O estudante atacado por um tubarão na Praia de Copacabana: 'Pavor da morte'
Rapaz de 21 anos foi mordido na perna enquanto nadava na altura do Posto 6, em 1980

O estudante João Miranda, de 21 anos, estava nadando no mar, a cerca de 200 metros da Praia de Copacabana, na altura do Posto 6, Zona Sul do Rio, quando sentiu uma mordida violenta na perna direita. Tomado pelo pavor, ele se voltou rapidamente para ver o que estava acontecendo e arregalou os olhos ao se deparar com um tubarão o abocanhando.
"Vi aquele monstrão me mordendo e senti o pavor da morte. Era tubarão mesmo, deu pra ver a boca longe do focinho, perto da barriga", disse o rapaz, com os lábios ainda tremendo devido ao pânico, depois de ser atendido no Hospital Miguel Couto, no Leblon, onde levou seis pontos, na coxa e na canela. "Enquanto o tubarão atacava minha perna direita, chutei o olho dele com a outra".
O episódio aconteceu em 27 de março de 1980, uma quinta-feira, há 45 anos. Nascido na cidade de Tubarão, em Santa Catarina, Miranda morava no Rio havia quatro anos, ali mesmo, em Copacabana. Como fazia com frequência, ele foi nadar no mar de Copacabana sem um pingo de preocupação, já que nunca tinha ouvido falar de ataques de tubarão em praias no Rio. Algo realmente raro.
Nesta segunda-feira, um tubarão mako foi filmado no mar do Rio, próximo às Ilhas Cagarras, a cerca de 4 quilômetros da Praia de Ipanema. Mas mesmo avistamentos assim são bastante incomuns.
No episódio de 1980, a vítima foi resgatada por dois salva-vidas em uma lancha. Eles disseram que se tratava de um cação de 2 metros de comprimento. "Vimos as pessoas berrando e, quando chegamos a uns cinco metros do rapaz, ele gritou dizendo que estava sendo mordido", disse o socorrista Jorge Ferreira. "Foi aí que identificamos o cação em volta dele, Com o barulho do motor, o animal se afastou".
Miranda jurava ter sido atacado por mais de um peixe. Os salva-vidas acharam que a vítima podia estar ainda sob efeito do choque. Entretanto, de acordo com o estudante, depois que o predador largou sua perna, ao menos três tubarões ficaram dando voltas a seu redor, com as nadadeiras na superfície.
"Ainda gritei para dois caras que estavam na água: 'Se mandem que é tubarão mesmo'", contou ele, no hospital, em entrevista ao Jornal O GLOBO. "Eu fiquei lá imóvel, boiando, mas sentia que ia ser atacado de novo a qualquer momento porque, quando mergulhava, de repente, via um tubarão passando bem embaixo de mim. Comecei a gritar, e logo em seguida chegou uma lancha pra me salvar. Foi sorte".
Vários banhistas que estavam na areia viram o estudante sendo atacado. Sua amiga Sônia Aparecida Rodrigues da Silva, de 22 anos, contou ao jornal que estava fora d'água, mas viu a nadadeira do animal e as investidas contra João: "Comecei a gritar e vi uma lancha perto. Fiquei apavorada, mas não podia entrar na água para ajudá-lo, porque poderia morrer também", afirmou ela.
O médico Rui Barreto, então chefe do plantão no Hospital Miguel Couto, disse que não era capaz de precisar se os ferimentos foram mesmo causados por mordida de tubarão. "Foram quatro feridas contusas, ele levou seis pontos. Não foi nada muito grave e não é possível constatar se foi mordida de peixe. Se fosse uma cobra, daria pra identificar", comentou Barreto.
Depois de analisar os ferimentos na perna de Miranda, o então diretor do Salvamar, da Marinha, Victor Wellisch, disse que o tubarão, provavelmente um mako, deve ter mordido o estudante de "mau jeito" e, por isso, não arrancou um pedaço do rapaz. "O maxilar superior do tubarão atingiu a coxa, e o inferior, a perna. O joelho ficou no meio. Se ele tivesse mordido a coxa, pela lateral, teria arrancado um pedaço".
Por: O Globo