Pesquisa Quaest: no mercado financeiro, insatisfação com o governo dispara e pacote fiscal não agrada

Nove em cada dez executivos reprovam gestão de Lula, e 58% avaliam conjunto de medidas para cortar gastos como ‘pouco satisfatório’

Pesquisa Quaest: no mercado financeiro, insatisfação com o governo dispara e pacote fiscal não agrada
Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em reunião com o presidente Lula no Palácio do Planalto — Foto: Brenno Carvalho/Agência O Globo

Disparou entre executivos do mercado financeiro a insatisfação com o governo de Luiz Inácio Lulada Silva (PT). Nova pesquisa da série Genial/Quaest realizada com 105 executivos e economistas de fundos de investimentos com sede em São Paulo e no Rio de Janeiro mostra que 90% do grupo reprova a atual gestão federal, contra só 3% que a consideram positiva. Em março, última vez em que a sondagem havia sido feita, eram 64% os que reprovavam a administração petista, e 6% a aprovavam.

A insatisfação com o governo está diretamente ligada à percepção sobre a economia, uma vez que 96% dos entrevistados consideram que a política econômica do país está indo na direção errada — eram 71% os que tinham essa avaliação há nove meses. E 88% projetam deterioração do cenário nos próximos meses, contra só 2% que acham que haverá melhora, e 10% que pensam que o quadro econômico permanecerá como está.

Infográfico mostra resultados da pesquisa Genial/Quaest com executivos do mercado financeiro — Foto: Divulgação/Quaest
Infográfico mostra resultados da pesquisa Genial/Quaest com executivos do mercado financeiro — Foto: Divulgação/Quaest

 

O pessimismo, claro, reflete também na avaliação do trabalho do ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Caiu de 50% para 41% os que aprovam o desempenho do ministro, enquanto a taxa de reprovação dobrou: de 12% para 24%. São 61% das vozes do mercado financeiro que afirmam que Haddad tem hoje menos força do que no começo do mandato, 47 pontos percentuais a mais do que a taxa registrada em março.

A pesquisa confirma o que a disparada do dólar já sinalizava desde o pronunciamento feito pelo ministro na semana passada: que o mercado não ficou satisfeito com o pacote fiscal anunciado pelo governo. São 58% dos entrevistados os que consideram as medidas “nada satisfatórias”, enquanto 42% as avaliam como “pouco satisfatórias”. O grupo que classifica as ações como “muito satisfatórias” não alcançou sequer 1% das menções.

Apesar da insatisfação geral com o pacote de corte de gastos, 88% reconhecem que as ações de pente fino sugeridas pelo governo são favoráveis ao cumprimento da regra de gastos do arcabouço fiscal. As medidas mais apoiadas são as que se referem a benefícios concedidos a militares: o fim da ‘morte ficta’ e da transferência de pensão militar (ambas com apoio de 99%), e a fixação de uma idade mínima para a reserva remunerada de militares (considerada benéfica por 98%). Já a isenção do imposto de renda para quem ganha até R$ 5 mil por mês é amplamente rejeitada: 85% dos entrevistados avaliam que a medida será prejudicial para a economia brasileira.

A maioria dos executivos ouvidos pela Quaest (67%) diz que pretende aumentar seus investimentos no exterior agora que o pacote fiscal foi revelado, e só 30% dizem ter a intenção de manter sua posição atual, e 3% planejam diminuir o montante aplicado fora do país.

Para mais da metade dos entrevistados (58%), o novo arcabouço fiscal não tem “nenhuma credibilidade”. São 71% dos executivos os que dizem não acreditar que o governo se importa com o equilíbrio fiscal, e 86% acham que a preocupação do governo é a popularidade do governo Lula.

Também subiu de 23% para 39% o percentual dos que veem o governo com baixa capacidade de aprovar sua agenda no Congresso Nacional, enquanto 46% consideram que esse potencial é “regular”, e 15% veem as chances de aprovação dos projetos do Planalto como “altas”.

Apesar da enxurrada de avaliações negativas vindas do mercado financeiro, 78% do grupo avalia que a economia está operando acima do potencial, e a maior fatia dos executivos (42%) credita o iminente crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) pelo terceiro ano consecutivo às ações promovidas pelo governo Lula.

Só 3% confiam em Lula

O presidente da República é, dentre as lideranças avaliadas pela Quaest junto a nomes do mercado financeiro, quem menos inspira confiança. Só 3% dizem confiar “muito” em Lula, e 97% dizem confiar “pouco ou nada” no petista — mesmas taxas registradas pelo ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira. Já os mais bem ranqueados são o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto (70% confiam nele), e o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), que detém a confiança de 69%.

Tarcísio é um potencial adversário de Lula na eleição presidencial do ano que vem (70% dos executivos acham que o petista tentará a reeleição). Num eventual cenário de segundo turno entre os dois, 93% dos entrevistados dizem preferir o governador, contra 5% que declaram voto no petista.

O governador e ex-ministro de Jair Bolsonaro (PL) é o favorito do mercado financeiro para a hipótese de o ex-presidente não poder se candidatar — a maioria (55%), inclusive, acha que Bolsonaro será preso. Já no caso de Lula não for o candidato da esquerda, a maioria dos entrevistados (82%) acham que Haddad deve ocupar esse espaço pelo campo da esquerda.

A pesquisa foi realizada entre 29 de novembro e 3 de dezembro a partir de entrevistas online com gestores, economistas e analistas do mercado financeiro.

Por: O Goobo