Por que gigantes da tecnologia estão demitindo em massa
Empresas como Amazon e Twitter anunciaram milhares de cortes no Brasil e no mundo.
O primeiro sinal de cortes de empregos na Amazon veio de postagens no LinkedIn de funcionários demitidos. Então, o executivo da divisão de dispositivos da empresa, Dave Limp, anunciou: "É doloroso para mim, mas perderemos funcionários talentosos da área de dispositivos e serviços."
Em toda a indústria de tecnologia, em empresas como Twitter, Meta (controladora do Facebook), Coinbase e Snap, trabalhadores têm anunciado que estão "em busca de novas oportunidades".
No mundo todo, incluindo o Brasil, mais de 120 mil funcionários foram demitidos de acordo com o site Layoffs.fyi, que acompanha os cortes na área de tecnologia.
Empresas diferentes fizeram demissões por motivos distintos, mas há alguns fatores em comum.
À medida que muitas coisas migraram para o online durante a pandemia, os negócios dos gigantes da tecnologia cresceram e os executivos acreditaram que os bons tempos — para eles — continuariam.
A Meta, por exemplo, contratou mais de 15 mil pessoas nos primeiros nove meses deste ano.
Agora, os executivos que anunciam cortes dizem que "calcularam mal".
"Tomei a decisão de aumentar significativamente nossos investimentos. Infelizmente, as coisas não aconteceram da maneira que eu esperava", disse Mark Zuckerberg, diretor-executivo da Meta, ao demitir 13% dos funcionários da empresa.
Pressão de investidores por mais lucros é uma das causas — Foto: Getty Images/BBC
Mudanças no mercado
Anúncios online são a principal fonte de receita para muitas empresas de tecnologia, mas a perspectiva é de tempos difíceis à frente para o mercado de publicidade.
As empresas têm enfrentado crescente oposição a práticas publicitárias invasivas.
A Apple, por exemplo, dificultou o rastreamento da atividade online das pessoas e a venda desses dados a anunciantes.
Além disso, enquanto a economia enfrenta dificuldades, muitas empresas têm reduzido seus orçamentos para publicidade online.
No setor de tecnologia financeira, o aumento das taxas de juros para conter a alta global da inflação também atingiu as empresas.
"Tem sido um trimestre realmente decepcionante para os resultados de muitas das grandes empresas de tecnologia", diz o analista Paolo Pescatore, da PP Foresight. "Ninguém está imune."
Até a Apple sinalizou cautela, com o diretor-executivo Tim Cook dizendo que a empresa "ainda está contratando", mas "de forma cautelosa".
A Amazon atribuiu suas demissões a um "ambiente macroeconômico incomum e incerto", que teria forçado a empresa a priorizar o que mais importa para os clientes.
"Como parte de nosso processo anual de revisão do planejamento operacional, sempre analisamos cada um de nossos negócios e o que acreditamos que devemos mudar", disse a porta-voz Kelly Nantel.
"Enquanto passamos por isso, dado o atual ambiente macroeconômico (assim como vários anos de rápidas contratações), algumas equipes estão fazendo ajustes, o que em alguns casos significa que certas funções não são mais necessárias. Não tomamos essas decisões levianamente e estamos trabalhando para apoiar todos os funcionários que possam ser afetados."
Cortar o inchaço
Investidores também aumentaram a pressão para cortar custos, acusando as empresas de estarem inchadas e de serem lentas para responder aos sinais de desaceleração.
Em uma carta aberta à Alphabet, controladora do Google e do YouTube, o investidor britânico Christopher Hohn incitou a empresa a cortar empregos e salários.
A Alphabet precisava ser mais disciplinada em relação a custos, escreveu ele, e cortar perdas em projetos como a Waymo, sua empresa de carros autônomos.
Musk demitiu milhares funcionários após comprar o Twitter — Foto: Getty Images/BBC
Elon Musk certamente acredita que há espaço para cortar custos em seu mais recente investimento, o Twitter, que enfrentava dificuldade para gerar lucro e atrair novos usuários.
Além disso, muitos analistas argumentam que Musk pagou um valor maior do que a empresa vale e há pressão para fazer o investimento valer a pena.
O bilionário demitiu metade dos cerca de 7.500 funcionários da empresa. E, para aqueles que permaneceram, a carga de trabalho ficou muito maior.
De acordo com relatos da imprensa americana na terça-feira (15), Musk disse aos funcionários que eles precisavam se comprometer com uma cultura de "longas horas de trabalho em alta intensidade" ou sair da companhia.
Na quinta (18), após relatos de que mais de mil trabalhadores teriam optado por deixar o Twitter, os funcionários da rede foram avisados abruptamente que os escritórios da empresa seriam fechados até domingo (20), mas o motivo para isso não está claro.
Fim dos bons tempos
O analista Scott Kessler diz que há menos tolerância para grandes gastos em apostas de alta tecnologia, como realidade virtual ou veículos autônomos, que podem não compensar no curto prazo.
Os investidores também consideram insustentáveis os altos salários e as regalias que alguns desfrutam no setor.
"Algumas empresas tiveram que enfrentar duras realidades", diz ele.
Mike Morini, da WorkForce Software, que fornece ferramentas de gerenciamento digital, afirma que o momento parece ser um ponto de virada.
"A indústria de tecnologia está saindo de um período de crescimento a todo custo", diz ele.
Mas, embora as grandes empresas de tecnologia possam estar passando por um momento desfavorável, elas não estão quebradas.
As 10 mil demissões propostas pela Amazon em funções corporativas e de tecnologia — seu maior corte de vagas até o momento — representam apenas 3% de sua equipe administrativa.
E as demissões também podem ser o início de novos negócios, à medida que funcionários talentosos, dispensados pelas grandes empresas, criam novas startups ou reforçam o time das que já existem."Não vou descartar o Vale [do Silício, região da Califórnia onde estão localizadas as maiores empresas de tecnologia] por enquanto. Ainda tenho muita esperança", disse o veterano observador do Vale do Silício, Mike Malone, à BBC.
- Este texto foi publicado em https://www.bbc.com/portuguese/geral-63669681
Fonte: G1