PF faz operação contra pesca ilegal e prende mais três suspeitos de ocultar os corpos de Bruno Pereira e Dom Phillips
Um dos detidos é Amarílio de Freitas Oliveira, o Dedei, que é filho de outro réu no caso, Amarildo da Costa Oliveira, o Pelado. Operação investiga associação criminosa de pesca ilegal na região em que indigenista e jornalista foram assassinados no início de junho.
Uma operação da Polícia Federal prendeu, neste sábado (6), cinco suspeitos de integrar uma quadrilha de pesca ilegal em áreas indígenas do Vale do Javari, na Amazônia. Três deles já tinham sido indiciados por envolvimento na ocultação dos corpos do indigenista Bruno Araújo Pereira e do jornalista britânico Dom Phillips, assassinados em 5 de junho na região.
Entre os detidos detidos, há três familiares de Amarildo da Costa Oliveira, o Pelado. Preso desde 7 de junho, ele confessou participação no crime e é um dos réus no caso.
Agentes da polícia se infiltraram em uma festa em Atalaia do Norte, cidade onde fica a maior parte do território do Vale do Javari, para prender de madrugada Amarílio de Freitas Oliveira, de 21 anos. Conhecido como Dedei, ele é filho de Amarildo, que teve ainda dois irmãos detidos na operação deste sábado (veja detalhes abaixo).
Bruno e Dom foram mortos a tiros e tiveram os corpos queimados e enterrados. A investigação concluiu que o indigenista foi assassinado por combater a pesca ilegal no Vale do Javari, que é a segunda maior terra indígena do país e enfrenta conflitos típicos da Amazônia: tráfico de drogas, roubo de madeira e avanço do garimpo. O jornalista morreu porque estava junto com Bruno.
A dupla retornava de barco de uma comunidade ribeirinha quando sofreu uma emboscada no rio Itaquaí. A polícia afirma que Bruno e Dom foram perseguidos e alvejados por Amarildo e Jefferson da Silva Lima, que é conhecido como Pelado da Dinha, está preso desde 18 de junho e confessou participação no crime. Além deles, em 14 de junho foi detido Oseney da Costa de Oliveira, o Dos Santos, que é irmão de Amarildo e nega as acusações.
Os três são réus pelos crimes de duplo homicídio qualificado e ocultação de cadáver. Outras cinco pessoas respondem em liberdade pelo crime de ocultação de cadáver.
Bruno era servidor licenciado da Fundação Nacional do Índio (Funai) e, segundo a União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja), recebia constantes ameaças de madeireiros, garimpeiros e pescadores.
Segundo o jornal britânico "The Guardian", do qual Dom era colaborador, o repórter estava trabalhando em um livro sobre meio ambiente. Ele morava em Salvador e escrevia reportagens no Brasil fazia mais de 15 anos.
Quadrilha de pesca ilegal
Para a operação deste sábado, a Justiça Federal expediu ao todo sete mandados de prisão preventiva e 11 de busca e apreensão nas casas de suspeitos de fazerem parte da quadrilha. Todos os suspeitos foram presos.
De acordo com a PF, a ação buscava integrantes de uma quadrilha que atua na pesca ilegal no Vale do Javari e se concentrou em comunidades ribeirinhas de Atalaia do Norte e Benjamin Constant, município vizinho que fica na fronteira com o Peru e perto da Colômbia.
Um dos alvos era o próprio Amarildo, além de dois de seus irmãos e de seu filho. Outro era Rubens Villar Coelho, o Colômbia, apontado como chefe do bando e preso em 8 de julho por uso de documento falso, ao se apresentar à PF para negar o envolvimento nas mortes de Bruno e Dom. Na ocasião, ele portava três identidades, cada uma de um país.
Amarildo e Colômbia passaram a responder pelo crime de pesca ilegal, da além da morte de Bruno e Dom.
Segundo as investigações, a quadrilha de Colômbia é suspeita do assassinato, em setembro de 2019, do agente da Funai Maxciel Pefeira dos Santos, ocorrido em Tabatinga. Parceiro de Bruno, Maxciel também combatia a pesca ilegal no no Javari e foi responsável por grandes apreensões de carregamentos de peixes, motivo pelo qual teria sido morto.
Segundo informações do blog da Andreia Sadi, as investigações apontam que Colômbia fornece barcos, motores e insumos como adiantamento do pescado ilegal no Vale do Javari.
As investigações apontam ainda que os envolvidos vivem da prática da pesca ilegal (principalmente de pirarucu e tracajá, inclusive durante a época de defeso) e andam armados. Depoimentos indicam que os integrantes do bando pressionam os pescadores que têm seus pescados apreendidos por fiscalizações e ações policiais.
Fonte: G1