Número de mortos em operação no Jacarezinho sobe para 29, diz polícia; só 3 foram identificados
Subiu para 29 o número de mortos na operação no Jacarezinho da última quinta-feira (6).
Ao G1, a Polícia Civil do RJ informou neste sábado (8) que “28 criminosos e o inspetor de polícia André Leonardo de Mello Frias morreram na operação”.
Até esta sexta-feira (7), a polícia falava em 27 criminosos mortos, além de Frias.
Até a última atualização desta reportagem, mais de 48 horas depois do início da operação, a polícia ainda só tinha divulgado o nome de 3 mortos:
- Isaac Pinheiro de Oliveira, o Pee da Vasco;
- Richard Gabriel da Silva Ferreira, o Kako;
- Rômulo Oliveira Lúcio, o Romulozinho.
Os três constam da lista de 21 denunciados pelo Ministério Público por tráfico de drogas e eram procurados pela polícia.
A investigação aponta que eles eram “soldados” do tráfico, atuando como braço armado da organização criminosa no Jacarezinho.
'Todos são traficantes'
Em discurso durante o sepultamento do inspetor, nesta sexta (7), o secretário de Polícia Civil, Allan Turnowski, elogiou a ação da polícia no Jacarezinho e disse que informações do setor de inteligência da corporação identificaram que — até então — todos os 27 considerados suspeitos que morreram eram traficantes.
"A inteligência já confirmou todos os mortos como traficantes, 19 com folhas corridas até agora”, disse o secretário. "Não foi em vão, André, não foi em vão", disse, encerrando seu discurso com aplausos.
1. O que a polícia foi fazer no Jacarezinho?
Agentes de diferentes delegacias, com apoio da Core, a tropa de elite da Polícia Civil, deflagraram a Operação Exceptis. A força-tarefa investiga o aliciamento de crianças e adolescentes para ações criminosas, como assassinatos, roubos e até sequestros de trens da Supervia.
A polícia afirma que o tráfico da região adota táticas de guerrilha, com armas pesadas e “soldados fardados”.
2. O que dizem os moradores?
Em vídeos publicados em redes sociais e em relatos à Defensoria Pública, testemunhas afirmam que suspeitos foram executados.
Thaynara Paes, mulher de um dos mortos no Jacarezinho, disse que, ao ser localizado pela polícia, o marido, Rômulo Oliveira Lúcio, chegou a se entregar, mas ainda assim foi executado. Rômulo, segundo ela, tinha 29 anos e estava na condicional.
Outra moradora filmou um policial e disse que o suspeito queria se entregar. A mulher acusou os agentes de tentarem "encurralar" moradores para evitar que eles chegassem até o local onde supostamente o homem teria se rendido.
O advogado Rodrigo Mondego, da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil no RJ (OAB-RJ), contou que uma pessoa que vivia na casa foi para uma área externa, após a invasão. A testemunha relatou ter ouvido de policiais da Core que ficasse fora de casa enquanto os policiais estavam no local.
3. O que a polícia diz sobre as alegadas execuções?
O delegado Rodrigo Oliveira, subsecretário operacional da Polícia Civil, disse não considerar que houve erros ou excessos na operação.
“A Polícia Civil não age na emoção. A operação foi muito planejada, com todos os protocolos e em cima de 10 meses de investigação”, afirmou o subsecretário operacional da Polícia Civil.
Sobre a imagem do morto encontrado na cadeira, o delegado Fabrício de Oliveira, coordenador da Core e que participou da operação, disse que as circunstâncias em que ela foi feita vão ser apuradas.
"Quando a polícia acessou, alguns criminosos foram encontrados já mortos. Caso está sob investigação e em breve a polícia vai dar mais detalhes dobre a dinâmica do que aconteceu", disse.
4. Quem são os mortos?
Até a última atualização desta reportagem, apenas um deles tinha sido identificado pela polícia: o policial civil André Leonardo de Mello Frias, de 48 anos, atingido na cabeça no início da operação.
Os demais seguiam sem identificação oficial, mas, segundo o delegado Felipe Curi, os 28 eram “todos criminosos”. “Não tem suspeito, é criminoso, bandido, traficante e homicida porque tentaram matar os policiais”, afirmou.
A polícia também não esclareceu as circunstâncias em que foram mortos.
De todos os mortos, a polícia confirmou a identidade de apenas três - presentes na lista de denunciados pelo Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ):
- Isaac Pinheiro de Oliveira, 22 anos
- Richard Gabriel da Silva Ferreira, 23 anos
- Rômulo Oliveira Lúcio, 29 anos
5. Quantos foram presos?
O delegado Felipe Curi informou que seis pessoas foram presas: três com mandado de prisão e três em flagrante. Outros três procurados foram mortos — seriam Isaac, Richard e Rômulo.
A polícia tinha falado em 21 criminosos denunciados e identificados em escutas autorizadas pela Justiça, mas não esclareceu se contra todos foram expedidos mandados de prisão.
6. O que foi apreendido?
Um balanço divulgado às 17h de quinta-feira listava:
- 16 pistolas
- 6 fuzis
- 12 granadas
- 1 submetralhadora
- 1 escopeta
Também foi apreendida “farta quantidade de drogas” — que não foi contabilizada.
7. A operação foi autorizada?
A polícia garantiu que cumpriu todos os protocolos exigidos por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF). O Ministério Público confirmou que foi avisado.
No ano passado, o STF determinou regras para operações policiais em comunidades — incursões de rotina estão proibidas. Pela decisão do ministro Edson Fachin, as ações só seriam permitidas de maneira excepcional.
“Decisão do STF não impede a polícia de fazer o dever de casa. Ela coloca protocolos, e a Polícia Civil cumpre todos”, disse o delegado Rodrigo Oliveira.
“Não sei se as grandes operações dão resultado. O que eu sei é que a falta de operação dá um péssimo resultado”, emendou Oliveira.
8. Por que esta foi a operação mais letal?
Nenhuma outra deixou tantos mortos, segundo um levantamento feito pelo G1 com informações do Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos (Geni) da Universidade Federal Fluminense (UFF) e da plataforma Fogo Cruzado.
“Foi a operação mais letal que consta na nossa base de dados, não tem como qualificar de outra maneira que não como uma operação desastrosa. É uma ação autorizada pelas autoridades policiais, o que torna a situação muito mais grave”, disse o sociólogo Daniel Hirata, do Geni.
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