Lula diz que é contradição com a transição energética, mas faz questão de explorar petróleo na bacia da Foz do Amazonas

Região é considerada a mais nova fronteira exploratória brasileira em águas profundas e ultraprofundas. Ela se estende por mais de 2.200 km ao longo da costa entre o Rio Grande do Norte e o Oiapoque, no Amapá.

Lula diz que é contradição com a transição energética, mas faz questão de explorar petróleo na bacia da Foz do Amazonas
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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) admitiu nesta terça-feira (18) que a decisão de explorar as reservas de petróleo na chamada Margem Equatorial, próximo à Foz do Amazonas, é uma contradição em relação ao discurso ambiental do seu governo.

"É contraditório? É, porque nós estamos apostando muito na transição energética. Ora, enquanto a transição energética não resolve o nosso problema, o Brasil tem que ganhar dinheiro com esse petróleo."
— Lula, presidente

A declaração foi dada em entrevista à Rádio CBN ao ser questionado sobre o desalinhamento entre lamentar o desastre climático do Rio Grande do Sul e investir em combustíveis fósseis, como a exploração de petróleo na margem equatorial, que especialistas apontam como fator importante nas mudanças climáticas. O presidente negou a contradição entre os dois casos.

No entanto, admitiu contradições entre o discurso ambiental e a decisão de investir em exploração de petróleo, um combustível fóssil, ao mesmo tempo que fala em investir em transição energética, que se baseia, justamente, em abandonar esse tipo de fonte.

Em 2023, por exemplo, durante a conferência do clima da Organização das Nações Unidas (ONU), a COP 28, o governo assumiu um compromisso com a transição energética. Essa é também uma pauta do Ministério do Meio Ambiente.

O discurso parece ter mudado de rota quando em abril a Petrobras descobriu uma acumulação de petróleo em águas ultraprofundas da Bacia Potiguar, no poço exploratório Anhangá, na margem equatorial brasileira.

A margem equatorial se estende por mais de 2.200 km ao longo da costa entre o Rio Grande do Norte e o Oiapoque, no Amapá. A região é considerada a mais nova fronteira exploratória brasileira em águas profundas e ultraprofundas, e já foi chamada de "novo pré-sal".

Mapa com os Estados das Bacias da Margem Equatorial — Foto: Divulgação

Mapa com os Estados das Bacias da Margem Equatorial — Foto: Divulgação

A possibilidade de explorar petróleo nessa região é criticada por ambientalistas que apontam riscos de tragédias ambientais, afetando o território amazônico — uma outra região apontada como prioritária pelo governo na questão ambiental.

Em maio, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) negou licença para a Petrobras perfurar poço de petróleo no litoral do Amapá. À época, a ministra Marina Silva, disse que a decisão foi técnica e que teria que ser respeitada.

Na decisão, o órgão apontou que o plano da Petrobras para a área não apresenta garantias para atendimentos à fauna em possíveis acidentes com o derramamento de óleo. Além de ter lacunas quanto a previsão de impactos da atividade em três terras indígenas em Oiapoque.

Durante entrevista à rádio CBN, o presidente sinalizou que apesar da decisão do Ibama, o caso não está resolvido, ao dizer que não dá para abrir mão de uma fonte de riqueza.

"O problema é que o Ibama tem uma posição, o governo pode ter outra posição. Em algum momento eu vou chamar o Ibama, a Petrobras e o Meio Ambiente na minha sala para tomar uma decisão. Esse país tem governo e esse governo reúne e decide. Se as pessoas podem ter posições técnicas, vamos debater tecnicamente. O que não dá é para a gente dizer a priore que vai abrir mão de explorar uma riqueza que se for verdade as previsões é uma riqueza muito grande para o Brasil."
— Lula, presidente.
Fonte: G1