Eleição na Alemanha: Conservadores vencem e extrema direita obtém melhor resultado desde Segunda Guerra

Friedrich Merz, líder da CDU, começa a projetar formação de novo governo; apesar do resultado, Alternativa para a Alemanha representa 20,8% dos eleitores alemães

Eleição na Alemanha: Conservadores vencem e extrema direita obtém melhor resultado desde Segunda Guerra
Líderes dos partidos alemães participam de debate televisivo após as eleições deste domingo — Foto: Stefanie Loos/AFP

Os alemães votaram ontem por uma guinada histórica no comando do país, com a centro- direita e a extrema direita se consolidando como as duas maiores forças políticas, mostraram as pesquisas de boca de urna. A apuração até o fim desta edição indica que a coalizão entre a União Democrata Cristã (CDU) e a União Social Cristã (CSU) — por anos dirigida pela ex-chanceler Angela Merkel, agora liderada por Friedrich Merz — será a mais votada, com 28,5%. O conservador de 69 anos iniciará imediatamente negociações para a formação do novo governo, que substituirá o do social-democrata Olaf Scholz, de centro-esquerda.

O comparecimento recorde desde a unificação do país em 1990, estimado em 83,5% dos eleitores, foi apontado por analistas como uma das razões da provável fragmentação ainda maior do Bundestag, o Parlamento alemão. Ao duplicar sua votação em relação ao pleito anterior, de 2021, o Alternativa para a Alemanha (AfD), sigla de extrema direita que recebeu apoio direto do bilionário Elon Musk durante a campanha, deve ter 20,8% dos votos. Foi o melhor resultado de um partido radical no país desde o fim da Segunda Guerra, o que despertou reações das demais siglas.

O partido deverá se tornar a maior força de oposição do país, já que Merz prometeu aos eleitores não governar com os extremistas.

Primeiras reações

Merz comemorou a vitória e admitiu que o processo de construção de alianças será complexo. Os resultados parciais indicam que o conservador terá que fazer uma coalizão não apenas com o SPD, reduzido à terceira força, e parceiro ocasional nos 15 anos de governo Merkel, mas também com Os Verdes.

— A Europa espera que tenhamos um governo forte em breve e tenho certeza que o formaremos até a Páscoa — disse Merz.

Friedrich Merz, líder do CDU, fala com apoiadores após divulgação dos primeiros resultados das urnas — Foto: Odd Andersen/AFP
Friedrich Merz, líder do CDU, fala com apoiadores após divulgação dos primeiros resultados das urnas — Foto: Odd Andersen/AFP

Scholz, que amargou a queda de quase 10 pontos percentuais do SPD em relação a 2021, com 16,4% do total, e foi penalizado por uma crise econômica agravada após a invasão russa na Ucrânia, há três anos, a imposição de sanções por Berlim e o fim do gás barato de Moscou, reconheceu a derrota e já acenou aos conservadores:

—É preciso nos ater ao que sempre defendemos, não governar com a extrema direita.

A co-líder da AfD, Alice Weidel, afirmou que o resultado de ontem confirmou o seu como “o partido do povo” — ignorando o fato de militantes terem sido flagrados fazendo gestos e usando slogans de orientação nazista, alvo de investigações e até prisões. Ela classificou o veto prévio a uma aliança governista com o CDU de “fraude eleitoral”.

— Estamos preparados para governar com qualquer um — disse Weidel, enfatizando que os alemães votaram por mudança. — E eles querem uma coalizão da direita.

A co-líder do partido de extrema-direita AfD e candidata a chanceler Alice Weidel e o co-líder do partido Tino Chrupalla comemoram com membros do partido durante as eleições em Berlim — Foto: RALF HIRSCHBERGER / AFP
A co-líder do partido de extrema-direita AfD e candidata a chanceler Alice Weidel e o co-líder do partido Tino Chrupalla comemoram com membros do partido durante as eleições em Berlim — Foto: RALF HIRSCHBERGER / AFP

O presidente dos EUA, Donald Trump, postou na rede Truth Social que “o povo da Alemanha se cansou da agenda do senso comum, especialmente sobre energia e imigração”. Mas, embora Merz, o provável chanceler, seja um conservador clássico, que compartilha com o republicano a agenda de uma Europa menos dependente de Washington em Defesa, o líder da CDU é ferrenhamente pró-Ucrânia.

— Jamais pensei que precisaria dizer, mas após as declarações de Trump na semana passada, está claro: este governo americano não se importa com a Europa — afirmou.

O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, o saudou via redes sociais: “Estamos ansiosos para continuar nosso trabalho conjunto com a Alemanha afim de proteger vidas, trazer a paz real mais perto da Ucrânia e fortalecer a Europa”.

Negociações

Como a CDU-CSU não conquistará maioria no Bundestag, a maior possibilidade hoje para Merz é a de reeditar uma aliança com o SPD e Os Verdes, o que complicaria seu xadrez. A cartilha ambiental do partido de centro-esquerda bate com a visão pró-recuperação industrial do CDU. A eventual coalizão, apelidada de Quênia pelas cores dos partidos (preto, vermelho e verde, tal qual a bandeira do país africano), sofre resistência da mais direitista CSU. Seu líder, Markus Söedel, afirmou que “seria melhor” governar sem a sigla.

O outro partido com representação garantida no Bundestag é, em desempenho surpreendente, A Esquerda, os ex-comunistas, que conquistou a maioria dos votos dos jovens ontem, venceu em Berlim e teve 8,8% do total. Mas a sigla já anunciou que pretende seguir na oposição em um eventual governo Merz.

Fonte: Globo.com