Trânsito de veículos nos trechos onde pontes caíram na BR-319 será retomado até a próxima semana, diz governador do AM
A queda das estruturas tem afetado mais de 100 mil pessoas e provocado desabastecimento de alimentos e remédios em três municípios do estado.
O governador Wilson Lima afirmou, neste sábado (15), que o trânsito de veículos nos trechos onde as duas pontes caíram na BR-319 será retomado até o fim da próxima semana, segundo foi comunicado pelo Departamento Nacional de Trânsito (Dnit). A queda das estruturas tem afetado mais de 100 mil pessoas e provocado desabastecimento de alimentos e remédios em três municípios do estado.
A declaração ocorreu durante coletiva de imprensa, realizada no Centro Integrado De Comando e Controle (CICC), em Manaus. Na ocasião, o governador também destacou que caso a situação do trânsito não se resolva até o prazo informado pelo Dnit, serão disponibilizadas estruturas para garantir o transporte aquático das produções dos pequenos produtores.
Em um intervalo de 10 dias, duas pontes desabaram na rodovia federal - a principal via de acesso terrestre do Amazonas para outras regiões do país.
- No dia 28 de setembro, a ponte sobre o Rio Curuça despencou, deixando quatro pessoas mortas e mais de 10 feridas. Uma pessoa segue desaparecida.
- Já no dia 8 de outubro, a apenas 2 quilômetros do local onde ocorreu o acidente, a ponte sobre o Rio Autaz Mirim desabou poucas horas após ser interditada. Ninguém ficou ferido.
Na semana passada, o órgão federal anunciou medidas para retomar provisoriamente a trafegabilidade nos dois pontos: no local do primeiro acidente o transporte será realizado por meio de balsas. Já no segundo trecho, equipes do Dnit realizam um trabalho de soterramento no leito do Rio Autaz Mirim, para ligar uma margem à outra.
Moradores desapropriados
Por conta da intervenção no leito do Rio Autaz Mirim, uma casa e um comércio serão desapropriados. Na quinta-feira (13), uma equipe da Prefeitura do município de Careiro da Várzea comunicou quais imóveis devem ser desapropriados.
A casa de Francinaldo Oliveira da Silva, e o pequeno comércio da mãe dele, Maria Edith Oliveira da Silva terão que ser retirados em um prazo de três dias. Ela é moradora do local há 40 anos e tem o comércio há cinco anos.
"Aqui, 50 metros são do Dnit. Nós fizemos nossa casa aqui porque meu amigo arranjou esse pedacinho aqui para fazermos. Foi um choque. Eu não esperava. Falaram para mim que não vai ter indenização. Se essa ponte não cai, eu ia ficar aqui pelo resto da vida", lamentou Maria Edith.
Por meio de nota, o Dnit informou que a desapropriação da casa e comércio vai acontecer para a execução dos acessos e do desvio para uma "passagem seca" na região.
Desabastecimento em três municípios
O governador Wilson Lima (União Brasil) decretou na segunda-feira (10) situação de emergência nos três municípios diretamente atingidos pela queda das pontes: Careiro da Várzea, Autazes e Careiro.
De acordo com o governo estadual, há desabastecimento de alimentos, remédios e combustíveis. Também há risco das cidades ficarem sem energia elétrica. Cerca de 100 mil pessoas estão sendo afetadas após os acidentes.
"Temos ali a questão do escoamento da produção, desabastecimento de alimento, de remédio, de combustíveis. É importante a questão do combustível, porque esse combustível é que faz funcionar as térmicas. Então, há um risco de que em algum momento isso aconteça, e a gente espera que isso não aconteça, de que alguns desses municípios possam ficar sem energia elétrica", afirmou Wilson Lima, na semana passada.
Histórico e problemas
Criada durante a Ditadura Militar, a BR-319 surgiu com a proposta de integrar o Amazonas ao restante do país, mas sofre há décadas com falta de estrutura para tráfego. Durante a campanha eleitoral de 2018, o presidente Jair Bolsonaro (PL) prometeu asfaltá-la.
Passado mais de três anos e meio desde que Bolsonaro assumiu o cargo, a promessa de asfaltamento da BR-319 ainda não saiu do papel.
Questionado logo após a queda da ponte sobre o Rio Curuçá, o Ministério da Infraestrutura disse ao g1 que a declaração feita em 2019 por Bolsonaro "refere-se ao asfaltamento do lote C da BR-319/AM, que fica a aproximadamente 200 quilômetros do local do incidente [ponte sobre o Rio Curuçá]", embora o presidente e a pasta não tenham deixado isso claro à época.
"O trecho de 405 quilômetros conhecido como "trecho do meião" recebeu em 28 de julho a licença prévia ambiental para as obras de reconstrução e pavimentação. Emitida pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), o documento aprova os estudos e viabilidade ambiental das obras. O próximo passo é a licença de instalação, que permitirá a contratação da obra, de acordo com as especificações constantes nos planos, programas e projetos aprovados pelo Ibama", diz o restante da nota.
Inaugurada em 1976, a BR-319 é conhecida pelos diferentes problemas enfrentados ao longo dos anos. Trafegar pela estrada que liga a capital do Amazonas às outras regiões do Brasil é sempre um desafio para os motoristas.
Atoleiros na BR-319 — Foto: Rede Amazônica
Grande parte da rodovia segue imprópria para o trânsito de veículos em meio a impasses ambientais e burocráticos. São cerca de 800 quilômetros que separam Manaus de Porto Velho (RO), uma distância que poderia ser percorrida em 12 horas de carro. A recuperação da área está estimada em R$ 1,4 bilhão.
A rodovia possui diversos trechos danificados e não tem pavimentação em quase toda a sua extensão, o que provoca atoleiros "gigantes" no período chuvoso. Já no período de estiagem, os motoristas reclamam de outros problemas: buracos e poeira. Em alguns casos, crateras se abrem em trechos.
Na parte de Manaus, a rodovia já é um desafio logo no início, já que ela começa dentro do Rio Amazonas, numa área próximo ao bairro Distrito Industrial e ao famoso Encontro das Águas dos rios Negro e Solimões.
Para partir do Amazonas em direção a Rondônia pela BR-319, pedestres e moradores se deslocam até um porto chamado "Ceasa". Desse porto, pedestres entram em embarcações - barcos, lanchas e balsas - e motoristas, incluindo caminhoneiros, embarcam em balsas. É que todos os usuários da estrada precisam atravessar o rio para chegar à faixa de terra do outro lado, onde fica a área da ponte sobre o Rio Curuçá, a primeira que caiu. O trajeto dura, em média, 45 minutos.
Por: G1 Amazonas