Neguinho se despede em desfile consagrador da campeã Beija-Flor; Paolla Oliveira dá adeus à Grande Rio
Último dia do carnaval 2025 na Sapucaí também foi marcante para a atriz Erika Januza que, após quatro anos, deixará o posto de rainha de bateria da Viradouro

“Faz um fá maior!”, disse Neguinho da Beija-Flor depois do seu tradicional “beleza, beleza, beleza”, ao começar seu último desfile à frente da Beija-Flor após 50 anos. O dia já estava claro quando ele puxou “O mundo místico dos Caruanas nas águas do Patu-Anu”, campeão de 1998 (em título dividido com a Mangueira). O samba seria uma provocação à Grande Rio, que também cantou o Pará e não se sagrou campeã (terminou em segundo).
Eram precisamente 6h15 da manhã deste domingo, 9 de março de 2025, quando Luiz Antônio Feliciano Marcondes, o Neguinho da Beija-Flor, soltou seu grito de guerra na Sapucaí pela última vez:
— Olha a Beija-Flor aí, gente! Alô, Laíla!
No caminho até o carro de som, ele falou de sua aposentadoria, motivada pela carreira de cantor fora do carnaval, à TV Globo:
— Este é um recorde bem difícil para qualquer um bater, ser fiel à sua escola por 50 anos, sem faltar a nenhum desfile, mesmo doente. Agora vou dar continuidade à minha trajetória na música, tenho um projeto maravilhoso com Xande de Pilares que vai sair agora depois do carnaval.
Na Avenida, sob o sol do fim do verão (diferentemente dos desfiles oficiais, que acabaram ainda à noite, levando o caos às saídas do Sambódromo), a Beija-Flor saboreou seu 15° título, sob as bênçãos do homenageado Laíla, enquanto em sua cadeira de rodas motorizada, o contraventor e presidente de honra da escola, Aniz Abraão David, cumprimentava o público, animado. E como aconteceu no desfile oficial, componentes e públicos cantaram o samba a plenos pulmões na "paradona" da bateria.
O Desfile das Campeãs, que reuniu Beija-Flor, Grande Rio, Imperatriz, Viradouro, Portela e Mangueira, lavou a alma do público que lotou o Sambódromo para o último espetáculo do carnaval deste ano. Empolgadas, as escolas entregaram desfiles bonitos e samba afiado. Sem a pressão de resultado, se apresentaram mais leves depois de dias tensos com o resultado da apuração, que levou Grande Rio, Unidos da Tijuca e Unidos de Padre Miguel a entrarem com recurso na Liesa.
Neguinho da Beija-Flor puxa um samba da escola pela última vez na Sapucaí — Foto: Domingos Peixoto/Agência O
Grande Rio
Em sua despedida à frente dos ritmistas da Grande Rio, atriz Paolla Oliveira chegou à concentração de mãos dadas com o mestre Fafá. Bebeu água num copinho de plástico, que é servido por equipes da Cedae, e posou para fotos com fãs e componentes da escola. Ao entrar na Avenida, a bateria e sua soberana foram recebidas pelo público do setor 1 com gritos de "é campeã'.
Descontente com o vice-campeonato, que perdeu por 0.1 ponto na bateria, a escola entrou com um recurso na Liesa para reverter o resultado, mas no Desfile das Campeãs, fez bonito e empolgou o público na Sapucaí.
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E as homenagens a Paolla não acabaram no Desfile das Campeãs. Ao ser informada por uma repórter que o mestre Fafá estaria organizando uma festa de despedida para ela com os ritmistas, ficou contente e disse que participaria.
-- Eu ainda não sei a hora. Não tenho data nem hora, mas estarei lá -- garantiu.
Imperatriz Leopoldinense
A segunda metade do Desfile das Campeãs começou com uma certeza que o mundo do samba já tinha: a Imperatriz do carnavalesco Leandro Vieira pertence a uma prateleira superior do carnaval atual — em 2024 ao lado de Viradouro e Grande Rio, e neste ano com a campeã Beija-Flor no lugar da escola de Niterói. Como já tinha feito no domingo de carnaval, a escola de Ramos trouxe “Ómi Tútú ao Olúfon - Água Fresca Para o Senhor de Ifón”, com o equilíbrio entre didatismo, religiosidade e carnaval que caracteriza Leandro.
Com seu habitual chapéu de pirata, o carnavalesco desfilou ao lado de Renato Lage, que o deslumbrou na passagem da Mocidade Independente na terça-feira, mas que acabou amargando o penúltimo lugar. A escola que já foi tida como a “certinha de Ramos” mostrou mais uma vez muita empolgação e samba no pé, ao som de um dos melhores sambas do ano e da bateria de mestre Lolo, vencedora do Estandarte de Ouro dos jornais O GLOBO e Extra (a Imperatriz ganhou ainda os prêmios de melhor escola e enredo).
Viradouro
Apesar do começo do desfile, com reclamações da diretoria pelo quarto lugar, a Unidos do Viradouro passou nas Campeãs com pinta de quarta colocada. A bateria de mestre Ciça acertou as levadas juremeiras de um dos melhores sambas do ano, e o povo de Niterói passou feliz, uma felicidade que talvez não tenha aparecido no domingo de carnaval.
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— Na quarta-feira quando eu cheguei, a quadra estava lotada. Ninguém queria ir embora esperando a a gente chegar com o troféu de quarto lugar. Isso é uma escola de samba, isso é uma instituição forte. Ninguém pode abandonar uma instituição como a nossa, que tem raiz, que tem chão, que tem amor. O que a gente faz para o próximo ano é tentar o campeonato, ok. Hoje vocês têm que brindar esse público com um canto melhor. Só peço a vocês amor no que faz. Vamos lembrar, não parem de tentar. Vamos mostrar que a gente poderia ter tido uma sorte melhor -- desabafou o presidente de honra, Marcelo Calil, ao discursar no começo da participação da Viradouro no Desfile das Campeãs.
A escola, como diversas outras, se sentiu prejudicada com o julgamento deste ano. A vermelha e branca de Niterói contestou, por exemplo, notas recebidas em bateria. A Viradouro foi a terceira escola a entrar na Avenida neste sábado das Campeãs. O desfile marcou também a despedida de Erika Januza do posto de rainha de bateria. Muito emocionada, a atriz chorou em vários momentos do desfile.
Erika Januza se despede do posto de rainha de bateria da Viradouro — Foto: Alexandre Cassiano/Agência O Globo/02-03-2025
Em 2026, a escola terá, pela primeira vez, uma conterrânea no Grupo Especial, a Acadêmicos de Niterói, campeã da Série Ouro.
Portela
Homenageado pela Portela, com o enredo "Cantar será buscar o caminho que vai dar no sol', inspirado na sua canção "Nos bailes da vida", Milton Nascimento voltou à Sapucaí para comemorar com a azul e branca de Madureira o retorno ao Desfile das Campeãs. A escola, que foi a quinta colocada no desfile oficial, entrou na Sapucaí depois da Mangueira, a sexta colocada, já no começo da madrugada deste domingo.
Visivelmente emocionado, o artista foi aplaudido na sua entrada na Avenida. Assim como no desfile oficial, o cantor veio em um trono no último carro, alegoria que recebeu o nome de Altar do Sol e é adornado com enfeites barroco e anjos negros, citados no samba-enredo da escola. Mineira como o homenageado, Conceição Evaristo, de 78 anos, também desfilou na Portela -- antes, ela já havia cruzado a Sapucaí com a Mangueira.
O carnavalesco André Rodrigues, que com Antônio Gonzaga desenvolveu o enredo, acompanhou todo o desfile da concentração e depois seguiu atrás da escola, que prestou a homenagem a Milton Nascimento em forma de procissão. Rodrigues disse que o Desfile das Campeãs é mais do que uma noite de comemoração.
-- É de comemoração, mas também de alívio. Estou feliz pela Portela e pela volta ao Desfile das Campeãs -- disse, sobre o resultado do desfile oficial.
Mangueira
Sexta colocada no Carnaval 2025, a Mangueira foi a primeira escola a passar pela Sapucaí neste sábado. E abriu, com cerca de 45 minutos de atraso, o Desfile das Campeãs 2025. Como é tradicional no desfile comemorativo, a escola veio mais solta, cantando a plenos pulmões o samba que versa sobre a herança banto no Rio, do enredo “À flor da terra: no Rio da negritude entre dores e paixões”.
Logo no começo do desfile, os “crias” da comissão de frente ficaram uma passada inteira do samba em cima do carro alegórico, dançando passinho. No desfile competitivo; a transformação dos pretos novos em crias durava poucos segundos, e foi vista por uma pequena parte do público, restringindo-se às cabines de jurados. A Mangueira encerrou seu desfile por volta da meia-noite.
Show de divas
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Pelo segundo ano consecutivo, o esquenta da Sapucaí para o Desfile das Campeãs foi garantido por um show com artistas da música popular. As apresentações foram abertas pela cantora Iza, com "A carne', do repertório de Elza Soares. Em seguida foi a vez de Ivete Sangalo, emendar com sucesso "Canto da Três Raças" e "Ê baiana", gravados por Clara Nunes. Também se apresentaram Leci Brandão e Zezé Motta.
As apresentações especiais das artistas duraram foram uma homenagem ao Dia Internacional da Mulher, comemorado neste sábado. O espetáculo que começou próximo ao setor 1 percorreu a avenida até a Praça da Apoteose e durou menos de meia hora.
Por: O Globo