Saiba como russa embarcou sem passagem e passaporte em avião em Nova York com destino a Paris
Passageira conseguiu driblar sistema de segurança aproveitando-se da grande movimentação no aeroporto durante o feriado de Ação de Graças, na semana passada
Durante o feriado de Ação de Graças, na semana passada, uma mulher russa fez o que para muitos pareceria impossível: entrou em um voo em Nova York com destino a Paris sem passaporte e muito menos cartão de embarque. Segundo os promotores à frente do caso, Svetlana Dali, de 57 anos, explorou os pontos fracos do sistema de segurança do Aeroporto Internacional Kennedy durante o período mais movimentado do ano, misturando-se à multidão de viajantes que embarcavam.
Primeiro, ela se infiltrou em uma tripulação de voo e passou por um posto de controle com eles. Em seguida, ela passou pelos funcionários da Delta Air Lines, que não pediram o cartão de embarque, e entrou em um avião lotado, segundo eles. Enquanto estava no avião, Dali tentou evitar ser detectada durante o voo de sete horas para o Aeroporto Charles de Gaulle, perto de Paris, entrando nos banheiros da aeronave.
Dali, que se acredita ter migrado da Rússia para os Estados Unidos, foi indiciada em um tribunal federal no Brooklyn, em Nova York, nesta quinta-feira sob a acusação de “se esconder a bordo de uma embarcação”. Ela foi presa no Aeroporto Kennedy por agentes do FBI ao retornar na noite de quarta-feira, depois de passar cerca de uma semana sob custódia das autoridades francesas.
Dali pode ser condenada a uma pena máxima de cinco anos de prisão se for considerada culpada de se esgueirar a bordo de uma aeronave, em um incidente que levanta questões preocupantes sobre a segurança nos aeroportos. O juiz Robert Levy ordenou que ela ficasse detida até as 14h desta sexta-feira enquanto sua fiança era decidida e sua residência era verificada.
Promotores queriam garantir que ela tivesse uma residência estável, disse Brooke Theodora, procuradora assistente do distrito leste de Nova York:
— Estamos mais preocupados com o risco de fuga do que com a natureza do crime.
Em outros dois processos separados na qual foi citada no mês passado, em dois tribunais diferentes, Dali forneceu dois endereços residenciais: um na Filadélfia e outro em Washington D.C. Uma das queixas, rabiscada com tinta, afirma que ela foi vendida por US$ 20 mil em 2014 por um funcionário do governo russo.
Dali foi escoltada até a sala de audiências nesta quinta-feira, vestindo uma jaqueta preta com zíper até em cima e seu cabelo loiro platinado em um corte assimétrico. Ela se sentou entre seu advogado, Michael Schneider, e um intérprete russo, ocasionalmente fazendo careta para os repórteres sentados na galeria.
Schneider disse que a acusação que ela enfrentava era relativamente pequena, “semelhante a roubo de serviços ou pular uma catraca”. Ele acrescentou:
— Ela passou pela segurança, passou pelo magnetômetro. Portanto, não parece haver nenhum risco de que ela tenha contrabandeado algo para dentro do avião.
Schneider acrescentou que Dali havia solicitado asilo na França. O advogado afirma que ela “acredita que foi envenenada” em algum momento nos últimos dias, passando a noite vomitando e chegando a perder a consciência enquanto estava detida no Centro de Detenção Metropolitana (MDC, na sigla em inglês) no Brooklyn.
— Ela acredita que se passar a noite no MDC novamente, sua vida estará em perigo — disse Schneider.
Os promotores disseram que Dali chegou ao Terminal 4 do Aeroporto Internacional Kennedy na noite de 26 de novembro, dois dias antes do Dia de Ação de Graças, e em cerca de 10 minutos tentou entrar em uma fila de triagem de segurança. Ela foi rejeitada por não ter apresentado um cartão de embarque, segundo eles.
Dali tentou novamente, dessa vez em uma fila especial para tripulações de voo, onde se misturou a um grande contingente da Air Europa, uma companhia aérea espanhola, disseram os promotores. Ela foi examinada em busca de armas e outros itens proibidos junto com os passageiros com passagens, disseram eles.
Cerca de 90 minutos depois, ela embarcou no voo da Delta, passando por agentes que estavam ocupados ajudando outros passageiros e que não a pararam ou pediram seu cartão de embarque, disseram os promotores. Sua presença passou despercebida até o avião se aproximar de Paris.
— Foram muitas falhas em um único dia — disse Mary Schiavo, ex-inspetora geral do Departamento de Transportes dos EUA. — O sistema teve sorte por ela aparentemente não ter a intenção de causar danos ao avião ou aos passageiros.
Quanto à alegação da Administração de Segurança dos Transportes de que havia garantido que Dali não estava carregando nenhum item proibido, Schiavo respondeu que “ela era o grande item proibido”.
Antes da aterrissagem, um membro da tripulação do voo percebeu que Dali não tinha um assento e pediu seu cartão de embarque. Quando ela não apresentou o cartão, a Delta notificou as autoridades policiais francesas de que havia uma passageira clandestina no avião, segundo os promotores.
Dali foi detida pela polícia francesa antes de entrar na alfândega e, por fim, ordenada a retornar aos Estados Unidos.
Seu retorno exigiu algumas tentativas. Ela foi levada para um avião da Delta no sábado, 30 de novembro, mas foi retirada antes da decolagem por agir de forma perturbadora, segundo um funcionário da aviação.
Uma segunda tentativa, em 3 de dezembro, foi abortada quando a Delta se recusou a deixá-la permanecer a bordo de um de seus aviões. Um porta-voz da Delta, Morgan Durrant, não quis explicar a objeção da companhia.
Em uma declaração, a Delta agradeceu às autoridades francesas e americanas por sua assistência e disse que a violação da segurança da companhia aérea por Dali resultou de um “desvio dos procedimentos padrão” e que uma revisão determinou que sua infraestrutura de segurança era “sólida”.
Por: O Globo