No Acre, idosa mantém quase 80 animais em casa: 'É o amor que me leva a resgatar'
Maricilia Chaves é aposentada, tem 67 anos e cuida de 78 cachorros na sua casa em Rio Branco. Ela conta que já precisou mudar de residência para melhor acomodá-los e que recebe doações de ração para alimentá-los.
Imagina viver com mais de 70 animais em casa? Assim é a vida da dona Maricília Chaves, de 67 anos. Ela tem 78 cachorros que cuida sozinha em sua casa, em uma chácara, em Rio Branco. Apesar do amor incondicional que tem para dar, ela necessita de ajuda para manter gastos com alimentação destes pets.
Há 20 anos, Maricília começou a resgatar seus primeiros animais. No início, ela juntava material reciclável para vender e ao ver tantos bichinhos, principalmente filhotes, jogados em lixeiras, ela começou a levá-los para casa.
"Eu saía de manhã cedo para juntar latinha e comecei a pegar os bichinhos jogados nos lixos, filhotinhos. Eu sempre tive um dom com os animais. Eu saía de casa, os animais me acompanhavam. Uma vez uma me seguiu até em casa e foi ficando", conta.
A aposentada foi criando um amor cada vez maior pelos cachorros. Ela já tinha essa proximidade com os bichos, mas a partir daí, o sentimento ficou ainda maior.
"Eu acredito muito no poder de Deus, que Deus foi que criou os animais, e eu acredito que é o amor, o amor que me leva a resgatar esses animais e cuidar, porque cada animal que eu resgato e trago para cá é uma felicidade que eu sinto dentro de mim. É um prazer tão grande, é inexplicável o que eu sinto quando eu posso ajudar o animal, quando eu resgato, que eu chego aqui com ele, que eu começo a cuidar deles, então, é tipo assim, é amor, eu defino isso tudo com o amor, o amor que eu sinto por eles", diz.
Maricília morava no bairro São Francisco, até que teve os primeiros problemas com os vizinhos por cuidar dos animais quando chegou na quantidade de 18 cachorros. Segundo ela, dois vizinhos fizeram denúncias, obrigando que ela se mudasse do local.
A cuidadora dos animais conta que, antigamente, existiam as carrocinhas [veículo utilizado pelos Centros de Controle de Zoonoses das prefeituras para recolher das ruas os animais desamparados, sobretudo cães e gatos e, posteriormente, sacrificá-los] e ela era constantemente ameaçada por pessoas que diziam que iriam chamar o carro para levar seus animais.
"Um promotor uma vez, disse que iria levar pra Zoonoses e dariam o prazo de três dias para recolher os animais ou seriam sacrificados. Eu fiquei apavorada, entrei em choque quando falaram que iriam matar meus animais. Eu fui no carro do Samu, passei mal e fui para UPA", relata.
Após vários problemas relacionados aos animais, ela recebeu ajuda de um de seus filhos para morar em um local afastado e com espaço para que ela pudesse cuidar dos cachorros. Depois de muitas dificuldades para se acomodar no novo local, Maricilia, que mora sozinha, conseguiu construir casinhas e fazer instalações adequadas para os animais.
A partir de então, ela relata que em sua passagem de ida e volta para o trabalho, via muitos animais abandonados em matas. Ao se deparar com cachorros entre os lixos, doentes e feridos, ela levava para casa para cuidá-los e eles acabavam se tornando mais um membro da família. "Uma vez eu ia passando e tinha um cachorro vivo que os urubu já estavam atacando. Aí eu corri, parei minha bicicleta e peguei, espantei os urubus e peguei o cachorro. Aí daí comecei, pegando e trazendo para cuidar", diz.
Situação atual
Atualmente, a protetora desses animais já tem em sua casa 78 cachorros. Ela relata que já chegou a ter 83, porém uma doença fez com que vários desses morressem ao mesmo tempo. Para cuidar dos bichinhos, a aposentada diz que recebe doações e ajudas, principalmente com sacas de ração e ajudas com custo de castrações.
"Nunca pensei de chegar ao tanto que eu tenho hoje [de animais], mas a necessidade foi muito grande de eu ver os bichinhos abandonados e doentes. Eu fui pegando e trazendo aqui para casa", fala.
Apenas dentro da residência, Maricilia mantêm 14 cachorros. Para não ter brigas, ela deixa os cachorros maiores do lado de fora, divididos em grupos. Quando começou a cuidar deles, ela construiu quatro casinhas para os cachorros. Atualmente, há 20 destas construídas para dividir os grupos.
Maricilia salienta que, hoje em dia, resgata apenas animais doentes e feridos que encontra em seu caminho, porém não aceita que tragam animais para que ela cuide.
"Hoje eu não recebo nenhum cachorro de ninguém. Porque, primeiro de tudo, quem tem os seus animais é quem cuide. Porque hoje tem lei. Quando chega aqui na minha casa, se eu receber, ele [animal] vem revoltado. O animal tem sentimento. E aí eu já levei muita mordida por causa disso, até porque não tenho mais nem condição de estar resgatando. Mas eu não parei ainda não, se eu vir o animal no meu caminho precisando, eu acredito que foi Deus quem colocou na minha frente para eu ajudar. Então, só aí eu pego, mas de outra pessoa, jamais", explica.
Pedido de doações
A aposentada diz que toda ajuda é bem-vinda. Ela descreve que precisa de doações, principalmente de ração e valores para pagar os custos das clínicas para onde leva os bichinhos que estão doentes ou feridos.
Maricilia esclarece que não tem uma Organização Não-Governamental (ONG), mas que é apenas uma protetora, que cuida por conta própria desses animais. Ela explica ainda que tem ajuda apenas de pessoas que gostam de bichos, que a conhecem e sabem que ela não tem muitas condições financeiras, mandando assim, ração para mantê-los.
"Eu peço muita ajuda, sabe? Primeiro a ajuda de Deus, que nem precisa eu pedir porque Ele tá vendo que eu faço. Aí com a ajuda dEle, que Ele me dá, com certeza, aparecem os anjos, as pessoas que me ajudam com ração. E eu vou pedindo no Facebook, no Instagram, postando meus vídeos, postando meus animais. E quem me vê, sabe que não é mentira. Eu acho que eu tenho mais animal aqui na minha casa que a prefeitura lá no Canil", brincou.
Para a doação de ração e demais itens, a ajuda pode ser feita diretamente para ela ou ser entregue na clínica Cães e Cia, que fica na Rua Joaquim Macedo, no bairro: São Francisco, na capital.
Fonte: G1