O que é downpipe, peça que foi modificada e rompeu em BMW onde 4 jovens morreram intoxicados em SC
Vítimas morreram asfixiadas por inalação de monóxido de carbono que vazou através de uma quebra na peça. Elas foram encontradas desacordadas dentro do veículo em Balneário Camboriú, em 1º de janeiro.
Peritos da Polícia Científica constataram que a BMW onde quatro jovens morreram intoxicados em Balneário Camboriú (SC) possuía ruptura na peça modificada conhecida pelo termo em inglês downpipe, que é um tubo que sai da turbina ao catalisador com função de dar maior vazão ao fluxo de gases de escapamento do veículo.
Dono e funcionário da oficina de Goiás que teria feito as alterações foram indiciados na quarta-feira (31). Segundo a Polícia Civil, uma falha mecânica, após a customização, levoumonóxido de carbono para dentro do carro. As vítimas morreram por asfixia após inalação do gás tóxico.
Segundo o professor de engenharia mecânica da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) Lauro Nicolazzi, o downpipe costuma ser instalado no sistema de descarga do automóvel para melhorar o desempenho do motor (veja mais abaixo como funciona).
"Normalmente essa peça faz com que o motor ganhe potência e aumente o ruído, mas também aumenta o consumo e a emissão de poluentes", explica.
Fernando Parucker, professor de engenharia mecânica na Universidade Regional de Blumenau (Furb), acrescenta que as mudanças costumam ser feitas para deixar o veículo com "aparência mais esportiva".
Conforme a Polícia Civil, perícias concluíram que as vítimas que estavam na BMW/320I M Sport ano 2022 morreram por asfixia provocada pela inalação de monóxido de carbono que vazou através da ruptura do downpipe,adentrando na cabine do veículo pelo ar condicionado.
A peça, segundo a investigação, foi instalada em substituição ao catalisador do veículo e foi "produzida e montada de forma precária e divergente dos padrões de qualidade do fabricante" (veja imagem das alterações abaixo).
Downpipe da BMW foi modificada — Foto: Governo de SC/ Reprodução
O serviço foi feito seis meses antes das mortes. Ainda de acordo com a Polícia Civil, a BMW passou por outras customizações em Belo Horizonte (MG) antes daquela feita em Aparecida de Goiânia (GO).
A BMW foi comprada pela família de Tiago de Lima Ribeiro, um dos jovens mortos, que conduzia o veículo (veja quem são as vítimas mais abaixo). Na época das customizações, ele vivia em Paracatu, em Minas Gerais, que fica a cerca de 400 quilômetros da oficina de Aparecida de Goiânia.
Como funciona
Segundo Parucker, a modificação com downpipe em geral aumenta o diâmetro da tubulação, melhorando o fluxo de saída dos gases do motor e aumentando o ruído do carro.
"Isso pode afetar a questão do desempenho, porque esses gases vão ter menos resistência para sair do motor. Então, de certa forma, o pessoal costuma relacionar isso também a um certo aumento de potência, que muitas vezes também não é tão grande", explica.
Segundo ele, há duas formas principais de realizar a customização. Nodownpipe decated, há a retirada do catalisador; já no downpipe cated, é feita a substituição por um catalisador de alto desempenho.
"No downpipe decated, a pessoa retira esse escapamento desde a saída do motor até a parte de trás do veículo, e faz a retirada também do catalisador, que restringe um pouco a saída dos gases", afirma.
Inquérito
De acordo com a investigação, o proprietário da oficina de Aparecida de Goiânia (GO), de 35 anos, e um funcionário de 48 anos foram indiciados por quatro homicídios culposos, quando não há a intenção de matar, por imperícia. O inquérito foi enviado ao Ministério Público e Poder Judiciário.
A defesa do proprietário e da oficina disse que a empresa não tem culpa das mortes. Em entrevista à TV Anhanguera, o advogado da oficina, David Soares, reforçou que o serviço foi feito por uma empresa terceirizada.
Infográfico mostra possível falha em escapamento de carro onde 4 foram encontrados desacordados — Foto: Arte/g1
A suspeita sobre rompimento no tubo e envenenamento pela substância inodora e altamente tóxica já havia sido levantada na investigação. Ao longo da apuração, laudos comprovaram que o gás saiu pelo ar-condicionado do veículo.
"Ao invés de sair o monóxido de carbono lá atrás do veículo, grande parte ficava dentro do capô, solto. E o ar-condicionado jogava para dentro do veículo", explicou o delegado Bruno Effori, que atendeu o caso em regime de plantão, em 1º de janeiro.
O que aconteceu no dia
Quatro pessoas foram encontradas desacordadas dentro de uma BMW estacionada na rodoviária de Balneário Camboriú na manhã de 1º de janeiro, segundo os bombeiros.
As vítimas apresentavam paradas cardiorrespiratórias e recebiam atendimento de reanimação pelo Samu quando os bombeiros chegaram. Ninguém resistiu.
Segundo o delegado Bruno Effori, a namorada de um dos jovens encontrou o grupo na rodoviária. Para ela, eles relataram tonturas, náuseas e mal estar.
À polícia, ela relatou que saiu de Minas Gerais de ônibus para encontrar o namorado e os amigos em Santa Catarina. Também de Minas Gerais, o grupo havia se mudado para a Grande Florianópolis há um mês. Eles esperariam por ela em Balneário Camboriú, para seguirem até a capital catarinense juntos.
Quando a jovem chegou, encontrou os quatro ocupantes relatando ânsia de vômito e tontura. Ela ficou, então, saindo e entrando do carro, esperando eles melhorarem, o que não aconteceu.
Veja quem são as vítimas:
- Gustavo Pereira Silveira Elis , 24 anos.
- Karla Aparecida dos Santos, 19 anos.
- Nicolas Kovaleski, 16 anos.
- Tiago de Lima Ribeiro, 21 anos.
Eram de Paracatu, e Patos de Minas, Minas Gerais, mas moravam há um mês na Grande Florianópolis, com familiares.
Por: G1