subia 0,72% na comparação com a moeda americana, enquanto o peso mexicano se valorizava em 0,5%.

Divisas fortes também ganhavam: o euro subia 0,29%, enquanto a libra ganhava 0,33%.

Fatores domésticos

Ainda segundo Okuyama, os recentes dados de comércio e serviços no Brasil, demonstrando desaquecimento da economia, leva a um rearranjo do mercado do fim do atual ciclo de alta da Selic:

— Com uma queda relevante (na expectativa do fim do ciclo de alta a Selic), diante de resultado de dados de atividades mais fracos, observamos diversos ativos de risco performando bem em resposta a essa menor taxa de juros esperada — aponta.

Por: O Globo