Meta anuncia que encerrará seu programa de 'fact checking' nos EUA, em aceno a Trump; veja vídeo

Em vídeo de mais de dois minutos, Zuckerberg diz que é "hora de voltar às nossas raízes sobre a liberdade de expressão" e que o sistema atual de checagem de fatos tem "muitos erros e censura demais"

Meta anuncia que encerrará seu programa de 'fact checking' nos EUA, em aceno a Trump; veja vídeo
Mark Zuckerberg, CEO da Meta: 'hora de voltar às nossas raízes sobre a liberdade de expressão' — Foto: Kent Nishimura/Bloomberg

A gigante das redes sociais Meta anunciou, nesta terça-feira, mudanças em suas práticas de moderação de conteúdo, incluindo o fim do programa de checagem de fatos (fact-checking), política criada há oito anos para reduzir a disseminação de desinformação em suas redes sociais. A mudança é um sinal claro de como a empresa está se reposicionando diante da volta de Donald Trump à Casa Branca.

Em vez de usar organizações de notícias e outros grupos independentes, a Meta, dona do Facebook, Instagram e Threads, confiará nos usuários para adicionar notas ou correções a postagens que possam conter informações falsas ou enganosas. É um sistema conhecido como Notas de Comunidade, já usado pelo X, rede social de Elon Musk.

"Vamos eliminar os fact-checkers (verificadores de conteúdo) para substituí-los por notas da comunidade semelhantes às do X (antigo Twitter), começando pelos Estados Unidos", escreveu nas redes sociais o fundador e CEO da Meta, Mark Zuckerberg.

O CEO da Meta afirmou ainda que o sistema atual de checagem de fatos da empresa "chegou a um ponto em que há muitos erros e censura demais." Por isso, disse, "é hora de voltar às nossas raízes sobre a liberdade de expressão".

No Brasil, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que a mudança da Meta em programa de 'fact checking' preocupa, e acrescentou que o mundo está em uma situação 'tensa', onde questões ideológicas estão fazendo a diferença.

'Tribunais secretos' da América Latina

Assim como Musk, Zuckerberg reproduziu a alegação de que os EUA estão mais avançados no que diz respeito à livre manifestação de pensamento e disse que “as eleições recentes (nos EUA) parecem um ponto de virada cultural em direção a uma nova priorização da liberdade de expressão.”

O chefe da Meta afirmou ainda que "países latino-americanos têm tribunais secretos" para derrubar publicações, em referência indireta ao Brasil. Mas não deixou claro se a nova política da empresa será adotada em outros lugares além dos EUA.

— Os EUA têm as proteções constitucionais mais fortes para liberdade de expressão no mundo. A Europa tem um número cada vez maior de leis institucionalizando a censura e tornando difícil construir qualquer coisa inovadora lá. Os países latino-americanos têm tribunais secretos que podem ordenar que as empresas retirem as coisas (das redes sociais) silenciosamente. A China censurou aplicativos de funcionarem no país — disse o CEO da Meta em vídeo.

No ano passado, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, suspendeu a rede social X, após Musk descumprir a ordem para indicar um representante legal no país. A plataforma voltou ao ar depois de cumprir as determinações legais.

Doação a Trump

Desde que assumiu o X, Musk, um grande doador de Trump, tem posicionado cada vez mais a rede social como a plataforma por trás da nova presidência americana. Zuckerberg tende a seguir a mesma linha.

Muitos aliados de Trump desaprovam a prática da Meta de adicionar avisos ou alertas a postagens questionáveis ou falsas. O futuro presidente americano costumava criticar Zuckerberg, alegando que o recurso de checagem de fatos tratava postagens de usuários conservadores de maneira injusta.

Desde que Trump venceu um segundo mandato em novembro, a Meta tem agido rapidamente para tentar reparar os laços tensos entre ele e sua empresa com os conservadores.

Naquele mês, Zuckerberg jantou com Trump em Mar-a-Lago, na Flórida, onde também se encontrou com seu escolhido para o cargo de secretário de Estado, Marco Rubio. Em dezembro, a Meta doou US$ 1 milhão para um fundo usado para financiar eventos de apoio a Trump.

Na semana passada, Zuckerberg promoveu Joel Kaplan, um conservador de longa data e o executivo mais alto da Meta próximo ao Partido Republicano, para o cargo de maior autoridade da empresa em políticas. E na segunda-feira, Zuckerberg anunciou que Dana White, o chefe do Ultimate Fighting Championship e um aliado próximo de Trump, se juntaria ao conselho da Meta.

Programa de checagem foi criado após vitória de Trump em 2016

O anúncio de Zuckerberg coincidiu com a participação de Kaplan no programa “Fox & Friends”, um dos programas favoritos de Trump. Kaplan disse aos apresentadores do popular programa matinal americano entre os conservadores, que havia “muito viés político” no programa de checagem de fatos.

A mudança encerra uma prática que a empresa iniciou há oito anos, ironicamente, nas semanas após a eleição de Trump, em 2016. Naquela época, o Facebook estava sob forte crítica pela disseminação desenfreada de desinformação em sua rede, incluindo postagens de governos estrangeiros tentando semear discórdia entre o público americano.

Como resultado de enorme pressão pública, Zuckerberg recorreu a organizações externas, como Associated Press, ABC News e o site de verificação de fatos Snopes, junto com outras organizações globais verificadas pela International Fact-Checking Network, para analisar postagens potencialmente falsas ou enganosas no Facebook e Instagram e decidir se precisavam ser removidas.

Outra mudança anunciada por Zuckerberg é que serão removidas "restrições sobre tópicos como imigração e gênero, que estão desconectados do discurso dominante”.

Ele também disse que a equipe de revisão de conteúdo dos EUA será deslocada para o Texas. Isso ajudaria a “remover a preocupação de que funcionários tendenciosos estariam censurando demais o conteúdo”, afirmou Zuckerberg.

Fonte: Globo.com