Porto que desabou no AM, deixando 2 desaparecidos e 10 feridos, foi construído em local inadequado, diz especialista

Caso é investigado pelo Ministério Público do Amazonas, que começou a coletar provas e orientou a adoção de medidas urgentes para garantir apoio a todas as vítimas.

Porto que desabou no AM, deixando 2 desaparecidos e 10 feridos, foi construído em local inadequado, diz especialista
Reprodução

Porto da Terra Preta, localizado em Manacapuru, no interior do Amazonas, foi construído em um local inadequado para uma estrutura de grande porte. A afirmação é do coordenador do Laboratório de Análise do Solo da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Fábio Sabbá.

Na segunda-feira (7), um deslizamento de terra na área deixou um adulto e uma criança desaparecidos, além de dez feridos, segundo a última atualização do governo estadual. As buscas pelas duas vítimas desaparecidas na tragédia serão reiniciadas nesta quarta-feira (9).

À Rede Amazônica, Fábio Sabbá afirmou que o local, onde funcionava o porto e abriu uma cratera, não é adequado para receber uma estrutura daquele tipo.

"Terra preta de indígenas é um solo de origem antrópica. Não é adequado para construção desse tipo, como um porto, mas é excelente para plantio. É como se você fosse fazer um aterro para sua casa, rodovia, e usasse materiais que vão ser degradados, decompostos ao longo do tempo. Com o tempo, ele vai se decompondo e criando vazios lá dentro", explicou.

O caso está sendo investigado pelo Ministério Público do Amazonas (MPAM), que iniciou a coleta de provas e orientou a implementação de medidas urgentes para garantir assistência a todas as vítimas.

Segundo a Prefeitura de Manacapuru, a tragédia não foi mais grave porque a cidade estava em ponto facultativo após as eleições municipais, realizadas no domingo (6), resultando em menor movimentação no porto em comparação a dias normais.

O governo do Amazonas formou uma força-tarefa para ajudar as vítimas e procurar os desaparecidos. As causas do deslizamento ainda não foram esclarecidas, e as autoridades aguardam a perícia no local.

O especialista também mencionou possíveis causas do deslizamento de terra. Segundo ele, o aterro realizado naquela área, combinado com a vazante do rio e as chuvas recentes, pode explicar o ocorrido. Além disso, Sabbá ressaltou que a água do rio exerce pressão sobre o solo encharcado, funcionando como uma forma de sustentação.

"Quando o nível dos rios baixa, a água do solo não desce na mesma velocidade, o que faz com que ele fique pesado. Aí as rachaduras começam a aparecer. O solo então não aguenta o peso, e a terra desmorona, levando junto tudo o que estiver no caminho", complementou.

O professor também alertou sobre a importância de observar os sinais que podem prevenir novas tragédias.

"Esse tipo de deslizamento provoca a formação de trincas ao longo do tempo. Ele envia sinais... essas trincas geralmente são finas, de apenas alguns centímetros de largura, mas podem se estender por longas distâncias ao longo da margem do rio."

O Porto da Terra Preta é de responsabilidade do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), que se comprometeu a emitir um relatório sobre o incidente.

A perícia da Polícia Civil, acompanhada pelo Corpo de Bombeiros, esteve no local do deslizamento para realizar uma análise detalhada das causas. Esses relatórios serão essenciais para a investigação em andamento e poderão fundamentar futuras ações do Ministério Público.

Desaparecidos e feridos

A menina desaparecida é Letícia Correia de Queiroz, de 6 anos. A casa flutuante onde ela vivia com a família foi levada pelo deslizamento do barranco. No momento do acidente, Letícia estava com dois irmãos mais velhos, que conseguiram se salvar.

O outro desaparecido é Frank Lins Pinheiro de Souza, de 37 anos. Segundo o coronel Alexandre Freitas, do Corpo de Bombeiros Militar do Amazonas, informações das equipes de busca indicam que ambos estão no rio.

Além dos dois desaparecidos, dez pessoas tiveram ferimentos leves, oito receberam alta e duas seguem internadas no Hospital Regional Lázaro Reis, de Manacapuru, segundo o governo estadual.

Fonte: G1