Polícia identificou cerca de 30 pacientes anestesiadas por Giovanni Bezerra
Investigadores querem saber se há mais vítimas de abusos; até agora, há suspeitas de que seis mulheres teriam sido estupradas
A Polícia Civil identificou cerca de trinta pessoas que foram anestesiadas por Giovanni Quintella Bezerra, de 31 anos, em diferentes unidades hospitalares. A investigação continua buscando a lista de todos os pacientes que foram atendidos pelo médico em procedimentos realizados de abril para cá, quando começou a atuar como anestesista, para tentar encontrar outro relatos de abuso.
“Nós precisamos investigar. Primeiro, fazer uma triagem, saber qual foi o tipo de procedimento, o que aconteceu. E aí vamos aprofundando”, explicou a delegada responsável pelo caso, Bárbara Lomba.
Até agora, a delegada acredita que seis mulheres tenham sido violentadas pelo anestesista. Entre elas, a que aparece no vídeo que flagrou a ação de Bezerra no último domingo (10). O médico é tratado pelos investigadores como um criminoso em série.
Dessas possíveis vítimas, três identificaram Giovanni Bezerra e duas são aguardadas para prestar depoimento nesta quinta-feira (14), na Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher de São João de Meriti, na Baixada Fluminense. Ambas fizeram cesarianas no mesmo dia em que o vídeo foi gravado e também teriam sido sedadas após o nascimento do bebê, no momento em que começa a sutura, parte final da cirurgia.
“Isso já está confirmado, que houve sedação. E as informações que nós já tínhamos, da equipe de enfermagem, sobre as outras duas cirurgias. Os procedimentos foram parecidos”, afirmou a delegada.
Em geral, em cesarianas, o indicado é anestesia local, a não ser que haja motivo para sedação, como a mãe estar nervosa, agitada ou caso tenha acontecido alguma complicação no procedimento.
A opção por dopar as vítimas chamou a atenção da equipe de enfermagem, que decidiu esconder um telefone celular e gravar todo o parto da terceira gestante. “Com todas essas peças conciliadas, tudo indica que a sedação era feita para a prática do estupro”, concluiu Lomba.
A Polícia espera, ainda, ouvir a vítima que aparece no flagrante e o marido dela até sexta-feira (15). Segundo os depoimentos já ouvidos, o pai da criança estava presente até o nascimento do bebê. O abuso aconteceu depois que ele saiu do centro cirúrgico com a criança.
Para não expor ainda mais o casal, essa oitiva pode acontecer fora da sede policial. A expectativa é que seja ainda essa semana, uma vez que o inquérito tem dez dias depois da abertura para ser concluído, uma vez que o médico foi preso em flagrante. A prisão, depois, foi convertida em preventiva pela Justiça.
A vítima que aparece nas imagens deixou o hospital e voltou a amamentar o bebê, depois de receber os medicamentos ministrados para vítimas de abuso. Ela conversou com a delegada pelo telefone e ficou transtornada quando soube do estupro.
“Ela está muito abalada psicologicamente. Chorou comigo no telefone, mas disse que tem condições de falar, que vai prestar declarações. Ela está bem, o filho está bem. Voltou a amamentar agora, porque ficou impossibilitada logo depois”, revelou Lomba.
A Secretaria de Estado de Saúde (SES) informou que está colaborando com as investigações, assim como todos os hospitais, públicos e privados, onde o médico atuou. Algumas unidades em que o acusado tem credenciamento como prestador de serviços estão cancelando o vínculo.
O Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro informou que suspendeu provisoriamente Giovanni Quintella Bezerra do quadro de médicos. Com isso, ele fica impedido de exercer a medicina em todo o país, até o fim do processo que pode cassar o registro em definitivo.
O Cremerj emitiu um pedido de esclarecimentos ao suspeito, que tem prazo de quinze dias para prestar as informações solicitadas.
Giovanni Quintela Bezerra está preso, isolado, em uma cela do presídio Bangu 8, no Complexo Penitenciário de Gericinó, na zona oeste da capital.
De acordo com a delegada, o médico segue sem advogado constituído no inquérito.
Novos protocolos
O governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, disse que a Secretaria Estadual de Saúde estuda novos protocolos, depois do caso de estupro no Hospital da Mulher Heloneida Studart, em São João de Meriti, na Baixada Fluminense.
“Era uma situação totalmente extraordinária. Aí tem que ver com o pessoal da medicina, o que pode ter câmera, o que não. Não adianta porque aconteceu isso a gente encher de câmera em tudo quanto é canto. Não é assim que funciona. Mas já está sendo estudada pela Secretaria de Saúde uma forma de protocolo, uma forma de capacitar melhor os profissionais”, disse o governador.
Sem detalhar quais seriam esses protocolos, Castro disse que o caso tem que servir de exemplo para se consiga aprimorar a segurança nos hospitais. “É uma situação que choca a todos nós, choca a sociedade fluminense”, afirmou o governador, destacando que o caso do médico é isolado.
“Isso não é coisa de profissional. Isso é coisa de um monstro, que estava aqui e fez uma monstruosidade. Então a gente não pode, de maneira alguma, achar que isso é uma coisa da rede, que aconteça. Não: isso é um fato extraordinário, mas que tem que servir, sim, para que a gente possa combater esse e outros casos, outras formas de maus feitos”, disse.
O governador esteve no início da tarde na unidade onde o crime foi denunciado para conversar com a direção do hospital e com a equipe médica que flagrou a ação do anestesista, no último domingo (10).
Por: CNN Brasil