Ibovespa afunda quase 4% com aumento da tensão político-institucional no país
O Ibovespa afundou quase 4% nesta quarta-feira, marcando a maior queda diária em seis meses, refletindo preocupações com a pauta econômica do país diante do aumento da tensão político-institucional, após declarações do presidente Jair Bolsonaro durante manifestações no Dia da Independência, na véspera
Índice de referência do mercado acionário brasileiro, o Ibovespa fechou em queda de 3,78%, 113.412,84 pontos, mínima de fechamento desde 24 de março e maior perda percentual diária desde 8 de março. O volume financeiro no pregão totalizou 36,9 bilhões de reais.
Milhares de pessoas participaram de atos convocados por Bolsonaro no 7 de Setembro, marcados por ataques a ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), com o chefe do Executivo ameaçando descumprir ordens judiciais.
As falas do presidente elevaram o patamar das discussões na classe política, com partidos condenando as declarações e alguns prometendo monitorar os próximos eventos para avaliar um eventual apoio a um processo de impedimento contra o presidente.
O presidente do STF, Luiz Fux, também reagiu com tom crítico nesta quarta-feira sobre as declarações de Bolsonaro, enquanto o presidente da Câmara dos Deputados adotou um viés menos duro.
Mesmo avaliando que as chances de um impeachment permanecem baixas, analistas chamaram atenção para um aumento no impasse institucional, que pode dificultar negociações de reformas como a tributária e administrativa no Congresso, além de atrapalhar as discussões temas como os precatórios, entre outros reflexos.
"O ruído político aumentou consideravelmente... O investidor fica sem confiança e, na dúvida, vende", afirmou o sócio e economista da VLG Investimentos, Leonardo Milane.
Para ele, o tom dos discursos de Bolsonaro sinalizam que a situação não deve melhorar do dia para a noite. "Não parece que ele está na iminência de tomar um chá de consciência e começar a reformular o que disse; pelo contrário, a temperatura política esquentou e permanecerá quente por mais tempo."
A reação negativa também contaminou o mercado de câmbio, com o dólar subindo 2,84%, a 5,3236 reais, maior alta desde junho do ano passado, bem como as taxas dos contratos de DI, com forte aumento da inclinação da curva futura de juros do país.
"O cenário político nacional voltou a preocupar e a aversão ao risco tomou conta", afirmou o analista da Aware Investments Aldo Filho, acrescentando que traz apreensão o distanciamento entre os Poderes, "cuja sinergia é necessária para a aprovação de medidas relevantes para controle fiscal".
As negociações ainda tiveram de pano de fundo o declínio dos pregões norte-americanos, com receios sobre os efeitos da variante Delta da Covid na recuperação econômica e incerteza sobre quando os próximos passos do Federal Reserve.
DESTAQUES
- LOCALIZA ON e UNIDAS ON dispararam 8,03% e 7,23%, respectivamente, após a Superintendência-Geral do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) recomendar a aprovação da fusão das duas companhias com a adoção de remédios que mitiguem riscos concorrenciais, que analistas consideraram mais brandos que o esperado.
- ITAÚ UNIBANCO PN caiu 4,74% e BRADESCO PN recuou 5,76%, em meio ao ambiente avesso a risco, após as manifestações na véspera reforçarem perspectivas de desmobilização das pautas econômicas. No setor financeiro, B3 ON desabou 8,38%.
- PETROBRAS PN perdeu 5,63%, descolada da alta dos preços do petróleo no exterior, também sofrendo com o clima tenso no cenário local. Também no radar estão manifestações em estradas federais do Sul do Brasil estão bloqueando pontualmente o tráfego de caminhões nesta quarta-feira.
- VALE ON recuou 2,08%, sofrendo com ajustes ao declínio de 1,9% de seu ADR na véspera em Nova York, em mais uma sessão de queda do setor de mineração e siderurgia, com nova sessão de fraqueza dos preços do minério de ferro. USIMINAS PNA caiu 5,74%, com dados da indústria automotiva brasileira também no radar.
- MÉLIUZ ON, que entrou no Ibovespa nesta semana, desabou 11,36%, a 31,20 reais. Acionistas da companhia aprovaram recentemente desdobramento das ações de 1 para 6. Os papéis serão negociados ex-desdobramento a partir de sexta-feira. Desde a máxima no final de julho, a ação acumula queda de quase 60%.
Matéria com créditos à Paula Arend Laier do Portal UOL