Lula demite número 2 da Abin após investigação liga-lo a sistema espião

Lula demite número 2 da Abin após investigação liga-lo a sistema espião
Alessandro Moretti, diretor-adjunto da Abin no governo Lula Imagem: Luiz Silveira/ Agência CNJ

O presidente Lula (PT) exonerou hoje Alessandro Moretti, diretor-adjunto da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), após investigação da Polícia Federal ligá-lo à chamada "Abin paralela".

O que aconteceu

  • Segundo fontes ligadas ao Planalto, o presidente assinou a exoneração no início da noite. Deverá sair uma edição extra do DOU (Diário Oficial da União) ainda hoje.
  • Na última semana, Moretti foi citado nominalmente pela PF por suposto conluio com investigados em esquema de monitoramento ilegal na agência durante o governo de Jair Bolsonaro (PL). Ainda sem confirmação, o nome de Marco Aurélio Cepik, de servidor de carreira da Abin e de origem dos movimentos de esquerda, é um dos principais cotados.
  • A decisão foi tomada após uma longa reunião com os ministros Rui Costa (Casa Civil) e Alexandre Padilha (Relações Institucionais) ontem (29). A Abin, tradicionalmente parte do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), foi transferida por Lula para a Casa Civil, o que, esperava o presidente, diminuiria a tendência de bolsonarização do órgão.
  • No Planalto, Moretti é tido abertamente como "bolsonarista", mas Lula justificou sua manutenção por indicação do atual chefe da Abin, Luiz Fernando Corrêa. A demissão de Corrêa chegou a ser debatida na reunião, mas o presidente decidiu segurá-lo no cargo — pelo menos por ora.
  • Lula já havia dito em entrevista que não havia clima para Moretti continuar. Segundo ele, "está sendo provado" que Moretti mantinha relação com ex-integrantes do governo passado, a exemplo do deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ), que foi chefe da Abin.

"Esse companheiro [Corrêa] montou a equipe dele, dentro da equipe dele tem um cidadão [Moretti] que é o que está sendo acusado, que mantinha relação com o Ramagem, que é o ex-presidente da Abin no governo passado, inclusive relação que permaneceu já durante o trabalho dele na Abin. Olha, se isso for verdade, e isso está sendo provado, não há clima para esse cidadão continuar na polícia".
Lula, em entrevista hoje

Quem é Moretti

Delegado da PF, ele foi ex-braço direito de Anderson Torres. Moretti atou como secretário-executivo da Segurança Pública do Distrito Federal entre 2019 e 2021, na primeira gestão de Torres.

Moretti foi diretor de Inteligência Policial (2022 a 2023) e de Tecnologia da Informação e Inovação (2021 a 2022) da PF na gestão Bolsonaro. Também foi diretor de Gestão e Integração de Informações da Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp), em 2020.

No início dos anos 2000, Moretti foi um dos responsáveis por investigar a guerra dos caça-níqueis no Rio de Janeiro. Ele também atuou na investigação que prendeu o maior contrabandista do país, o empresário Law Kin Chong, em São Paulo.

O que foi a operação sobre 'Abin paralela'

A PF cumpriu mandados de busca e apreensão na segunda-feira (29) contra pessoas do núcleo político que receberam informações da "Abin paralela". 

Segundo as investigações, a Abin foi usada durante o governo Bolsonaro para espionar adversários políticos.

Um dos alvos da operação de ontem foi o vereador carioca Carlos Bolsonaro (Republicanos), filho do ex-presidente. A busca e apreensão foi autorizada na residência de Carlos e no seu gabinete na Câmara Municipal do Rio.

A PF também fez buscas numa casa em Angra dos Reis (RJ). Os irmãos Carlos, Flávio e Eduardo e o ex-presidente Jair Bolsonaro estavam no local.

Por: Uol