Os dois primeiros anos do terceiro governo Lula

Os dois primeiros anos do terceiro governo Lula
O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva Foto: (REUTERS/Adriano Machado)

Próximo de completar o segundo ano de seu mandato, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) conseguiu avançar em algumas de suas promessas de campanha, como conceder aumento real ao salário mínimo, reajustar o Bolsa Família para R$ 600 e aprovar uma reforma tributária, após mais de 30 anos de discussões no Congresso Nacional.

No entanto, a gestão também enfrenta desafios significativos: o dólar acima de R$ 6,00, a inflação, que segue acima do teto da meta, e a desconfiança do mercado em relação aos gastos públicos. Esses problemas impactam a popularidade de Lula, que, de acordo com o Datafolha, vive seu pior momento desde 2023. 

Na visão de Aod Cunha, economista e ex-Secretário da Fazenda do Rio Grande do Sul, o governo petista teve pontos positivos e negativos na área econômica. Entre os positivos, ele menciona o novo arcabouço fiscal, cujo objetivo principal é garantir uma previsibilidade para as contas públicas, a reforma administrativa e a baixa taxa de desemprego — 6,4%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Negativamente, Aod destaca o aumento dos gastos públicos, fator que preocupa o mercado financeiro. “Falta uma clareza por parte do governo em demonstrar como pretende controlar o crescimento dos gastos. Por conta disso, vemos uma determinação muito rápida nas expectativas de inflação e as taxas de juros subindo”, explica.

Lula versus Congresso

O Planalto tem também no Congresso um de seus calcanhares de Aquiles. Embora tenha atendido interesses de partidos como União Brasil, PP, Republicanos, MDB e PSD, que juntos comandam dez pastas no governo, Lula tem acumulado sucessivas derrotas nas Casas Legislativas — a última delas, a desidratação do pacote de contenção de gastos, após novo embate entre os Poderes, em boa parte influenciado pela medida do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Flávio Dino, que impôs condições e regras de transparências para as emendas parlamentares.

Para Carlos Pereira, professor de Ciência Política da Fundação Getulio Vargas (FGV), o compartilhamento de poder e recursos entre as legendas que compõem o Executivo prejudica a relação com a Câmara e com o Senado.

“O PT tem mais ministérios do que seus principais parceiros, e o tamanho deles é mais ou menos o mesmo no Congresso. Esses partidos ficam sub-recompensados, e isso gera tensão permanente, porque eles tendem a querer equilibrar o jogo político, especialmente quando o presidente deseja muito alguma coisa”, explicou.

“Essas derrotas resultam em gastar mais recursos, pois esses parceiros tendem a inflacionar o preço para apoiar o governo, na tentativa de reequilibrar a distribuição desigual de recursos e poder implementado pela gestão”, acrescentou.

A iminente reforma ministerial, segundo o especialista, pode ser a chance do governo de virar o jogo e reorganizar a locação de poder e recursos.

“Assim, pode ser que o Planalto consiga ter mais sucesso nas votações e mais previsibilidade em relação ao comportamento dos aliados”, finalizou.

Por: Isto É