Lula se reúne com primeiro-ministro do Japão, defende acordo com Mercosul e lamenta retomada da guerra em Gaza
Lula cumpre agenda na Ásia em busca de novos mercados para produtos brasileiros e passará ainda pelo Vietnã.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva se reuniu nesta quarta-feira (26) com o primeiro-ministro do Japão, Shigeru Ishiba.
A reunião foi no Palácio Akasaka, O palácio, que fica no distrito de mesmo nome em Tóquio, é usado pelo governo do Japão para receber chefes de Estado.
Em discursos após o encontro:
- Ishiba falou em ampliar investimentos no Brasil e em fortalecer a relação entre o Japão e o Mercosul;
- Lula celebrou a parceria entre os países e defendeu um acordo Japão-Mercosul, mas também usou o discurso para lamentar a crise climática e a escalada do conflito em Gaza (leia abaixo).
O primeiro-ministro ainda se comprometeu a cooperar com o Brasil nas discussões da Conferência do Clima das Nações Unidas (COP 30), que acontecerá em Belém (PA) em novembro.
Também em discurso pós-reunião, Lula voltou a afirmar que é preciso ampliar a relação comercial com o Japão para patamares acima dos US$ 17 bilhões registrados em 2011. O presidente também reforçou o desejo de chegar a um acordo comercial via Mercosul.
"Espero lançar negociações de um acordo com o Japão durante a presidência brasileira no próximo semestre", disse.
O presidente ainda demonstrou otimismo para parcerias com o Japão em ações de preservação ambiental e transição energética.
Lula também afirmou a Ishiba que a defesa do multilateralismo será "tema central" da cúpula do Brics, no Rio de Janeiro.
Lula lamenta crise climática e conflitos
Lula aproveitou o discurso para, mais uma vez, lamentar o avanço da crise climática e pedir maior comprometimento dos países com a pauta.
"Nós entendemos que o mundo atravessa uma situação política difícil, uma situação econômica complicada e muita insensibilidade na relação política entre os Estados. Protocolos como o de Kyoto não foram cumpridos, acordos como o de Paris não foram cumpridos e alguns países já desistiram", disse, citando também acordos ambientais.
O primeiro-ministro afirmou que Japão e Brasil formarão uma estrutura para discutir formas de ampliar a relação comercial com o bloco sul-americano, cuja presidência rotativa ficará com Lula no segundo semestre deste ano.
Ishiba também informou que enviará especialistas sanitários ao Brasil para avançar nas tratativas a fim de abrir o mercado japonês para a carne bovina produzida no Brasil.
O brasileiro também citou, em tom de lamento, a escalada de conflitos pelo mundo. Desde que tomou posse, em 2023, o brasileiro vem criticando a invasão russa na Ucrânia e o confronto entre Israel e grupos terroristas na Faixa de Gaza.
"Nós estamos vendo os países que simbolizavam a ação democrática sofrendo riscos de desestabilização pela função e participação da extrema-direita, nós vimos o que está acontecendo na Europa, que era uma parte do mundo que só vivia em termos de tranquilidade", disse Lula.
"E hoje, depois da guerra da Ucrânia, o que nós estamos assistindo é a Europa voltar a se preparar para comprar armas, para investimento em seu armamento. Nós estamos vendo com muita seriedade o fim do cessar-fogo na Faixa de Gaza, aonde muitas pessoas já foram mortes, e essa semana nós tivemos a tristeza de ver um brasileiro que foi preso na prisão em Israel", seguiu.
Jantar com imperador na véspera
Na terça, Lula e a primeira-dama, Janja, participaram de um jantar com o imperador do Japão, Naruhito, e a imperatriz Masako.
No discurso, Lula elogiou a ligação entre os dois países e disse contar com o "firme engajamento" do Japão na COP 30.
Segundo o governo brasileiro, o Japão recebe Lula como uma visita de "primeira categoria" – a mais alta da diplomacia local, realizada apenas uma por ano, o que prevê a audiência com o imperador.
Lula chegou à Ásia no domingo para uma viagem por Japão e Vietnã, a fim de buscar novas parcerias comerciais para o Brasil.
Fórum empresarial
Antes da reunião bilateral, Lula e Ishiba participaram de um fórum empresarial em Tóquio. Lula lamentou a queda na relação comercial com o Japão de US$ 17 bilhões em 2011 para US$ 11 bilhões em 2024 e defendeu um acordo do Japão com o Mercosul (Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai e Bolívia).
"Em um mundo cada vez mais complexo, é fundamental que parceiros históricos se unam para enfrentar as incertezas e instabilidades da economia global. Estou seguro de que precisamos avançar com a assinatura de um acordo de parceria econômica entre Japão e Mercosul", disse.
Acordos comerciais desta natureza exigem negociações longas e aprovações dos países envolvidas. O acordo entre Mercosul e União Europeia, por exemplo, é discutido há mais de 20 anos e ainda não foi implementado.
Lula também destacou que considera "essencial" para integração a manutenção da isenção recíproca de visto de negócios e turismo entre Brasil e Japão.
O presidente afirmou que é preciso defender a democracia, o livre comércio e o multilateralismo.
"Nós não queremos uma segunda Guerra Fria. O que nós queremos é comércio livre para que a gente possa definitivamente fazer com que nossos países se estabeleçam no movimento da democracia, no crescimento econômico e na distribuição de riqueza", disse.
Lula também afirmou que seu governo garante estabilidade para investimentos, citou a reforma tributária, os dois anos de crescimento do PIB e sua política econômica para tentar aumentar a renda do trabalhador.
O presidente ainda frisou a importância de ter avanços na proteção ambiental durante a Conferência da ONU para o Clima, a COP 30, que será realizada em novembro em Belém.
Venda de aeronaves da Embraer
Durante o fórum empresarial, Lula citou a venda de 15 jatos E-190 da Embraer à empresa japonesa All Nippon Airways (ANA), com possibilidade de aquisição de mais cinco aeronaves.
"A Embraer tornou-se a terceira maior fabricante de jatos comerciais do mundo e tem mercado importante aqui no Japão. A ANA, maior companhia aérea japonesa, anunciou e fizeram acordo hoje a compra de até 20 jatos E-190 da Embraer, que eu posso dizer ao primeiro-ministro Ishiba que é de muita qualidade os aviões da Embraer. Quem compra 20 pode comprar um pouco mais e quem sabe todas as empresas japonesas podem voar de avião da Embraer", afirmou.
Segundo o presidente da Embraer, Francisco Gomes Neto, e o ministro de Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho, o negócio gira em torno de R$ 10 bilhões.
Por: G1