Mercado de 'carros voadores' decola em 2024, e Brasil lidera encomendas globais
Estudo mostra que há 28 empresas com projetos avançados, e previsão é iniciar operação comercial até 2025. Eve, que nasceu na Embraer, tem 2.850 unidades encomendadas
O mercado de carros voadores, os chamados Evtols (sigla em inglês para "veículo elétrico de pouso e decolagem vertical") está chegando ao ponto de 'decolagem' este ano. Empresas que estão liderando a corrrida desses veículos estão muito próximas de obter a certificação das autoridades aeronáuticas para iniciar a operação comercial ainda em 2024 ou início de 2025. O Brasil desponta como destaque nesse segmento, já que a Eve, fabricante brasileira que nasceu na Embraer, tem atualmente o maior número de encomendas global: 2.850 unidades.
É o que mostra um estudo inédito da plataforma de negócios MundoGeo. O levantamento revela que apesar de mais de 350 empresas terem se aventurado a entrar no universo dos carros voadores, nos últimos anos, um número reduzido deve cruzar a linha de chegada.
Atualmente apenas 28 estão com projetos avançados, e receberam capital privado num volume que atinge US$ 8,4 bilhões (R$ 44,2 bilhões), segundo levantamento da MundoGeo. Mais de 10 mil unidades de Evtols já estão encomendadas a esses fabricantes por operadores interessados em operar esse veículos em 34 países.
— Há apenas três anos, ainda havia diversas empresas divulgando projetos e muita especulação sobre quando os carros voadores chegariam. Esse cenário de improvisos ficou para trás. Hoje, estão no jogo apenas as startups robustas, como a brasileira Eve Air Mobility, ligada a Embraer, e grandes empresas, que vem desenvolvendo projetos de Evtols — diz Emerson Granemann, CEO da MundoGeo e especialista em carros voadores.
Números do setor de carros voadores — Foto: Arte O Globo
Também estão nessa corrida, companhias como Boeing, Airbus, Honda, Volkswagen e Toyota, entre outras, desenvolvendo seus próprios carros voadores elétricos.
Em maio, São Paulo vai receber a primeira feira de negócios de carros voadores do país, a Expo Evtol, que vai reunir os principais fabricantes, agências reguladoras, além de construtores de "vertportos", locais de decolagem e pouso de Evtols, e outros participantes desse novo ecossistema de mobilidade aérea, revela Granemann.
A expectativa é que a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) apresente os primeiros pontos da regulamentação para carros voadores no Brasil.
Alguns fabricantes já fizeram voos testes com seus veículos. Uma das pioneiras foi a americana Joby Aviation, ainda em 2018, que planeja realizar em 2025 as primeiras viagens comerciais. A Joby Aviation fechou uma parceria com a companhia aérea Delta Airlines para oferecer um serviço de táxi aéreo em Nova York com suas aeronaves.
Outras que já fizeram voos testes, entre 2021 e o ano passado, estão as chinesas Ehang e Aerofugia, as americanas Alaka'i e Archer, a alemã Lilium e outras 13 companhias.
De acordo com o levantamento, nada menos que onze empresas planejar iniciar suas operações entre este ano e 2025, diz o estudo. Entre elas, estão as americanas Alaka'i e Elroy Air, a Lilium, a japonesa Sky Drive e a francesa Ascendance. A brasileira Eve planeja seu voo teste para este ano e o início de suas operações em 2026.
O modelo da startup brasileira será produzido numa fábrica em Taubaté, interior de São Paulo, com capacidade de quatro passageiros e um piloto, com autonomia de até 100km.
O estudo da MundoGeo aponta que entre as operadoras que já fizeram encomendas à Eve estão empresas áreas, operadores de helicópteros, empresas de leasing, como a United Airlines, Kenya Airways, Helisul e outros 25 interessados. Para Granemann, o fato da Eve ter a embraer como principal acionista é um ponto de atração para a startup.
780 encomendas
Operadores brasileiros como a Gol, Azul, Avanto, Voar, Helisul, Flapper e FlyBIS já encomendaram 780 carros voadores, de diferentes fabricantes como a própria Eve, Lilium e da Vertical. Esse número coloca o Brasil apenas atrás de Estados Unidos e China em número de encomendas, revela o estudo da MundoGeo.
Na semana passada, durante a Web Summit, evento de tecnologia realizado no Rio, Daniel Moczydlower, CEO da Embraer-X, braço de inovação e aceleradora da fabricante de aviões, confirmou que a Eve deve testar até o final do ano seu primeiro protótipo em escala real do seu Evtol.
Em painel com a jornalista Daniela Braun, do jornal Valor Econômico, ele disse que o diferencial da Eve, em relação a outras startups de carros voadores, é a bagagem de mais de 50 anos da engenharia da Embraer com foco em transporte de passageiros civis por trás do projeto. Para ele, este é um diferencial que coloca o Brasil na liderança do mercado de carros voadores.
— As empresas que estão chegando agora provavelmente serão adquiridas ou terão seus projetos abandonados. Quando falamos do transporte de passageiros civis, poucas empresas no mundo tem esse conhecimento. São menos do que cinco, seis empresas. E a Embraer é uma delas — garante.
Ele afirma que a ideia é que a Eve seja eficiente para chegar a um nível de preço para que qualquer pessoas possa utilizar esse novo meio de transporte, com preços razoáveis e ganho de tempo.
Uma viagem da Barra até o Aeroporto do Galeão, no Rio, poderá ser feita em dez minutos, diz ele, com zero emissão de CO2. Um estudo de operação feito pela própria empresa indicou um preço a partir de R$ 99 para o trajeto Barra/Galeão.
Azul encomendou Evtols com a Lilium
Entre as operadoras que encomendaram Evtols à alemã Lilium está a empresa aérea Azul . A startup já vem fazendo voos experimentais desde 2019 e testou seu primeiro protótipo em 2023. Para este ano, planeja o primeiro voo com piloto e tem como meta o início das operações em 2026.
A Lilium, que tem ações em Bolsas dos EUA, assim como a Eve, informou que começou a desenvolver baterias próprias, em parceria com a StarCharge, líder em infraestrutura de carregamento de veículos elétricos.
Até agora, a Lilium já recebeu US$ 1,4 bilhão (R$ 7,3 bilhões) em investimentos totais, sendo que em 2023 foram US$ 292 milhões (R$ 1,5 bilhão) para manter o ritmo de desenvolvimento de suas aeronaves. E recebeu, antes do programado, os primeiros pagamentos de alguns clientes da pré-entrega do Lilium Jet.
O CEO da Lilium, Klaus Roewe, avaliou que 2023 foi um ano crucial para a empresa, com a transição do design para a produção do Lilium Jet. A alemã também confirmou sua credencial como empresa de aviação ao receber a aprovação da organização de design da Agência Europeia para a Segurança da Aviação e da Agência Federal de Aviação, além de iniciar a produção de células de bateria.
"E 2024 será outro ano importante para a nossa empresa, com o primeiro voo tripulado do Lilium Jet previsto para o final do ano", disse Roewe por meio de nota.
Segundo a Lilium, seu Evtol terá velocidade máxima de 280 km/h, autonomia de 250 km e espaço para até seis passageiros e um piloto.
A Ehang fez seu primeiro voo teste em 2023, em território chinês e outros países da Europa, mas planeja para este ano levantar voo também no Brasil, ainda em testes. A Gohobby, uma empresa de tecnologia que trabalha com drones, foi a primeira a trazer um modelo da aeronave da Ehang para o Brasil, em novembro de 2023.
— Estamos trabalhando junto a Agência nacional de Aviação Civil (Anac) para realizar a co-validação da certificação da Agência Nacional da China. O processo está bem avançado, e neste ano devemos realizar os primeiros voos sem passageiros, assim que recebermos a autorização da agência — diz Adriano Buzaid, CEO da Gohobby, lembrando que no Brasil já há 14 aeronaves encomendadas.
O modelo da Ehang transporta até dois passageiros, além de uma mala no bagageiro, com autonomia de até 35km de distância à uma velocidade de cruzeiro de 100km/h.
Fonte: Globo