Lula escolhe Gleisi para comandar a articulação política no lugar de Padilha
Nova ministra vinha sofrendo resistências do Centrão nos bastidores, mas mantém boa relação com Motta e Alcolumbre

O presidente Luiz Inácio Lula Silva anunciou a deputada federal Gleisi Hoffmann (PT-PR) como ministra das Relações Institucionais. Ela assumirá o cargo no dia 10 de março. Presidente do PT, Gleisi viaja nesta tarde com Lula para a posse do novo presidente do Uruguai, Yamandú Orsi.
Em conversas com auxiliares nos últimos dias, Lula vinha demonstrando preferência pelo nome de Gleisi, que foi ministra da Casa Civil no governo de Dilma Rousseff e coordenou a campanha à Presidência em 2022. O presidente relembrou a interlocutores que Gleisi foi responsável por construir a aliança do pleito em que Lula derrotou Jair Bolsonaro, então candidato à reeleição.
Nas redes sociais, o presidente da República disse que Gleisi irá "somar" ao governo.
"A companheira e deputada federal Gleisi vai integrar o governo federal. Vem para somar na Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da República, na interlocução do Executivo com o Legislativo e demais entes federados. O Padilha assumirá o Ministério da Saúde. Bem-vinda e bom trabalho", escreveu Lula.
Já a própria Gleisi defendeu o diálogo e o exercício da política.
"Sempre entendi que o exercício da política é o caminho para avançarmos no desenvolvimento do país e melhorar a vida do nosso povo. É com este sentido que seguirei dialogando democraticamente com os partidos, governantes e lideranças políticas , como fiz nas posições que ocupei no Senado Federal, na Câmara dos Deputados, na Casa Civil, na Diretoria de Itaipu e, atualmente, na presidência do PT".
A escolha também abre caminho para resolver a sucessão no PT. O favorito de Lula é o ex-ministro Edinho Silva, mas havia o entendimento no Palácio do Planalto de que era necessário definir o destino de Gleisi antes.
Na semana passada, em evento de aniversário do PT, no Rio, Lula fez elogios a Gleisi:
— Graças a Deus, o partido compreendeu a necessidade de eleger você (presidente do PT). Não teria ninguém mais capaz. Homem nenhum aguentaria o que você aguentou — disse.
Gleisi tem boa relação com os presidentes da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do Senado, Davi Alcolumbre, mas, como mostrou O GLOBO, integrantes de partidos do Centrão, inclusive ministros do governo, vinham demonstrando contrariedade com a possibilidade de o PT manter o comando da articulação política após a saída de Alexandre Padilha. O receio era maior especialmente diante da possibilidade de Gleisi assumir o posto, em função da avaliação de que ela não teria um bom trânsito com partidos de centro.
Aliados de Alcolumbre e Motta vinham dizendo que havia uma concordância na cúpula das duas Casas de que o melhor cenário seria ter um deputado fora do PT para comandar a SRI. No entanto, mesmo ministros ligados aos presidentes das Casas viam em Lula vontade de manter o PT no comando da pasta.
Nas redes sociais, Motta saudou o ingresso de Gleisi no governo. "Recebi ligação do presidente Lula comunicando a indicação da deputada Gleisi para o cargo de Ministra das Relações Institucionais. Sempre tive boa relação com ela no parlamento. Desejo pleno êxito na nova função e continuaremos o diálogo permanente a favor do Brasil", escreveu Motta.
Alcolumbre também se manifestou. "Fui comunicado pelo presidente Lula sobre sua decisão em nomear a deputada federal Gleisi Hoffmann para o cargo de Ministra das Relações Institucionais. Desejo muito sucesso nessa importante missão de dialogar com o Parlamento. Em nome do Congresso Nacional, reafirmo nosso compromisso em trabalhar sempre em defesa do Brasil", escreveu o senador.
Eram cotados para o posto também o líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), o ministro Silvio Costa Filho (Portos e Aeroportos), do Republicanos, e o líder do MDB na Câmara, Isnaldo Bulhões.
Esta é a segunda mudança que Lula faz no Ministério nesta semana. Na terça, o presidente demitiu Nísia Trindade do Ministério da Saúde e escolheu Alexandre Padilha para a vaga.
Quem é Gleisi
Gleisi foi ministra da Casa Civil, de 2011 a 2014, no primeiro mandato de Dilma Rousseff. A nova ministra foi eleita presidente nacional do PT em junho de 2017, quando ainda era senadora pelo Paraná (2011 a 2019). Foi reeleita para o cargo em 2020.
Críticas a projeto
Nesta semana, Gleisi criticou a "articulação bolsonarista" pela aprovação de um projeto no Congresso americano que proíbe a entrada do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), nos Estados Unidos. A proposta foi aprovada nesta quarta-feira no Comitê Judiciário da Câmara e foi comemorada por parlamentares aliados ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
"A articulação bolsonarista pela lei aprovada num comitê do Congresso dos EUA contra a soberania das decisões do STF no Brasil é um crime de lesa-pátria. O inelegível, seus parentes e foragidos da Justiça brasileira estão desafiando, mais uma vez, as instituições brasileiras e mostrando a quem eles realmente servem: a um país estrangeiro", escreveu Gleisi em um post no X.
Fonte: Globo.com