Empresário preso pela PF usou familiares para lavar dinheiro de mineradora investigada por garimpo ilegal, aponta investigação

No esquema, Matheus Possebon teria recebido mais de R$ 1,18 milhão da mineradora. Empresário nega as acusações e chamou a prisão de "violência". Operação Disco de Ouro também mirou garimpeiros.

Empresário preso pela PF usou familiares para lavar dinheiro de mineradora investigada por garimpo ilegal, aponta investigação
Matheus Possebon foi preso pela PF de Santos após desembarcar do cruzeiro temático de Alexandre Pires — Foto: Reprodução/Redes sociais

A Investigação da Polícia Federal (PF) aponta que o empresário Matheus Possebon, que gerencia a carreira do cantor Alexandre Pires, usou familiares para lavar dinheiro da empresa Betser, investigada por suspeita de garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami. O empresário negou as acusações e chamou a prisão de "violência".

A apuração da PF resultou na operação Disco de Ouro, que também teve como alvo Alexandre Pires. Possebon e o dono da Betser, Christian Costa dos Santos, foram presos. O cantor teve o celular apreendido e responde em liberdade.

Nas investigações, a PF identificou três núcleos: financeiro, logístico e laranjas. Possebon foi identificado como suspeito de integrar o núcleo financeiro. Ele também foi apontado como sócio oculto da Betser.

As buscas da operação foram no navio em que o cantor estava, em Santos, litoral de São Paulo, na segunda-feira (4). O empresário foi preso no navio.

No esquema, ele teria recebido mais deR$ 1,18 milhão da mineradora. Familiares dele também teriam recebido valores. Segundo a PF, foram beneficiados no esquema os seguintes familiares de Possebon:

  • Irmão e nora - R$ 435 mil;
  • Primo - R$ 86.500 mil;
  • Irmã - R$ 30 mil;
  • Cunhado - R$ 7 mil.

Além disso, o contador do empresário recebeu R$ 10 mil da empresa. A PF apontou que Christian dos Santos atuava como "sócio ostensivo" e Possebon como "sócio oculto" da Betser. Segundo a PF, juntos, eles "retiraram quantidades altas de minério e lavando milhões de reais".

"Evidenciando-se que a prática de crimes é a principal fonte de renda (R$ 127.723.673,75, dos quais R$ 95.393.798,75 são provenientes da Betser de Roraima nos anos 2021 e 2022), com o intuito de integrar o patrimônio milionário, com aparência lícita, ao Sistema Financeiro Nacional", cita trecho da decisão.

Possebon disse que a prisão "é uma violência" e foi "decretada por conta de uma única transação financeira com uma empresa que ele não mantém qualquer relação comercial".

O cantor Alexandre Pires é investigado por ter recebido R$ 1.382.000 da mineradora. Do total, o cantor recebeu R$ 357 mil em uma conta pessoal e mais R$ 1.025.000 em uma conta jurídica.

As investigações apontam que a empresa dele transferiu R$ 160 mil para um dos investigados, um indício de que o cantor ignorou a origem do dinheiro e assumiu o risco de ser proveniente de origem criminosa, segundo a Polícia Federal. O cantor nega as acusações.

Dinâmica

Operação Disco de Ouro mira garimpeiros, empresários e até um cantor nacional. — Foto: PF/Divulgação

Operação Disco de Ouro mira garimpeiros, empresários e até um cantor nacional. — Foto: PF/Divulgação

O inquérito policial indica que o esquema seria voltado para a “lavagem” de cassiterita retirada ilegalmente da TIY, no qual o minério seria declarado como originário de um garimpo regular no Rio Tapajós, em Itaituba, no Pará, e supostamente transportado para Roraima para tratamento.

Cassiterita é um metal usado para produzir ligas como as folhas de flandres, utilizadas na fabricação de latas de alimentos, no acabamento de carros, na fabricação de vidros e até na tela dos celulares. As investigações apontam que a dinâmica ocorreria apenas no papel, já que o minério seria originário do próprio estado de Roraima.

Foram identificadas transações financeiras que relacionariam toda a cadeia produtiva do esquema, com a presença de pilotos de aeronaves, postos de combustíveis, lojas de máquinas e equipamentos para mineração e laranjas para encobrir movimentações fraudulentas.

Operação Disco de Ouro

A Operação foi deflagrada nessa segunda-feira (4). Foram cumpridos dois mandados de prisão e seis de busca e apreensão, expedidos pela 4ª Vara Federal da Seção Judiciária de Roraima, em Boa Vista e Mucajaí, em Roraima, além de São Paulo e Santos (SP), Santarém (PA), Uberlândia (MG) e Itapema (SC). Também foi determinado o sequestro de mais de R$ 130 millhões dos suspeitos.

A operação é um desdobramento de uma ação da PF deflagrada em janeiro de 2022, quando foram apreendidas 30 toneladas de cassiterita extraída da Terra Indígena Yanomami. O minério estava no depósito da sede de uma empresa investigada era preparado para remessa ao exterior.

As investigações seguem em andamento.

Agente da Polícia Federal durante a operação Disco de Ouro. — Foto: PF/Divulgação

Agente da Polícia Federal durante a operação Disco de Ouro. — Foto: PF/Divulgação

Por: G1