Quer continuar no home office? Siga este guia ao falar com seu chefe

Especialistas em recrutamento explicam como iniciar a conversa, quais os melhor argumentos para apresentar e o que fazer em caso de resposta negativa

Quer continuar no home office? Siga este guia ao falar com seu chefe
Foto: MoMo Productions / Getty Images

A pandemia da Covid-19 fez com que uma série de empresas adotasse o trabalho remoto para que seus funcionários pudessem cumprir o isolamento social. A mudança fez sucesso entre algumas grandes companhias do mercado e pode, inclusive, continuar valendo depois da pandemia.

A gigante de tecnologia Google, por exemplo, irá permitir que os funcionários escolham o local onde querem estar durante o expediente após a pandemia. O mesmo aconteceu na área corporativa da Heineken. Essa mudança começou até a ser retratada em filmes e séries.

Trabalhar de casa nesse último ano pode até ter sido o pesadelo de algumas pessoas, mas a maioria delas parece ter gostado. Uma pesquisa divulgada pela Cisco Systems no ano passado revela que 9 em cada 10 brasileiros querem poder escolher se vão trabalhar em casa ou no escritório após a pandemia.

A parte positiva é que um estudo realizado pela Deloitte, e divulgado com exclusividade para a CNN, aponta que as empresas brasileiras estão mais preparadas para o trabalho remoto.

Se você se considera parte do time do home office e pensa em pedir ao seu chefe para seguir trabalhando de casa quando as coisas voltarem ao normal, pode seguir o guia abaixo para ter bons argumentos.

Porém, antes da conversa, é importante refletir sobre as razões pelas quais você prefere trabalhar de forma remota, os impactos que isso pode causar em seu time e se a mudança será vantajosa a longo prazo.

O CNN Brasil Business conversou com os especialistas Lucas Papa e Richard Townsend, gerentes das empresas de recrutamento Michael Page e Robert Walters, respectivamente, sobre esse assunto. 

Este é o melhor momento da carreira para trabalhar de casa?

Da mesma forma que o trabalho remoto pode trazer benefícios para o funcionário, também pode distanciar sua relação com o time. Lucas Papa explica que, por meio do contato exclusivamente online, é difícil manter a cultura de uma empresa e fazer com que funcionários se sintam integrados.

“A falta de troca presencial pode dificultar o trabalho de líderes e desgastar os empregados”, afirma. “Para funcionários que ainda estão buscando trabalhos ou promoções, o home office 100% corre o risco de fechar portas futuras”.

Procure se alinhar com a postura da empresa

A cultura de trabalho de uma companhia é fundamental para definir o modelo de produção dos funcionários. Richard Townsend analisa que, devido à pandemia, muitos empregadores aumentaram a preocupação com o nível de saúde de seus integrantes.

“Essa preocupação se reflete em flexibilidade para retorno ao escritório. Se a empresa já defende o cuidado com a saúde, é mais provável que ela aceite a proposta do funcionário”, diz.

Do mesmo modo, algumas empresas ofereceram auxílios financeiros para melhorar o home office dos colaboradores durante a pandemia. Neste caso, é mais fácil pedir pela mudança definitiva de local de trabalho, diz Townsend.

Lucas Papa também reforça a importância de observar os comunicados da empresa. Se ela já anunciou que irá manter trabalho híbrido ou que todos os funcionários deverão voltar ao escritório, é melhor esperar antes de fazer o pedido.

Escolha o momento certo para ter a conversa

É muito provável que o momento perfeito para ter esse tipo de conversa com o seu chefe nunca vá existir. Mas é importante ter em mente quais são as situações menos adequadas para isso.

“Não vale a pena falar com seu gestor após ter atrasado a entrega de um projeto, quando a empresa está passando por um momento de instabilidade ou quando os resultados foram piores que o esperado pelos líderes”, aconselha Townsend.

Se este não for o caso, também é importante marcar a reunião com antecedência, adiantar o tópico para seu chefe e planejar uma linha de argumentos. “Não se preocupe demais em quando perguntar, e sim como perguntar”.

Para preparar seus argumentos, o primeiro passo é fazer lista com todos os benefícios que o trabalho remoto pode trazer para você e para a empresa. 

“Uma boa saída é demonstrar, por exemplo, o tempo em que você está sendo produtivo em casa, e porque ele é maior que o do escritório”, orienta Lucas Papa. O receio de alguns gestores é que, com o distanciamento físico, não seja possível medir a produção.

Portanto, demonstrar que as entregas podem ser feitas com a mesma velocidade ou até de forma mais rápida no trabalho remoto é um excelente benefício.  

Richard Townsend também argumenta que muitos gestores não se preocupam só com produtividade, e sim com o relacionamento de seus funcionários. “O empregado deve apresentar estratégias para manter o contato com os clientes e com o restante do time”, diz.

Outra orientação é que, antes da reunião, seja feita uma lista com todos os trabalhos que foram desenvolvidos de forma remota e, em sequência, apresentar que a qualidade deles não foi afetada.

Não se esqueça dos desafios e de como podem ser superados

Para que a conversa seja inteligente e bem planejada, devem ser apresentados também os desafios do home office e como você pretende superá-los.

Se, em seu cargo de trabalho, é necessário fazer muitas reuniões em horários distintos, por exemplo, você pode argumentar que, estando em casa, é possível ter mais tempo disponível para encaixar estes encontros na rotina, aconselham os especialistas.

“É possível separar uma hora do dia para levar os filhos à escola e, em sequência, compensar esse tempo com a realização de trabalhos em horários nos quais você não estaria no escritório”, exemplifica Townsend. 

Outra estratégia é utilizar a flexibilidade de horário para incorporar benefícios à sua empresa. Por exemplo, um funcionário pode argumentar que, trabalhando de casa, ele tem mais horas disponíveis ao longo do dia para realização de cursos ou aprendizado de idiomas. Isso contribui para seu desenvolvimento profissional e, portanto, para a qualidade da companhia.

Crie uma ponte entre profissional e pessoal

Caso a sua motivação para trabalhar de casa esteja relacionada com aspectos pessoais, você deve incluí-la na conversa apresentando como isso impacta sua vida profissional. A principal dica dos especialistas é criar uma ponte entre as duas áreas.

Ou seja, há funcionários que gastam mais de duas horas por dia no trânsito em direção ao trabalho. Neste caso, é possível apresentar ao seu chefe que esse tempo pode ser utilizado para planejar o expediente, adiantar projetos, realizar reuniões ou, mesmo, para recarregar a energia durante as tarefas.

“As horas gastas no trânsito impactam a produtividade e a eficiência de um empregado. Por isso, podem ser bons pontos de argumentação”, explica Lucas Papa.

Outra estratégia é trazer a cultura da empresa para dentro da conversa. Se sua companhia defende a qualidade de vida dos funcionários, por exemplo, você pode relacionar este valor com o fato de passar mais tempo com seus filhos.

“Ao mostrar que isso é um benefício que te deixa mais motivado, os líderes entendem os resultados que o trabalho remoto traz à empresa”, defende Townsend.

Negocie

Ainda que você apresente todos os tópicos, não é garantido que seu chefe vá concordar com a mudança, principalmente após uma primeira conversa. Por isso, Richard Townsend afirma que um funcionário precisa negociar.

Uma saída é pedir para trabalhar de forma remota em pelo menos alguns dias da semana. Depois, ao conseguir realizar boas entregas, aumentar esse número. Ou voltar a pedir para entrar em home office permanente.

“É muito mais fácil voltar ao assunto depois que você provou ser possível superar os desafios”, diz.

Esteja aberto a um modelo de trabalho híbrido

Mostrar flexibilidade em relação à empresa é um dos pontos mais importantes durante a conversa. Os especialistas concordam que manter o home office a todo momento pode prejudicar algumas relações. Por isso, se você se mostrar aberto ao trabalho híbrido, as chances de sucesso são maiores.

“O funcionário pode argumentar que está disposto a voltar ao escritório durante reuniões e eventos importantes”, pontua Lucas Papa.

Townsend também comenta que algumas pessoas podem não ficar confortáveis em interagir numa videochamada. “De modo online, não é tão fácil realizar linguagem corporal”, diz. “É importante mostrar para seu chefe que você está aberto a frequentar o escritório quando necessário”.

Matéria: www.cnnbrasil.com.br 

Texto: Mariangela Castro, do CNN Brasil Business, em São Paulo*