PIB cresce 0,9% no terceiro trimestre, com consumo e investimento

Desemprego baixo, oferta de crédito e benefícios sociais impulsionam apetite das famílias. Agropecuária é o único setor que tem retração no período. Resultado de 2023 é revisado para cima

PIB cresce 0,9% no terceiro trimestre, com consumo e investimento
Consumo das famílias ajudou a puxar o PIB — Foto: Hermes de Paula/Agência O Globo

A economia brasileira seguiu em ritmo de crescimento no terceiro trimestre. O Produto Interno Bruto (PIB, valor de todos os produtos e serviços gerados na economia) avançou 0,9% sobre o segundo trimestre, informou o IBGE nesta terça-feira. O avanço do consumo das famílias e dos investimentos impulsionaram a atividade econômica.

O resultado veio em linha com as projeções, que apontavam para um crescimento de 0,8%, segundo pesquisa com analistas e mercado feita pelo jornal Valor, o que corrobora as estimativas de um crescimento acima de 3% em 2024.

Antes do resultado do terceiro trimestre ser divulgado, as projeções captadas na edição mais recente do Boletim Focus, pesquisa do Banco Central (BC) com analistas de mercado, apontavam para um crescimento econômico de 3,2% este ano.

O IBGE também revisou para cima o crescimento do PIB em 2023, de 2,9% para 3,2%. O instituto costuma fazer revisões mais amplas no terceiro trimestre.

Consumo cresce com mercado de trabalho forte

Assim como no primeiro semestre do ano, o consumo das famílias se manteve como motor da economia, pelo lado da demanda. Cresceu 1,5% na comparação com o segundo trimestre e 5,5% em relação a igual período do ano passado.

A sequência de altas no consumo das famílias somou 13 trimestres seguidos, sempre na comparação do trimestre com o período imediatamente anterior. Essa sequência foi iniciada no terceiro trimestre de 2021. É a maior sequência desde 2005 a 2008.

Segundo a economista Silvia Matos, coordenadora do Boletim Macro, do FGV Ibre, o impulso no consumo foi dado pela força dos mesmos motores dos últimos trimestres: o bom momento do mercado de trabalho, com o desemprego nas mínimas históricas, o avanço do crédito e os gastos do governo com Bolsa Família e programas sociais cujos pagamentos são atrelados ao salário mínimo, que saem ganhando com a regra que garante reajustes reais.

Os investimentos, que já haviam se destacado no trimestre anterior, também se sobressaíram, com expansão de 2,1% sobre o período de abril a junho. Na comparação com o terceiro trimestre de 2023, o salto foi de 10,8%, mesmo com os juros em alta.

Investimento tem 4 trimestres seguidos de alta

Na comparação com os três meses anteriores, os investimentos emplacaram quatro trimestres seguidos de avanços nessa base de comparação. É a mais longa sequência positiva desse tipo desde 2011.

Do segundo trimestre de 2009 ao quarto trimestre de 2011, a Formação Bruta de Capital Fixo (medida dos investimentos no PIB) subiu ininterruptamente por 11 trimestres. De 2012, começou a registrar um vaivém, até a economia entrar em recessão, em 2014.

Nem mesmo entre 2020 e 2021, na recuperação do tombo provocado pela Covid-19, houve sequência tão longa de altas.

Um dos sinais de ampliação de investimentos é a compra de máquinas e equipamentos no exterior. As importações de bens e serviços cresceram 1% na comparação trimestral, segundo o IBGE. Já as exportações caíram 0,6%.

Indústria de transformação é destaque

Pelo lado da oferta, os serviços, que respondem por cerca de 70% da economia, e a indústria seguiram em trajetória de crescimento. O primeiro subiu 0,9% na comparação o trimestre imediatamente anterior, liderado pelas atividades de Informação e comunicação.

Já setor industrial avançou 0,6%, puxada pela indústria de transformação. Por outro lado, caíram os segmentos de construção (-1,7%), eletricidade e gás, água, esgoto, atividades de gestão de resíduos (-1,4%) e indústrias extrativas (-0,3%).

A agropecuária foi o único componente da oferta que teve retração, como esperado. O recuo foi de 0,9%, o que ainda reflete os efeitos da seca sobre as plantações.

Sinais de desaceleração

Embora a alta do PIB do terceiro trimestre represente uma desaceleração em relação ao rimo do segundo trimestre, está longe de ser a freada que chegou a ser esperada por economistas no início de setembro.

À medida que os dados mensais da indústria, do varejo e dos serviços de julho, agosto e setembro foram sendo divulgados, a ideia de freada ficou para trás. As estimativas do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), por exemplo, começaram em alta de apenas 0,1% para o PIB do terceiro trimestre.

Para Silvia, apesar da surpresa positiva, a economia já dá sinais de aquecimento excessivo, que aparecem na inflação pressionada. Com um cenário externo mais turbulento, diante da eleição de Donald Trump como presidente dos EUA, o aquecimento excessivo poderá exigir juros mais altos, que poderão provocar uma freada ainda mais forte na economia.

— É positivo o PIB (em ritmo maior de alta), mas é aquela coisa, o custo já apareceu, não veio de graça, não tem almoço grátis — afirmou Silvia.

Fonte: Globo