Jovens de todo o país falam sobre expectativa do 1º voto; prazo para tirar título acaba dia 4
Mais de 1 milhão de eleitores entre 15 e 18 anos se cadastraram para as eleições de outubro; a CNN ouviu cinco deles sobre as preparações para o pleito
Jovens de 16 e 17 anos que quiserem exercer o direito facultativo ao voto em 2022 têm até 4 de maio para solicitar à Justiça Eleitoral o título de eleitor. Apenas nos três primeiros meses do ano, 1.144.481 pessoas nessa faixa etária se cadastraram e vão escolher pela primeira vez seus representantes nas urnas.
O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) realizou nos últimos meses uma campanha para incentivar o cadastramento de novos eleitores, num movimento que contou com a adesão espontânea de personalidades como Anitta, Juliette, Zeca Pagodinho e Whindersson Nunes.
Na sexta-feira (29) o ator Leonardo DiCaprio usou sua conta no Twitter para reforçar a campanha. “O Brasil é o lar da Amazônia e de outros ecossistemas críticos para as mudanças climáticas. O que acontece lá importa para todos nós, e a votação entre os jovens é chave para motivar mudanças por um planeta saudável”, escreveu.
As emissões de novos títulos em 2022 superaram as registradas nas últimas duas eleições gerais, de 2014 e 2018, quando ficaram abaixo de 900 mil por ano.
Apenas entre 14 e 18 de março, quando o TSE promoveu a Semana do Jovem Eleitor ― divulgada também pelas celebridades ― mais de 100 mil novos títulos foram emitidos.
O papel dos jovens nas eleições
Apesar da crescente mobilização, um levantamento da CNN com base em dados do TSE mostrou que a quantidade de brasileiros de 16 e 17 anos que solicitaram o título de eleitor caiu 82% em uma década.
Segundo o analista do tribunal Diogo Cruvinel, o fenômeno se deve ao envelhecimento da população: “A pirâmide etária está se invertendo”.
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), cerca de 6 milhões de brasileiros estão nessa faixa etária. Menos de 20% deles optaram por votar ― no Brasil, o voto é obrigatório a partir dos 18 anos.
De acordo com o TSE, pouco mais de 1 milhão de pessoas integram esse eleitorado, o que representa cerca de 0,71% do total de votantes. O número, aparentemente pequeno, pode ser suficiente para retirar ou colocar um candidato no segundo turno e influenciar a formação do Congresso.
Para saber qual relação dos novos eleitores com a política, com os candidatos e quais as expectativas para as eleições de 2022, a CNN ouviu jovens das cinco regiões do país. Leia a seguir os depoimentos:
Julia, de Manaus-AM / Arquivo pessoal
Júlia Teixeira, 16, Manaus (AM)
Estudante do ensino médio na capital amazonense, é filha de uma enfermeira e de um engenheiro civil. Pretende seguir carreira militar.
Quando meus pais iam votar, sempre ficava muito animada. Achava uma coisa de outro mundo. Eu sempre os acompanhava até o momento de entrar na cabine. Ver todo mundo empolgado para votar, fazendo campanha, me interessava. Eu sempre quis entrar na cabine e apertar o botão verde.
Queria muito chegar ao momento de ir por conta própria, sem depender dos meus pais. Agora que está chegando, estou ansiosa. Com medo de chegar lá e não saber o que fazer na hora.
Até o momento, eu só tirei meu título [eleitoral] online, não tenho o físico. Não fiz biometria por causa da pandemia.
As obrigações do colégio têm me impedido de acompanhar a política ultimamente, mas sempre vejo os jornais e reportagens no jantar. Meus pais estão sempre assistindo e conversam sobre isso. Não fico tão informada, mas o suficiente para saber o que está acontecendo no Brasil.
Quando há reuniões de família, aniversários, um ou outro [familiar] toca no assunto da política. Aí, começa o conflito: uma parte defende um político; outra critica, prefere outro. Uma parte me dá pontos positivos de um, a outra faz a mesma coisa com o outro. Fica essa confusão.
Eu ainda não decidi em quem vou votar. Tanto na minha cidade quanto no meu país, penso que estão acontecendo muitos assaltos, muitos crimes, corrupção e outras coisas. Eu quero que as coisas sejam mais organizadas, melhores, no país. Que não seja essa bagunça toda. Na minha cidade, também.
Queria políticos que não só falassem, mas fizessem. Eu espero que meu voto ajude. Se eu me interessar por algum candidato, vou acompanhar as entrevistas, tudo. Vou fazer campanha.
Antoniely, de Pontes e Lacerda-MT / Arquivo pessoal
Antoniely Silva, 18, Pontes e Lacerda (MT)
Estudante de zootecnia na Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT), é trabalhadora autônoma e vende brigadeiros na cidade de Pontes e Lacerda (MT).
Desde pequena, ouço meus pais contarem sobre o dia de ir votar. Você entra naquela caixinha, na urna, e vota. Eu sempre ouvi muito sobre isso, mas minha família não conversa muito comigo sobre política. Não chegaram a me incentivar a votar. Eu tenho que saber um pouco sobre os candidatos.
Acredito que, quando a eleição estiver chegando, vou ler alguma coisa, um post sobre o assunto. Mas só quando estiver chegando. Eu não assisto muito à televisão, então me informo nas páginas que sigo na internet.
Fiz 18 anos agora em abril. É por isso que vou votar, não porque quero. Não tenho nenhum sentimento mais forte com relação a votar pela primeira vez. Na verdade, nem fiz meu título de eleitora ainda [risos]. Não é algo em que eu pense muito.
Acho que quem vota tem muita responsabilidade, mesmo. Você escolhe um presidente, vota nele e, então, ele faz coisas que você pensa: “Nossa, eu votei para isso?”. Queira ou não, você ajudou a colocar ele lá, é sua responsabilidade. Deve ser uma decepção.
Eu temo me decepcionar com meu voto.
Por CNN Brasil