Médico que cuidou de Clarinha por 24 anos não quer que ela seja enterrada como indigente: 'É uma perda pra todos nós'

Clarinha recebeu esse nome pelo médico que cuidou dela ao longo desses anos. Mesmo aposentado, Jorge Potratz seguia visitando a paciente no hospital, em Vitória. Ela estava em estado vegetativo desde 2000 e nenhum parente foi encontrado.

Médico que cuidou de Clarinha por 24 anos não quer que ela seja enterrada como indigente: 'É uma perda pra todos nós'
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O médico que cuidou da paciente Clarinha, que não tinha registro oficial e morreu nesta quinta-feira (14) após ficar 24 anos internada em coma em uma UTI de hospital, disse que não quer que a paciente seja internada como indigente. Emocionado e triste, o tenente-coronel Jorge Potratz disse que a sensação é que seu trabalho não foi concluído com sucesso, uma vez que ao longo desses anos não foi possível localizar familiares da paciente.

O médico, que mesmo aposentado continuou cuidando de Clarinha, vai solicitar à Prefeitura de Vitória que ela seja enterrada em um cemitério municipal por ter criado grande vínculo afetivo devido aos anos que se dedicou aos cuidados da paciente.

"Infelizmente, a sensação que tenho é que o meu objeto não foi concluído com sucesso. Por tantas lutas que tivemos em duas décadas, mas Deus sabe de todas as coisas e ele está no comando", desabafou Jorge Potratz.

A mulher foi atropelada no Dia dos Namorados, em 12 de junho de 2000, sem portar qualquer documento de identificação. O caso ganhou repercussão nacional após uma reportagem do Fantástico, exibida em 2016. Desde então, várias famílias do Brasil se mobilizaram para fazer exames de DNA e saber se a paciente era parente ou não.

O médico tenente-coronel Potratz se aposentou em 2017 e, ainda assim mantinha visitas frequentes. Ele disse que foi comunicado pela equipe médica que atua no Hospital da Polícia Militar (HPM), na manhã de quinta, de que a paciente estava muito debilitada após uma broncoaspiração, que é a entrada de substâncias estranhas, como alimento ou saliva, na via respiratória. Durante a noite, a paciente não resistiu.

"Recebi com muito pesar a notícia. Imediatamente, fui ao hospital conversar com a equipe. É uma perda para todos nós. Tenho sentimento de apego, de carinho, de humanidade mesmo. Foi uma paciente que marcou a minha vida inteira", disse.

Enterro digno

O médico aposentado disse que em toda a jornada da paciente - foram 24 anos internada na UTI - tentou dar dignidade, por mais que Clarinha fosse desconhecida oficialmente.

"Clarinha era cuidada com muito amor por toda equipe do hospital e por lá conseguimos garantir sua dignidade. E é assim que deve continuar. Espero que seja enterrada em um local próprio e identificada como Clarinha. Não quero que ela seja interrada como indigente. Esse processo não deve ser de um dia para o outro, mas vou estar à frente disso", explicou.

Potratz disse que o corpo da paciente foi levado para o Departamento Médico Legal (DML) de Vitória, procedimento incomum para casos assim. Segundo o médico, geralmente, um paciente sem registros em hospitais não passam pelo DML, os corpos são liberados na unidade hospitalar mesmo.

O tenente-coronel contou que vai ao DML e se responsabilizará por todas as burocarcias necessárias. Disse, ainda, que vai à Prefeitura de Vitória solicitar que Clarinha seja enterrada em um cemitério municipal.

"Gostaria que ela tivesse uma lápide, onde as pessoas, que assim desejarem, pudessem ir fazer uma oração. Precisamos ter mais humanidade com as pessoas e continuar tentando dar dignidade à Clarinha", enfatizou o médico.

Fonte: G1