Ex-secretário relata 'ênfase' de Mayra Pinheiro por tratamento com drogas sem eficácia às vésperas do colapso em Manaus
Marcellus Campêlo prestou depoimento à CPI da Covid nesta terça. Também em depoimento, secretária do Ministério da Saúde admitiu orientação de uso de remédio sem eficácia.
O ex-secretário de Saúde do Amazonas Marcellus Campêlo afirmou nesta terça-feira (15) à CPI da Covid que a secretária do Ministério da Saúde Mayra Pinheiro, em visita a Manaus dias antes do colapso na cidade, deu ênfase ao tratamento com drogas sem eficácia para a Covid.
Campêlo prestou depoimento à comissão e foi questionado sobre o colapso na capital do estado, no início do ano. Houve falta de oxigênio em hospitais, e pacientes precisaram ser transferidos para outros estados; dezenas de pacientes morreram.
Também em depoimento à CPI, Mayra admitiu que o Ministério da Saúde recomendou o uso da cloroquina contra a Covid, remédio comprovadamente ineficaz contra a doença.
"No dia 4 de janeiro recebemos a doutora Mayra Pinheiro, na primeira reunião pela manhã 8 horas no auditório do Hospital Delphina Aziz, onde foi convocada, a sua assessoria convocou [...] e vimos uma ênfase da doutora Mayra Pinheiro em relação ao tratamento precoce", afirmou Campêlo.
Esse tipo de tratamento, defendido pelo presidente Jair Bolsonaro e aliados, envolve remédios que não têm eficácia contra a Covid.
Mayra Pinheiro deu depoimento na CPI em maio. Ela afirmou que o ministério somente estabeleceu doses seguras para a utilização por médicos, que teriam autonomia para prescrevê-los.
Pouco depois da visita oficial que ela fez a Manaus, quando a cidade já dava sinais da segunda onda da pandemia, a capital amazonense viveu o colapso na saúde pública, com disparada de casos de Covid, falta de filas na UTI, escassez de oxigênio hospitalar e aumento no número de mortes.
Na sessão desta terça na CPI, a representante da bancada feminina, Eliziane Gama (Cidadania-MA) abordou o envio de hidroxicloroquina ao Amazonas.
Segundo a senadora, no dia 8 de janeiro, "Mayra Pinheiro envia 120 mil comprimidos de hidroxicloroquina".
O ex-secretário explicou que o estado estava com "o estoque zerado". Ele confirmou que o lote era para "tratamento da Covid". "Na rede estadual não faz atendimento precoce, não orientava uso da cloroquina para atendimento da Covid. Isso é ato médico, que cada um faz de acordo com sua opinião", disse o depoente.
Matéria: www.g1.globo.com