Implantação de chip cerebral da 'Neuralink', de Elon Musk, divide opiniões de especialistas; veja como funciona
Chip do tamanho de uma moeda de R$1 implantado na cabeça de um ser humano pela primeira vez nesta semana ainda precisa ser testado. O pesquisador Miguel Nicolelis, pioneiro no estudo da interação do cérebro com as máquinas, vê com ceticismo os experimentos de Elon Musk.
O bilionário Elon Musk anunciou nesta semana que uma de suas empresas, a Neuralink, implantou o primeiro chip no cérebro de um ser humano. O projeto foi apresentado como uma grande novidade tecnológica, de conexão sem fio da mente humana com os computadores.
O Fantástico deste domingo (4) conversou com especialistas para saber se esse chip possibilitará a integração entre cérebro e máquina ou se é apenas mais uma ação de marketing de Musk.
Segundo a Neuralink, um dia depois da operação o paciente com chip cerebral implantado passa bem. O chip é o mesmo que um macaco havia recebido há quase três anos e teve vídeo divulgado pela empresa jogando um jogo apenas com o pensamento. Veja como o chip funciona abaixo.
Como funciona o chip
- O chip em si, que contém o processador, tem o tamanho de uma moeda de R$1 e é instalado na parede interna do crânio por um neurocirurgião.
- O que entra mesmo no cérebro são 64 filamentos, mais finos que um fio de cabelo, bem flexíveis, com 16 eletrodos cada. Os filamentos são inseridos no cérebro por um robô-cirurgião da Neuralink.
- Esses filamentos captam os sinais do cérebro numa quantidade dez vezes maior do que equipamentos utilizados até agora e mandam tudo para o chip.
"Ele (o chip) vai ler a informação que trafega no cérebro e vai tentar decodificar essa informação, transformando essa informação em alguma aplicação", explica Garcia Rosa, pesquisador da USP.
Entretanto, ainda não se sabe exatamente qual seria a aplicação desse chip cerebral nos trabalhos da Neuralink. Isso porque a empresa só revela o que seu dono, Elon Musk, compartilha no X (antigo Twitter), rede social que também é dele.
Com isso, seria possível converter um pensamento, que está no cérebro, em uma ação concreta, como mover um braço mecânico, um esqueleto externo, jogar videogame ou se comunicar de alguma maneira.
Mesmo com todos os segredos da Neuralink, especialistas deduzem que o implante de chip no ser humano deve ter relação com a área cerebral que controla os movimentos, dada a natureza de voluntários que a empresa procura: pessoas que ficaram tetraplégicas devido à lesão na coluna ou que tenham esclerose lateral amiotrófica, uma doença degenerativa.
Chip divide opiniões de pesquisadores
Os especialistas ouvidos pelo Fantásticose espantaram com a implantação do chip em um humano e tiveram opiniões divididas sobre os benefícios do chip e se o aparelho terá sucesso funcionando dentro do cérebro humano.
A doutora Giselle está esperançosa com a novidade, mas alerta que ainda é muito cedo para saber se o chip vai dar certo em seres humanos.
"A cirurgia aconteceu nesta semana, então tem toda uma análise a ser feita de pós-operatório, de possíveis complicações que possam acontecer, relacionadas ou não ao procedimento (...) sou muito otimista com a inovação tecnológica nesse sentido, especialmente para restabelecer a independência de pacientes que são neurologicamente comprometidos, ou pós-trauma ou pós-doenças degenerativas", diz Giselle.
O pesquisador brasileiro Miguel Nicolelis, pioneiro no estudo da interação do cérebro com as máquinas, ele vê com ceticismo os anúncios de Elon Musk. Nicolelis é professor emérito da Universidade Duke, nos Estados Unidos, e já tinha colocado um macaquinho para jogar videogame com o cérebro no início deste século.
"(O chip cerebral de Elon Musk) vai fazer as pessoas conversarem com o computador? Download do cérebro, upload, isso tudo é absurdo. Isso tudo não tem a menor base científica e eu acredito que nunca vai acontecer (...) primeiro que a gente nem sabe o que está acontecendo, só o tweet do Elon Musk não tem absolutamente significado algum para a comunidade científica", afirma Nicolelis.
O pesquisador da USP Garcia Rosa se mostrou esperançoso com a implantação do chip, que teve aprovação do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos (FDA, em inglês).
"Eu acho que eles (Neuralink) são bastante atenciosos em relação a isso, da saúde do ser humano, então a gente tem esperança que seja bom para a humanidade. Acho que (chips no cérebro) é caminho meio sem volta, né?", diz Garcia Rosa.
Por: G1